O Cavalo - Parte 6: Never Let Me Go

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6 – Never Let Me Go

– Eu não aguento mais ficar aqui – dizia Cristine.

Conforme a chuva caía, os móveis que ficavam no quintal da avó de Leonardo começavam a molhar. O medo dos armários mofarem era real; acabariam voltando para casa sem nada, quase. Não havia espaço em outro lugar para enfurnar os móveis, o que a apavorava.

– Os inquilinos só vão sair da nossa casa em dezembro, Leo. Até lá... até lá vai estar tudo arruinado!

– E o que a gente pode fazer além de esperar?

– E-eu não sei... talvez orar para que eles saiam antes.

– Ah, claro – revirou os olhos.

Foi então que sua avó chegou, tendo subido da casa de Miranda.

– Deus, como tudo estava sujo naquela casa! A Mira é maluca. Sai e deixa aquela louça suja na pia dando bicho. Coisa horrorosa. Ela é uma porca!

– É, realmente, deixar uma louça monstruosa daquelas não é legal.

– Não acha que ela é uma porca?

– Assim, não é coisa de gente com bons costumes de limpeza... fazer uma coisa do tipo.

5 horas depois, no Facebook...

Miranda Arantes: "Muito triste saber que pessoas queridas estão falando mal de mim pelas costas, zombando da forma como cuido da minha casa e usando palavras como 'porca' para me descrever. Orem por mim".

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Cristine franziu a testa quando leu o post.

– Mãe, você falou alguma coisa do que dissemos pra Miranda?

– Eu não falei nada.

– Ah, tá bom.

Cristine percebeu que a situação só pioraria dali pra lá. As intrigas não seriam só naquele nível, mas evoluiriam para coisas mais sérias, e ela não podia passar por aquilo. Estava doente e sua família não dava a mínima. Sabia disso. Não era aquele tipo que a acolheria e relevaria seja lá o que ela dissesse, mas o tipo que retaliaria algo que ela nem falou apenas por puro orgulho.

Sabia que deveria sair dali, só não sabia como.

– Ela descobriu como. Orou como disse que iria fazer e, bem, para minha surpresa, a resposta chegou.

Não precisou esperar muitos dias ou semanas para receber a notícia de seu pai, quando o mesmo viera trazer-lhe a pensão:

– Os inquilinos vão sair esse mês. Vocês podem voltar para casa.

– Que bênção, não é, Leo?! – perguntou a mãe.

– É... – se virou para a Morte, confuso sobre o que pensar. – Sinceramente eu não sei o que pensar. Eu não gostava de dormir no sofá, mas gostava de estar perto do Philip, mesmo que ele quase nunca estivesse em casa. Eu gostava de estar perto da cidade, mesmo que pudesse ser assaltado a qualquer momento. Gostava de estar perto da família, mesmo que eles parecessem não dar a mínima. Não gostava dos meus tios, mas eram pessoas. Eu gostava de estar cercado de pessoas. Voltar ao meu bairro, à minha casa, só eu e minha mãe... seria um retrocesso. Ficaria um ônibus e quase dez reais de distância da família e da cidade... preso naquele fim de mundo.

Pelo menos não tem assalto, né?

– É... pelo menos meu celular e minha integridade estão a salvos.

Minha Amiga MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora