Naquela manhã fria eu não queria sair da cama.
Meu pad piscava me avisando de algumas mensagens não ouvidas na caixa de mensagens. Não queria ouvir.
Tinha muito o que resolver e nenhuma força para me levantar.
E Andrew me olhava atento. Parecia estar realmente preocupado comigo. Mas não dissera uma palavra.
Eu me sentia morta. Não. Pior que morta. Pois tudo doía. Bem pior que depois do atropelamento. A alma doía.
Não tinha nenhum familiar próximo, nem irmãos, tios. Sabia de alguns familiares da parte do meu pai, que moravam nas Filipinas. Não fazia a menor ideia de onde.
A partir daquele momento eu estava sozinha. Absolutamente sozinha.- Preferia...
Nem terminar a frase eu consegui.Andrew me preparou o café da manhã e me levou no quarto. Deixou sobre a mesinha ao lado da cama. Já era quase duas horas da tarde e não havia tocado na comida.
- Você precisa comer.
Ele me olhava atento. Eu me virei para o outro lado. Não queria ver aqueles olhos amarelados.
Senti o colchão afundando próximo as minhas costas.
- Ei. É sério. Você precisa...
- Não quero, tá bem!? Me deixa em paz!
Ele saiu do quarto.
Naquele momento tudo o que eu queria era desaparecer, ser tragada pelo chão!
A porta do quarto abriu e vejo o androide entrando com outra bandeja, com almoço.
Ele coloca na outra mesinha e se senta na cama.
- Não vou desistir de você. Isso não está na minha programação.
Eu comecei a chorar. Sabia que ele tinha razão e que não adiantaria lutar contra tudo aquilo que estava acontecendo. Tinha que continuar. Tinha que fazer os preparativos para o funeral, arrumar os documentos. Escolher a roupa, enviar os avisos...- Preferia ter morrido...
Quando levanto os olhos deparo-me com seus olhos. Ele estava chorando. O seu led indicador estava vermelho. Como podia ser?
Me sentei na cama e segurei sua mão.- Vo-você chora?
- Você está sofrendo e eu não sei como ajudar. - me disse, sendo interrompido por um soluço- Só sei que você precisa comer. Vai ficar fraca, não sei o que fazer...
De repente me vi abraçando aquele pobre rapaz, que parecia tão perdido.
- Me desculpe, Andrew. É só uma dor de dente... - disse enquanto o abraçava com força - Vai passar...
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Atrás da tela azul
RomanceUma jovem programadora não fazia ideia de que uma simples charada seria responsável pela maior aventura de sua vida. Essa historia se passa dez anos antes do conto " Posso sentir o frio?"