Capítulo XIII - Kingston

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— Frederick! Tenha cuidado com este vaso, Lady Kingston trouxe da França! — Mrs. Coldwell velozmente foi até o filho que com a esperteza de uma raposa mexia na peça rara de porcelana. Victoria ria diante da situação e o pai do garoto prendia o riso para si.

— Frederick, vá brincar no jardim com seu irmão! Tenha piedade dos nervos de sua pobre mãe. — Riu discretamente enquanto passava as páginas do jornal e soltava pela boca a fumaça que vinha do charuto. Mrs. Coldwell veio em sua direção e com ternura depositou um beijo rápido na face do esposo.

  A casa dos Coldwell em Derbyshire era a melhor definição de paraíso que Victoria poderia ter. Os jardins extensos e quartos intermináveis, e tudo sempre permanecia impecável, sempre o mesmo desde que era uma menina. O inverno que já deveria estar indo embora cobria o exterior, e era visível através das vidraças as alterações que fazia no espaço, deixando tudo esbranquiçado, entretanto, algumas flores resistiam ao frio intenso.

  Já faziam alguns dias de sua estadia na casa, e já sentia como se estivesse em seu lar, embora a cada piscar de olhos a lembrança de seu pai viesse como vulto em sua mente. Pela noite como sonhos ou pesadelos. Se não fosse ele atormentando o seu pensamento, poderia George Deighton e David Beckley, ou até mesmo Hunt Pigeon. Naquele instante pensava em Hunt Pigeon, quando viu seu tio delicadamente retribuir o beijo de sua amada, lembrou-se dos atos de afeto para com o amigo, e um sorriso surgiu em seu rosto.

— O que houve Victoria? Por que a felicidade? — Perguntou a tia intrigada.

— Me sinto alegre em vê-los! Seu afeto traz uma felicidade contagiante. — Tornou sua atenção para o livro qualquer que encontrou no acervo da casa quando estava sem nenhuma ocupação, e jazia sob o vestido volumoso e coberto de rendas rebuscadas que formavam flores e adornos. O livro não era tão interessante, portanto, o deixou sob a pequena mesa que encarava e vestiu um um sobretudo para a proteção do frio que alastrava o ambiente de fora.
  Flocos de neve atingiram os seus cabelos assim que pôs o pé para fora da casa, então logo viu Pollyana, a vizinha, brincar com Patrick e Frederick de algum jogo com o uso de uma bola, e pareciam estar concentrados.

— Polly; Como está? Há quanto tempo não a vejo, desde que éramos crianças!

Pollyana olhou para a neve tentando resgatar lembranças distantes.

— De fato! Quando veio naquele verão formidável de 1840! — Juntava neve em suas mãos e formava uma estrutura-base com Patrick, para o que Victoria acreditava ser um boneco de neve. Pollyana não costumava sair de sua casa; Normalmente nunca saía, apenas para a vizinhança, jamais visitaria as vilas e as lojas, sentindo o gosto da convivência urbana, da última vez que foi, teve de ser chamada de aberração pois tinha trejeitos difíceis de serem compreendidos. Victoria lembrava-se da descrição de sua tia logo no dia que chegaram: Se tornava reclusa e tinha momentos onde não preferia falar com ninguém, frágil para barulhos, quando criança girava seus brinquedos e isso sempre intrigou seus pais. Pollyana Ford era um mistério para todos que a tinham em sua convivência. Já havia ido pra exorcismos diversas vezes, mas seus pais entravam em desespero em suas preces pois não sabiam o que fazer para curá-la. Os médicos diziam que tinha retardo, mas era muito focada em tudo que fazia. Quando criança demorou para falar, e não sabia como expressar seus sentimentos, tomando atitudes precipitadas e estranhas. Aquela descrição dada pela sua tia parecia um aviso, não de perigo, mas para ser leve com Polly, pois não pensavam da mesma maneira.

— Victoria, o boneco de neve está ficando engraçado! — Falava como uma criança e Victoria tentava respeitar seu ritmo repetindo o padrão de palavras que sua tia havia a falado mais cedo. Pollyana ria descontroladamente e as crianças seguiram suas ações.

Victoria | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora