Epílogo

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A viagem até Washington tinha me feito mal.

Foram umas 8 horas de voo saindo da cidade de Virginia, e Christopher resolveu tudo pra mim, além de me acompanhar. Obviamente, não estava com cabeça pra nada...

Eu estava muito preocupado com o meu pai e voltar para aquele lugar, o qual guardava tantas lembranças pesadas como uma nuvem de tempestade, era demais pra mim.

Nauseado e com uma enxaqueca terrível, eu segurava a mão esquerda do meu pai, limpando as lágrimas do meu rosto enquanto ele estava deitado na maca do hospital.

— Pai, por que não me avisou antes que estava com uma doença terminal?

— Eu não queria te preocupar e... — ele tossiu. — E nem te incomodar, atrapalhar sua vida.

— Que atrapalhar!? — respondi, assustado diante de tamanha afirmação. — Você é meu pai, me preocupo com você. 

— Isto é mesmo verdade? — me olhou com tristeza nos olhos e meu coração quebrou ao meio. 

Engoli seco.

— Claro. — respondi. 

— Então por que sempre esteve tão distante? 

Minha reação foi soltar um riso curto e sarcástico, deixando cair minhas mãos sobre as minhas pernas e joguei a cabeça pra trás. 

— Eu me distanciei? — perguntei.

— Tudo bem, talvez nós dois tenhamos nos distanciado... — falou e tossiu mais uma vez. 

— Pai, você se distanciou primeiro. Depois que descobriu que eu era... — não sei bem porque, mas paralisei momentaneamente. Talvez de lembrar da época que isso aconteceu.

— Gay. — ele completou.

— E também depois que a mamãe morreu. 

Ele fechou os olhos e suspirou longamente. 

— Eu também sinto falta dela, Arthur. — ele disse. — Sinto muito a falta dela. 

— Eu imagino. 

— Ter descoberto sua sexualidade foi algo estranho, que eu nunca soube lidar muito bem, mas todo esse tempo distante de você me mostrou que isso não era nada de importante, muito menos errado, e que eu sentia muito a sua falta. — ele desabafou comigo e me arrepiei. 

Fiquei surpreso ao ouvir aquilo tudo. 

— E por que não me disse? Por que não me ligou, ao menos, pra me dizer como se sentia?

— Ah, Arthur, tem coisas na vida que às vezes podem ser tarde demais... — explicava e me olhava com um semblante muito triste.

Segurei a sua mão novamente. 

— Não pai. — Eu disse. — Nunca é tarde demais para nada na vida. Só pode ser tarde demais, talvez, quando a gente parte da Terra. Eu estou aqui, estou ouvindo tudo.

— Eu te amo, filho. — ele desabou em lágrimas e consequentemente eu também. — Me desculpe.

— Eu também te amo. — o abracei forte. — Eu quero tanto que você fique bem...

Após tanto chorarmos juntos, abraçados e num momento de pai e filho, começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Como estava a vida dele, como estava a minha vida, o sucesso que eu estava fazendo trabalhando com administração e também sendo um escritor... ele disse que sabia e que tinha orgulho de mim. Eu chorei mais ainda. 

Dois homens, um coração (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora