Prólogo

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O dia nascia mais uma vez. Hélio parecia abençoar todos os dias aquela que era a nação que mais reverenciava os Olimpianos. Da mesma forma que o deus Sol abençoava a Grécia, os demais deuses pareciam gostar de "brincar" com os habitantes, e, qual maneira melhor de brincar, senão, fazendo com eles se matassem aos milhares? Porém, os gregos estavam cansados de tantas lutas. Há séculos havia uma sucessão de poder e domínio, e, há poucos anos, a guerra contra os persas havia trazido uma esperança de paz entre as cidades, afinal, tiveram de se unir para não sucumbir diante de um inimigo tão poderoso.

Da mesma forma que cresceu a união entre as cidades gregas, a velha rivalidade entre Esparta e Atenas se intensificou na mesma proporção.

Atenas, visando a princípio proteger a Grécia contra possíveis novos ataques, aliou-se às cidades gregas da Ásia Menor, fundando a Liga de Delos.

Em contra partida, Esparta - vendo que os princípios originais da Liga de Delos haviam se descaracterizado, já que Atenas tornara-se grande centro comercial e marítimo, e ainda, não permitia que as cidades aliadas obtivessem autêntica independência política, somado com um grande número de cidades manifestando revolta contra o poderio ateniense - fundou a Liga do Peloponeso em conjunto com Corinto, Mégara e Tebas.

O clima esquentara novamente na Grécia.

Temendo então um conflito armado, ambas as Ligas firmaram um acordo de paz no ano de 445 A.C. e que deveria durar por 30 anos. Na verdade, era um acordo de paz entre Esparta e Atenas, que, avaliando suas chances de vitória, preferiram à paz. Esparta, temendo que a grande riqueza que Atenas possuía pudesse ser fundamental para a manutenção da guerra por um longo período, e Atenas, temendo o forte exército terrestre espartano.

Com a paz, as duas cidades ganhavam tempo, e, com as alianças, ganhavam vantagens para combater umas as outras. Esparta com a Liga do Peloponeso podia obter recursos e bases de onde podia operar suas campanhas e assim gastar menos dinheiro com a manutenção de seu exército. Atenas, com apoio da Liga de Delos, poderia manter sua hegemonia marítima e reunir um exército com poderes suficientes para combater o temido exército espartano. Ainda assim, tal como um cristal, a paz se mostrou frágil e mais uma vez o campo de batalha iria resolver o futuro da civilização grega.

Onze anos se passaram desde a assinatura do acordo e a escalada de tensão era um prelúdio do que estava por vir na Hélade. A cidade de Epidamno, localizada às margens do Adriático, fundada por corcireus e descendentes dos coríntios, sofria havia décadas com uma guerra civil e luta com os seus vizinhos bárbaros. Quando o povo baniu os aristocratas da cidade, estes se uniram à causa bárbara e atacaram e saquearam a cidade e os habitantes ainda existentes. Como estavam fracos e sem nenhum poder de defesa, foram pedir ajuda aos seus fundadores em Córcira, uma ilha no mar Jônico. Os corcireus ouviram suas súplicas, mas não as acolheram, mandando os epidâmnios de volta desolados. Desesperados, resolveram então enviar uma delegação a Delfos na esperança de obter dos deuses uma solução ao seu sofrimento. E o oráculo se pronunciou: deveriam os corcireus entregarem sua cidade os coríntios e os receberem como chefes. Diante disso os epidâmnios viajaram imediatamente a Corinto e repetiram o que haviam ouvido do oráculo em Delfos e reforçaram o pedido para que os coríntios não apenas observassem sua ruína, mas que enviassem auxílio a sua cidade. Os coríntios aceitaram então enviar ajuda. Córcira também era uma colônia de Corinto, mas há muito não lhe rendia as mesmas honras que as demais colônias, e de fato, aquela altura já rivalizava com Corinto em riqueza e poder naval. Era a chance de colocar ordem na hierarquia das cidades.

Os epidâmnios celebraram quando uma delegação de novos colonos e guarnição chegou de Corinto, mas ao saber das novidades, os corcireus ficaram indignados. Despacharam para a antiga colônia parte de sua frota exigindo que os epidâmnios mandassem de volta os coríntios e repatriassem os aristocratas banidos. Foram ignorados e então sitiaram a cidade. Avisados, os coríntios se prepararam para guerra. Com apoio financeiro e de navios de cidades como Mégara e Tebas, Corinto enviou sua expedição para salvar sua recém-declarada colônia, mas não obteve êxito. Os corcireus ao saberem dos preparativos dos coríntios, tentaram sem sucesso negociar. Forçados a batalha, obtiveram completa vitória sobre os coríntios e seus aliados no mar. No mesmo dia Epidamno capitulou.

Durante muito tempo Corinto sentiu a derrota. Vendo Córcira dominar os mares naquela região do Adriático e assediar seus aliados, passou a construir trirremes e a recrutar remadores por todo o Peloponeso e resto do mundo grego com promessas de bons pagamentos.

Sem nenhum tratado com os outros helenos nem aliados na Ática, Beócia ou qualquer outra região da Grécia, os corcireus ficaram apreensivos. Esperar o confronto com Corinto, que os atacariam com auxílio de seus aliados, não era alternativa, e a solução encontrada foi buscar ajuda dos atenienses.

Tão logo os coríntios ficaram sabendo que os corcireus partiram para Atenas, enviaram também eles representantes na tentativa de evitar que a maior frota grega auxiliasse seu inimigo.

Reunida no Pnyx, a assembleia de Atenas ouviu os longos e contraditórios discursos. Primeiro falaram os suplicantes corcireus seguidos pelos inflamados coríntios.

Duas outras reuniões da assembleia ateniense foram necessárias para chegarem a uma decisão. Ao apertarem as mãos do corcireus, Atenas selava o seu e o destino de toda Grécia.

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