Melhor amigo

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Já passaram alguns meses desde a morte de meu pai. No dia seguinte seria meu aniversário de 16 anos.  Estava pensando em como o tempo passa rápido.
Estava fazendo relatórios frequentes para a Cyberlife sobre o seu protótipo. Ou meu amigo. Às vezes eu sentia como se estivesse traindo a confiança do Andrew, agindo pelas suas costas.
- Você sabia, Andrew, amanhã é o meu aniversário!
Ele parou de lavar a louça se virou, sorrindo é limpando as mãos.
- Pretende fazer uma festa?
- Não, não estou à fim... Mas podíamos passear. O que acha?
Ele chegou bem próximo de mim. Parecia animado.
- E para onde vamos?
Naquele momento me dei conta de que ele era muito mais do que apenas uma máquina programada, ou de um assistente pessoal. Aquele rosto sorridente era o meu único amigo. O meu melhor amigo.
- Vamos ver o mar!
Havia decidido que deveríamos ir para a praia.  Pensei em Long Island. Aproveitaríamos para dar uma passada no  parque nacional de Willapa. Sempre quis conhecer. Mas seria uma longa viagem.
- Vai ser ótimo. Você precisa se divertir!
Aquele sorriso.

Comecei a organizar tudo para a viagem. Íamos em um veículo autônomo. Seria minha primeira grande viagem depois do que aconteceu com meu pai. Ainda estava triste, mas talvez o passeio ajudasse.
- Eu posso dirigir se você quiser.
- Não vai ser preciso. E não vamos passar a noite, vamos sair bem cedo, passar o dia e voltar.
Ele me olhava com curiosidade, mas parecia feliz. Me fez refletir sobre a felicidade. Uma ilusão, um estado de espírito ou um sentimento fulgaz? Ainda não tinha resposta para algo tão complexo aos 16.

Na manhã seguinte, tudo estava pronto para a viajem, ambos estávamos animados.
O veículo autônomo era bastante confortável, e enquanto percorríamos o trajeto cantávamos canções bobas, ríamos como duas crianças.
- Você sabe, apesar de possuir imagens no meu banco de dados, nem posso imaginar como deve ser o mar.
- Ah, você vai adorar! É muito lindo, e grande. E a areia é quente embaixo dos pés...
Já conseguíamos ver a praia. O dia estava ensolarado, muito bonito. Como o grande sorriso de Andrew. Já não conseguia vê-lo como uma máquina. A muito tempo ele não agia mais como uma. 
- É incrível! - dizia, com a cara grudada na janela.
- E o dia está ótimo, vamos aproveitar!

Corremos para a areia. E ficamos por lá por horas, brincando. Naquele dia eu não tinha problemas, dores, tristeza. Naquele dia eu só tinha o Andrew.

E a partir daquele dia, não enviei mais relatórios para Elijah Kamski.

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