Capítulo XIV - Baile de inverno

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  Já estava há uma semana e alguns dias na estadia da casa de sua tia em Derbyshire, poderia dizer que não suportava mais nada que a rodeava. As vozes de Patrick e Frederick no pé de seu ouvido eram como veneno e a causavam agonia. Sua tia tagarelava algo sobre um assunto que não era de seu interesse, e como de costume, sua mente escapava para outro setor em busca de resgate. Não havia mais visto Edward Kingston, embora quisesse pois talvez cessasse seu tédio. Sentia extrema falta daqueles que deixou em Manchester, percebeu durante aquela semana que não era seu pai o dependente dela, e sim o inverso, pois todas as noites chorava sentindo falta de seu cheiro e de seus abraços, até mesmo dos comentários desnecessários que faria questão de corrigir na frente de todos. Pensava em Hunt Pigeon, após o ocorrido com Edward, seu nome se tornou o principal em sua mente. Lembrava de ter dito que deixou o coração em Manchester, mas aquelas palavras haviam sido cuspidas por impulso de sua boca, tinha um medo profundo de ter traduzido algum sentimento real de seu coração. Interrompeu a tia para dizer que subiria até o quarto para descansar, pois não estava se sentindo muito bem. Assim o fez, subindo a estrutura de mármore lentamente, como se estivesse prestes a cair, mesmo que estivesse com pressa para debruçar-se sob a cama e mergulhar mais ainda em seus pensamentos. Quando chegou no quarto traduziu os pensamentos e teve o deleite de deitar de forma totalmente inapropriada no colchão coberto por lençóis de seda e travesseiros de penas.
  Não poderia estar apaixonada por Hunt Pigeon, a ideia não deveria passar nem por sua cabeça, então logo a excluiu, fechando os olhos e tomando ar, rapidamente o expelindo em busca de tranquilidade em sua alma. O exemplar do Manifesto estava largado por cima da mesa onde escrevia as cartas, encarava o livro que não tivera coragem de abrir pois só trazia lembranças de seu beijo indevido. Aquele livro parecia um presente perfeito para Hunt, sua ideia pareceu genial. Assim que retornasse para Manchester o surpreenderia com aquele presente de tamanho valor!
  Mas naquele momento só poderia presenteá-lo com uma carta, que estava retardando para escrevê-la, mas o faria naquele instante, não suportava mais cobrar a si mesma daquilo que a consumia, gostaria de poder falar instantaneamente com ele.
  Sentou-se sob a mesa e afastou o livro o posicionando por cima de outro móvel que havia próximo, e com a fraca luz do sol refletida na brilhante capa da caneta que estava sendo molhada, foi permitida de iniciar a carta que tanto esperou escrever, e com êxtase, colocou a caneta sob o papel fino.

Caro Hunt Pigeon,
    
   Sinto deveras sua falta, tenho me divertido bastante aqui em Derbyshire e lamento não ter dito para você posteriormente. E se recebeu a visita de Sophie Hope ou alguém relacionado a esta senhorita saiba que fui eu que o indiquei, espero que tenha servido de algo para você! As tardes não são as mesmas sem tê-lo por perto. Tive um jantar semana passada na casa de amigos de minha tia, e temo dizer que foi o último acontecimento marcante para mim aqui, não foi totalmente agradável porém fui cortejada pelo filho mais velho da família, acredito que nada acontecerá mas há muito tempo tal coisa não ocorria comigo. Desde então estive ocupada em apenas cuidar dos garotos e conversar com minha tia, pois desde a catástrofe dos Kingston (os amigos que citei) ela não confia mais em mim para jantares! Devo me despedir no momento, e gostaria de poder estar contanto tudo isso perante aos seus olhos, mas infelizmente terá de olhar para uma folha de papel.

                     Com ternura, sua Victoria”

  Dobrou o papel da forma exata que precisava para colocar no envelope, e o fez, selando a correspondência com o selo em cera vermelha. Assim que a cera já se encontrou seca, beijou o envelope como beijaria o rosto de Hunt quando retornasse para Manchester. Escondeu entre alguns entulhos que trouxe da cidade. 

  Voltou para o andar inferior com a áurea renovada, estava em paz, finalmente. Mas pôde ver sua tia em desespero, e entrou em forma de alarme.

Victoria | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora