— Senhoritas, ele é tudo! Jamais imaginei que encontraria tais qualidades em um homem! Me surpreendo que tal ainda está solteiro. — Hannah cuspiu as palavras após por muito tempo hesitar na insistência de Victoria e de Sophie.
— Fico tão feliz por sua felicidade Hannah! Creio que tenha realmente todas essas qualidades que você apontou... Está realmente apaixonada? — Victoria estava curiosa para saber sobre aquilo, e desde que achava que Hunt jamais falaria uma grama, decidiu arrancar informações da doce Hannah. Sophie estava no mesmo êxtase e expectação das palavras de Hannah, esperava ver sua pobre criada ter uma ponta de felicidade vinda do sabor de uma juventude digna para uma mulher, escutava o diálogo com um sorriso de admiração.
— Ah, mentiria em dizer que não! Por favor não digam para ninguém, damas, temo que acreditem que eu esteja sendo atirada. — Ruborizou diante de suas próprias palavras.
— Não diremos, estávamos apenas curiosas sobre o que a fazia tão feliz, sábado passado parecia tão inquieta na presença de tal jardineiro que imaginamos que, realmente, estivesse tendo um envolvimento com ele. Estamos, de fato, felizes, minha querida — Sophie com seu caráter gentil acalmava a criada que nela se instalou um caráter nervoso. Victoria se calou, estava feliz pelos sentimentos de Hannah, poderia dizer que sim, estava, mas algo a impedida de sorrir sem que seu olhar parecesse triste, embora tentasse, pois tinha certeza que sua alegria era verídica.
Nos dias que seguiram a semana manteve o êxtase, e tentava conversar com Hannah nas visitas diárias até a residência dos Hope, e raramente tinha oportunidades de conversar com Hunt, contudo, quando tinha, procurava não explorar os assuntos sobre seus relacionamentos amorosos, apesar de ficar bastante incomodada com o fato do amigo não lhe falar uma palavra sobre a criada ou estar sujeito a uma paixão.No sábado que se seguiu, decidiu ficar em casa para acompanhar, por pelo menos um mísero dia, seu pobre pai, esperava tirá-lo daquela solidão melancólica pois George esteve atarefado nos últimos dias. Mr. Abbot teve o prazer de acompanhá-la na sala de desenhos, enquanto estava na tentativa esforçada de esboçar um vaso de flores que se estendia em sua frente, cerrou os olhos para que pudesse prestar atenção nos menores detalhes da figura de porcelana.
— Victoria, sei que não deveria duvidar de seus atos, mas o que faz durante suas visitas até Sophie Hope? — O pai perguntou com uma expressão reflexiva, empurrou o ar pela boca fazendo a fumaça do charuto ser expelida e formar uma formatos que eram como adornos.
— Tenho conversas agradáveis com Ms. Hope, papai, e muitas vezes com sua governanta, ambas damas, de fato. — Omitiu algumas informações que não seriam necessárias para que seu pai soubesse, nem ela saberia dizer se tais informações teriam impacto em sua própria vida, pois sua importância ia definhando e fazia Victoria temer que um dia desaparecesse, se arrependeu ardentemente de ter tirado Hunt Pigeon das fábricas por um instante, mas repreendeu seus próprios pensamentos após pensar que seria melhor para o homem.
— Imagino que sim, convide os Hope para jantar aqui, há tanto tempo que não temos tal momento, a presença deles deveras me agrada. — O pai pareceu não dar importância para qualquer palavra, estava perdido em seus próprios demônios, Victoria não fazia ideia de quais seriam, mas preferiu fingir que não existiam e retornou para a sua atividade inicial.
Por todas as noites pensava nas palavras anteriores de George, se repetiram como uma melodia em seu cérebro, o drama que enfrentava ao lidar com aqueles dizeres embaralhou sua mente por não poder falar nada, por não poder compartilhar aquela história tão bonita e soturna.
Pela janela de seu quarto quando sorrateiramente espiava a rua pela madrugada, via o céu estrelado, que formava as constelações, seus sonhos voavam e ponderava com os ombros apoiados no parapeito. Apesar do impacto do romance de George, Hunt e Hannah protagonizavam o salão de sua mente, e ultrapassavam a linha de sanidade. Não entendia seu próprio tormento, e aquilo batia como sinos que tinham uma sonoridade agonizante para seus ouvidos, e seu subconsciente lamentava da situação, ela só não conseguia compreender para que as lamentações se cabiam. Estava tudo bem. Quando finalmente alcançava o desejado sono, o pensamento de perder Hunt Pigeon para a criada dos Hope invadia os seus sonhos e os transformava em pesadelos que a acordavam em um pulo. A cena dramática se mantinha escondida pela máscara que utilizava assim que descia as escadarias de sua casa ainda pela manhã. Parou de lamentar e deu início a xingamentos para si mesma. “Invejosa, infeliz! Cobiçar a felicidade do próximo é um dos pecados mais repulsivos, repreenda a si mesma! Não se entregue aos venenos da serpente pecaminosa, sorria.” Repetiu o recado para si mesma diversas vezes, quando não podia dar vazão a raiva, quando os via interagindo pelas vidraças da residência Hope, sentia que seria necessária uma mordaça para conter seus ciúmes.
Não estava apaixonada por Hunt Pigeon, jamais poderia estar, se estivesse, seria um suicídio ao seus próprios sentimentos, seu coração ficaria sucumbido em dores por semanas seguidas e seu sono seria retirado, jamais fecharia os olhos novamente pois se estivesse apaixonada pelo trabalhador, nunca poderia ter uma aliança em seu dedo da forma que gostaria. Oh céus! Victoria Jane Abbot se viu em um penhasco. Percebeu que já perdia seu sono, percebeu que já estava totalmente afogada em dores e mágoas, há tanto tempo que não já teria se acostumado como uma faca apunhalada em seu peito permanentemente. Acordou do pesadelo de seus pensamentos enquanto Sophie tocava no piano uma música adorável, e sorriu em admiração, mas permaneceu perplexa diante de seus próprios sentimentos. Colocou a mão sob a renda de seu vestido e olhou para tal, gostaria de esconder a palidez que cobriu seu rosto após descobrir em si mesma, o que não deveria. E se Hunt a amasse? E se Hunt a propusesse em casamento? Não poderia quebrar o coração da pobre Hannah que estava borbulhando em paixões pelo jardineiro.
A criada sempre que passava por ela nos corredores da casa parecia estar em êxtase, sentia que estava passando por sua âncora, e aquilo fazia o coração de Victoria se quebrar em mil pedaços, sentia-se uma megera diante de uma inocente garotinha. Era uma noite formal na residência dos Hope, o seu pai também estava presente pois teriam um jantar. Há muito tempo não via a família devidamente reunida, pois estavam sempre atarefados demais para olhar no rosto um do outro, e Sophie contava novidades para a mãe como se jamais fosse vê-la novamente, e exibiu o seu talento no piano para ela com o fim de exibir seu progresso notável enquanto não prestavam atenção, e ela crescia.
A mente de Victoria estava centralizada no fato concreto de Hunt Pigeon estar no jardim, e tão próximo, não poderia tocá-lo. O prato principal havia preparado por Hannah naquela noite pois a moça que ocupava a cozinha estava enferma. Provava aquele alimento que estava delicioso imaginando o quanto Hunt iria sentir deleite em saborear aquilo todos os dias, por sua esposa.— Ms. Abbot está sendo uma presença saudável para minha Sophie com suas visitas constantes, agradeço diretamente à seu pai por permitir que ela as realize, minha menina antes foi uma garota soturna, hoje finalmente sorri! — Mr. Hope exclamou com alegria, e Mr. Abbot recebeu seu agradecimento com prazer.
— Me sinto lislongeado com seus dizeres, Mr. Hope, Victoria é uma dama extremamente benevolente e me orgulho de seu caráter, jamais me decepcionou. — Victoria engoliu a seco as palavras de seu pai. Imaginou como se sentiria decepcionado em saber de suas mentiras e de suas idas até a casa de um operário, e como se envergonharia em ter conhecimento de seus sentimentos mais puros e profundos pelo homem. E tal homem trabalhava naquele jardim, e deveria estar com cheiro de plantas.
