Capítulo 5

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Alguns dias haviam se passado desde os encontros frustrados de Pleistoânax com Arquidamo e Estenelaídas, mas o rei sabia que os ventos mudavam de direção muito rápido na Grécia, e o encontro que acabara de ter comprovava isso. Sentado à mesa do salão de reuniões em sua mansão, pode ver quando Nestor entrou no local para vê-lo.

Nestor era um sujeito baixo e franzino, não intimidava ninguém pelo seu físico nem mesmo durante sua juventude, por isso, precisou desenvolver seu lado político para prosperar, e o fez. Serviu Plistarco, filho de Leônidas e Gorgo, durante seu reinado, mas quando foi ignorado pelo rei ao avisá-lo sobre uma revolta que os hilotas estavam preparando ao aproveitar um grande terremoto que destruiu quase todas as casas de Esparta, deixou o cargo de conselheiro do rei e enviou suas preocupações ao outro rei, Arquidamo, que os acolheu e salvou a cidade. Graças a grande amizade que nutria com Pausânias, passou a acompanhar o jovem Pleistoânax, passando a conhecê-lo como ninguém. Vestia-se sempre de cinza, como eternamente de luto, talvez devido ao sumiço da esposa semanas após seu casamento. Quando a idade o alcançou, o cinza passou a combinar com sua barba rala e os cabelos escassos.

Ao cruzar com três homens desconhecidos saindo do salão, Nestor apenas os cumprimentou com um leve movimento de cabeça. Eles responderam da mesma maneira, pareciam com pressa. Um deles, Nestor tinha certeza que era de Corinto, os outros dois pareciam da Calcídica, mas ele não tinha certeza, pois não teve tempo para observá-los melhor.

− Estávamos esperando vistas? – Perguntou ao rei assim que se aproximou. Já estavam sozinhos no salão.

− Não – respondeu o rei sem emoção. − Chegaram de surpresa.

Nestor sabia que não havia verdade no que Pleistoânax respondeu. Sentou à mesa de frente ao rei esperando que ele o contasse a verdade. Atrás de Pleistoânax, preso na parede, um grande mapa com o Egeu no centro e as principais cidades e vilas da Grécia, Ásia Menor, Trácia e Macedônia estavam representadas.

− O que me disse sobre os problemas em Pela é verdade – recomeçou o rei. Ele se referia ao fato de Atenas apoiar um golpe organizado por Filipe e seu primo Derdas contra seu irmão e rei da Macedônia, Perdicas.

Perdicas governava a baixa Macedônia, e por muito tempo foi aliado de Atenas, mas quando tomou de seu irmão, Filipe, a alta Macedônia se tornando rei de todos os macedônios, irritou os atenienses que desejavam uma divisão de poder na região. Temendo uma ação militar de Atenas contra ele, Perdicas resolveu incitar os habitantes de Potidéia contra os atenienses.

Potidéia era uma cidade localizada no istmo de Palene, no norte da Grécia, integrante da Liga de Delos, mas que estava com clima hostil com Atenas. Colônia dos coríntios, recebiam magistrados de Corinto anualmente, mas depois do incidente em Córcira, os atenienses temiam que os coríntios forçassem os potideus a deixarem a Liga de Delos, enfraquecendo os cofres da cidade. Desta forma, exigiu que eles derrubassem suas muralhas e não recebessem mais os magistrados de Corinto. Os potideus não gostaram e Perdicas sabia disso.

− Perdicas é ambicioso – disse calmamente Nestor. − Ele pretende expandir o domínio macedônio na região, mas não pode contra um inimigo feito Atenas.

− Não pode, mas eu pouco me importo com a Macedônia. Nosso amigo é outro: – O rei se levantou e apontou para um ponto no alto do seu mapa. − Potidéia. Lá começa nossa guerra.

− Aqueles homens eram potideus, então? – Perguntou se referindo aos homens que encontrou ao entrar no salão do rei.

− Sim – respondeu o rei ainda de pé. − Dois deles sim, o outro era um representante de Corinto.

− Não tiveram com Arquidamo?

− Não. Não foi necessário. – Pleistoânax deixou escapar um leve sorriso.

− Péricles não vai tomar nenhuma medida muito séria contra os potideus. – Nestor também se levantou e foi em direção ao rei. − Não depois do ocorrido em Córcira. Ele sabe que sua relação com os coríntios está abalada e qualquer movimento pode acabar de vez com suas relações diplomáticas.

− Isso é verdade, mas ele sabe também que uma revolta em Potidéia poderia encorajar outras cidades da região a fazer o mesmo. A ameaça persa parece apenas um sonho distante, então, não há motivos para cada vez mais impostos. As cidades já falam em ambições pessoais de Péricles para criar um grande império ateniense.

− Potidéia terá o apoio de Esparta, então? Aliás, Potidéia não, Corinto. Foi isso que viram buscar?

− Exatamente, Nestor – o rei respondeu sorrindo e colocando sua mão direita sobre o ombro esquerdo do seu conselheiro. − Só precisamos esperar pelos próximos movimentos de Péricles. Seja qual for, Atenas sairá em desvantagem.

− E quanto aos éforos?

− Não terão muito o que fazer se Péricles atacar Potidéia – o rei falava enquanto dava as costas para Nestor e ir pegar um copo de água a quatro passos de onde estava. − Irão confirmar que o pacto está quebrado e que os coríntios precisam de ajuda e nós vamos à guerra. – Pleistoânax tomou o copo de água de uma só vez antes de recomeçar, já voltando em direção à Nestor. − Queria que meu pai me visse hoje, prestes a marchar sobre Atenas. Um grande dia para nossa família.

Nestor não tinha certeza se Pausânias iria gostar de ver o filho conquistando Atenas ou se ficaria com inveja dele. O que ele não duvidava era que ambos tinham grandes ambições, mas o fim do pai de Pleistoânax não havia sido nada digno e o que as moiras reservavam ao rei logo seria descoberto.

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