O primeiro divergente

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Alguns dias se passaram desde a morte do meu pai. Fiquei um tempo sem ir às aulas.
Um advogado da empresa que meu pai trabalhava apareceu em casa com vários papéis para que eu assinasse. Pelo que eu entendi, meu pai tinha aplicações financeiras, investimentos na bolsa e imóveis. Eu teria que contratar alguém para organizar tudo aquilo. Mas ainda não estava pronta para pensar em tanta coisa.
Nem imaginava o que a vida ainda lhe traria surpresas.

Minha campainha tocou naquela manhã, estranhamente cedo.
Andrew atendeu e eu ouvi ele conversando com uma voz masculina. Me levantei ainda com sono e vou ver quem é.
- Olá senhorita Bricks. Ah quanto tempo...
A voz familiar de Kamski me causa estranheza.
- O que faz aqui, tão cedo?
- Posso entrar? - disse isso já adentrando à sala.
Dei com os ombros.
- Sinto muito, quanto ao seu pai. Como está indo?
Ainda estranhando o fato daquele ser ilustre estar na minha sala.
- Normal, eu acho...
Ele certamente viu o quanto eu estava desconfortável com à presença dele.
- Como o seu assistente está se saindo, digo, está lhe sendo útil?
Disse isso enquanto olhava atentamente Andrew, que sorria.
- Ele tem sido um bom amigo. Desculpe, senhor Kamski, mas se puder ir ao ponto...
Ele olhou para mim, surpreso com o meu rompante.
- Sinto que ainda temos uma tensão, talvez um ressentimento. Não quero que veja isso dessa forma. Vim exatamente para te propor uma coisa.
Fiquei furiosa! Não podia acreditar naquele cara.
- Me propor uma coisa? Que tal algo como roubar o meu código e comercializa-lo? Ou quem sabe é uma proposta de emprego?
Nesse momento eu estava gritando!
- Desculpe, não tive a intenção de ofender.
Parei, respirei e decidi deixá-lo falar.
- Você tem razão. Desculpe, mas é que ainda estou furiosa com tudo o que aconteceu, e você não foi exatamente um cavalheiro...
Ele caminhava de um lado para o outro na minha sala, cabeça baixa e com uma das mãos no queixo. Estava pensando em como me jogar a sua bomba, depois dos meus muitos mísseis.
- Preciso que você me relate comportamentos divergentes vindo do seu assistente. Qualquer coisa que você note de estranho, atitude não programada.
Achei estranho.
- Comportamento divergente? Como assim? Você acha que ele tem algum defeito?
Disse isso olhando para Andrew, que continuava sentado, semi-ativado, no sofá.
- Defeito, não. Diferença. É o primeiro protótipo com esse programa. Tem bastante personalidade. Se parece muito com você.
Me disse isso sorrindo. Me senti estranha.

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