Os dias passavam rápidos desde a marte de seu pai. As tarefas herdadas ocupavam todo o tempo do jovem Alessandro, mas o sonho que ele não podia compreender ainda o atormentava. Tentou por vezes esquecê-lo, mas as imagens distorcidas do sonho pareciam insistir em não desaparecer.
As batalhas pela libertação da repressão esparciata ficaram no passado. Era cada vez mais escasso alguma comunidade perieca insurgir contra Esparta, e quando o faziam, não havia sucesso. As comunidades preferiam evitar os confrontos diretos contra o exército espartano, pois a resposta era rigorosa, com punições coletivas, execuções e por vezes a deportação de comunidades inteiras. Somente Egisto ainda nutria entre seu povo a chama da independência, mesmo que sem nenhum sucesso.
Após as últimas noites em claro, buscando respostas, Alessandro resolveu reunir todos os homens em idade militar, e em condições de fazê-los, de sua aldeia, para uma assembleia. Ainda que não houvesse intenções de uma rebelião contra Esparta, Alessandro queria ouvir seus pares, afinal, o burburinho de confrontos na Grécia aumentava a cada dia. Se houvesse uma guerra com Esparta envolvida, duas alternativas estariam disponíveis: servir aos esparciatas como corpo auxiliar do exército ou aproveitar a oportunidade para a busca por liberdade.
Pela manhã do dia marcado, os homens se reuniam em frente ao altar de Zeus que ficava no centro da pequena vila. Embora a mensagem que os convocava era clara: somente homens em idade e condições físicas de combate – todos os homens estavam presentes. Muitos sem condições nem mesmo de segurar uma espada ou disparar com um arco. Havia outros sem alguns dos membros ou ainda em idade avançada. Todos queriam entender melhor o motivo daquela reunião.
O que o jovem Alessandro tem em mente? Era a pergunta que se faziam e que os motivou para aquele dia.
Alessandro e Dríades foram os primeiros a chegarem ao altar. A noite ainda persistia quando os dois se encontraram e faziam questão de cumprimentar cada novo membro que chegava. Falavam uma coisa ou outra de acordo com o ouvinte, mas sem entrar em detalhes dos motivos de estarem se reunindo aquele dia. A falta de informações fazia aumentar as especulações a medida que mais homens chagavam.
— Acho que já estão todos aqui, não acha? — Alessandro questiona Dríades correndo os olhos sob os presentes.
— Quase todos eu diria — respondeu Dríades parecendo buscar alguém que não podia identificar, — mas sinto falta de alguém — agora olhando para Alessandro. — Laio. Não consigo vê-lo.
— É verdade – Alessandro assentiu com a cabeça. — Laio e seu filho Pirilo. Consegue se lembrar de mais alguém?
— Difícil saber — respondeu Dríades notando uma expressão de felicidade no rosto de Alessandro.
— Leander! — disse empolgado Alessandro indo em direção ao homem de cabelos negros como piche, mais alto que ele, mas não tão destacável essa diferença. A pele bronzeada dava destaque aos músculos torneados.
— Meu amigo, quanta saudades estava — respondeu de volta Leander, com os olhos castanhos fixados no amigo que se aproximava rápido.
Os dois se abraçaram forte. Haviam crescido juntos, mas não se viam há mais tempo que podiam contar.
— Perdão por não vir vê-lo quando seu pai partiu — se desculpou com a não direita sobre o ombro esquerdo de Alessandro. - Estava em Tebas e só fiquei sabendo da morte de Dédalo há poucos dias quando retornei.
— Não há necessidades de desculpas.
Leander assentiu com a cabeça. — Mas me diga: qual o motivo disso tudo? — perguntou Leander abrindo os braços em direção aos presentes.

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Peloponeso
Historical Fiction"Senhores? Tem sido uma honra lutar ao lado de vocês por todo esse tempo. Não há glória maior para mim que liderá-los, então vos digo: um dia nos encontraremos em outro lugar. Reis e súditos iguais, mas não hoje. O barqueiro nos espera. Sugiro que e...