Capítulo 8

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As palavras de Otacílio ainda ecoavam na cabeça do jovem emissário. Há menos de dois dias ele ouvira do mestre: Entregue esse documento a Péricles e somente a ele. Não desvie seu caminho nem se perca na cidade, há muitos atrativos para um jovem de Esparta em Atenas, mas essa é a missão mais importante que já o incumbi e não espero estar errado sobre suas habilidades. Vá agora.

De longe ele já podia ouvir o burburinho que vinha do interior das muralhas da cidade, como o som oriundo do estômago de um dragão, cada vez mais alto a medida que se aproximava. A origem da poeira que era visível há muitos quilômetros logo foi descoberta: dezenas de carroças cheias de mercadorias entrevam e saiam pelo portão principal. Ele continuava na Grécia, mas a cada passo que seu cavalo dava em direção a Atenas, o jovem espartano percebia que o istmo de Corinto, a estreita faixa de terra que unia o Peloponeso à Ática, mais se parecia com um portal entre dois mundos.

Conduzido pela Estrada do Cemitério, o emissário pode ver uma longa série de túmulos e lápides de soldados e notáveis de Atenas enterrados fora da cidade. Ao atravessar as Portas Thriasianas, o maior portão ateniense, se deparou com um cenário totalmente novo e inesperado para ele. Atenas deve ser onde o mundo todo se reúne, imaginou.

Dentro dos muros, logo na entrada à sua direita, o jovem podia ver os encantos da Casa de Afrodite: uma série de bordéis que ofereciam prezares impossíveis de serem encontrados em Esparta. Mais adiante, sobre uma colina erguia-se um templo dedicado a Hefesto, magnífico como nenhum outro que ele já havia visto. As flores do jardim que o adornava eram tão lindas que só podiam ter sido trazidas direto dos Campos Elísios. Sem tempo para contemplá-lo como gostaria, continuou. Passando pelo Buleutério, um edifício que abrigava os quinhentos membros responsáveis pelas leis da Atenas, chegou ao monumento dedicado aos Heróis Epônimos, como Teseu, e só então se deparou com um mar de gente que ele não podia contar.

Apeou do seu cavalo e em troca de uma moeda pode deixa-lo sob os cuidados de um menino que alimentaria e daria água para o animal beber até retornasse. Estava então na Ágora de Atenas, o verdadeiro organismo vivo da sociedade ateniense. Músicos entoavam canções alegres de um lado enquanto do outro alguém lhe oferecia tecidos oriundos dos confins da Pérsia. Continuou avançando e mais e mais mercadorias e serviços eram oferecidos: podia-se encomendar a morte de qualquer pessoa da Grécia ou além, se tivesse dinheiro para isso, ou então conseguir uma arma usadas pelos Argonautas. Cerâmica, joias, vinho, carnes, azeite, parecia que não havia limite para os itens em oferta ali até que um grupo reunido em um semicírculo misturando vaias e aplausos chamou-lhe a atenção.

Chegando atrás dos últimos esticou o pescoço para ver o que estava acontecendo. Viu dois homens que pareciam em combate, mas diferentemente o que seria normal presenciar em Esparta, aqueles homens usavam as palavras no lugar dos músculos para vencer o opositor.

Não precisou disputar espaço com ninguém, seu manto escarlate denunciava sua nacionalidade e logo se viu de frente aos combatentes. O que falava no momento era um sujeito rechonchudo com a cara redonda como a lua cheia. Sua barba era grade e volumosa e os cabelos negros, mas não brilhantes. Vestia uma quíton azul marinho presa apenas no ombro esquerdo por um broche triangular dourado. Andava encarando todos nos olhos e gesticulava enquanto falava. Quando terminou ouviu-se muitos aplausos e pouquíssimas vaias.

Sócrates é o maior, comemorou dando um soco no ar o homem ao lado do jovem emissário, que o encarou por um instante. Quando retornou sua atenção aos adversários, o segundo já usava sua vez de fala.

Mais magro que o primeiro, seus cabelos grisalhos denunciavam que também era mais velho. A quíton branca que usava era presa nos dois ombros e sua voz era lenta. Andava em volta do rival, suas palavras eram ricas, mas por vezes confusas. Os presentes ouviam com atenção.

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