— Obrigada papai, não faço mais nada além de seguir devidamente o caminho da fé. — Sorriu Victoria com serenidade, enquanto as palavras deslizavam de sua boca seu coração queimava. Sophie a encarou com esmero, e tinha na parte superior de seu rosto magro com uma expressão de preocupação. Victoria sentiu o rosto empalidecer e martirizou-se mais uma vez; Estava farta de não ter o volante de seus próprios sentimentos.
— Está bem Victoria? — Perguntou Sophie com sua natural delicadeza com um tom de voz sussurrado que procurava atingir apenas os ouvidos da dama da qual se dirigia.
— Estou, Sophie, apenas me senti um pouco mal em lembranças de minha mãe, elas me atingem em meus momentos mais inoportunos. — Logo, a expressão de preocupação que estampava a face de Sophie se tornou uma expressão penosa, e inclinou a cabeça para o lado e relaxou os lábios para tentar prestar conforto para uma Victoria que mentia descaradamente.
Mal pôde esperar até que aquele jantar terminasse, embora parecesse perpétuo, o relógio marcou as dez da noite e seu pai alarmou-se exclamando que já era tarde, tomando a iniciativa de deixar a casa, aliviando o coração de sua filha que se encontrava secretamente impaciente.
Quando passou pelo hall de entrada foi surpreendida pela imagem de Hannah que se posicionava ereta mas seus dedos estavam inquietos e estavam a tamborilar o avental.— Até mais, senhorita Abbot, me deseje sorte pois não suporto mais esperar uma ação da parte de Mr. Pigeon, terei febre se esperar mais! — A criada sussurrou para Victoria com sua voz fina e doce, aquilo causava tamanha agonia para a jovem que recebia a mensagem, pois não suportava enfrentar a mesma dor de Hannah, mas sabia que se Hunt tivesse de propor alguma moça entre elas seria Hannah, ela não imaginava que após abandona-lo por um mês completo da forma que fez em janeiro seus sentimentos amorosos por ela permanecessem (e se um dia existiram), e o homem conhecia os riscos que não gostaria de enfrentar até em frente a sua morte. Andava naquelas ruas junto de seu pai na volta para casa e apoiava o braço direito no dele em forma de apreço, seguiram sem ditar uma só palavra durante o percurso. Envolveu seus sentimentos em uma capa, e todos eles estavam ligados para com o medo, se dormisse durante aquela noite dormiria com o frio apesar do clima de primavera que já se aproximava do clima quente de verão, mas sua alma estava gelada, aterrorizada pela própria imagem que checou no espelho quando já havia chegado em sua casa e retirava aquelas armações pesadas pois preparava a si mesma para dormir. Naquele período de flores só gostaria de ter bons pensamentos sobre o homem que as regava de modo desajeitado no jardim dos Hope, e sua espinha se arrepiava ao lembrar de sua voz entrando e saindo de seus ouvidos de uma forma delicada porém bruta, de uma forma que apenas ele a fazia sentir, e arrependia- se totalmente de pensar nisso, pois buscava paz para atingir o sono, mas aqueles pensamentos apenas a traziam dor. Sentiu que descobrir a verdade oculta de seu coração a machucou de um modo inimaginável, e preferia que esquecesse de ter um dia sabido de tudo que passou ao lado dele, memórias infelizes que infernizam sua mente! Adormeceu atordoada, uma mulher deveria fechar a boca e agir como um anjo em suas aparências, nem todos os romances seriam como nos livros de Jane Austen, e talvez estivesse destinada ao sofrimento eterno, mesmo que não soubesse que caminho deveria tomar, não poderia ser injusta com a pobre Hannah, contudo, não poderia ser injusta com si mesma. Logo tomou uma decisão, mesmo que jamais fosse sossegar após a concretizar, estava certa de que era o correto a se fazer.
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Victoria | Completo
Historische RomaneA vida de Victoria Jane Abbot virou de cabeça para baixo com a morte de sua mãe, devido ao fúnebre ocorrido seu pai decidiu mudar de cidade, deixando as boas memórias de Victoria por 23 anos em Londres, e a preparando para construir novas memórias n...