A Rainha - Parte 4: Lions in the Wild

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4 – Lions in the Wild

O fim de semana chegou e com ele um evento muito esperado pelos estudantes antigos: Veteranos vs Novatos. Era uma espécie de combate esportivo e – esperava-se que fosse – amistoso. A regra era: alunos antigos vestidos de preto e alunos novos de branco, algo como a dualidade do bem e do mal, da pureza e da corrupção. Ou não, vai saber.

– Fico imaginando os trotes que eles preparam pros novatos – comentou Leonardo, ansioso e preocupado.

A mãe fez uma cara feia, desacreditada.

– Não acredito que eles façam algo assim – sempre confiante na bondade humana. – É um colégio de igreja, de família!

– Se você soubesse do que eu sei, mãe... – respondeu o filho, rindo.

Ela franziu a testa, confusa.

– O que você sabe que eu não sei, hein, garoto?!

– Nada, não – vestiu sua blusa branca, ainda quentinha. Trajava também uma bermuda e tênis, cabelos penteados...

A mãe estava de braços cruzados, analisando para ver se a roupa do filho estava 100% de acordo com sua vontade. A dele não importava.

– Não vai pentear o cabelo, não? – perguntou.

– Mas eu penteei!

– Penteou errado.

– Eu gosto assim!

– Mas assim fica feio!

– Pra você!

– GAROTO, NÃO ME ESTRESSA!

– Tá bom! O que você quer?

– Aqui, me dá o pente. Me dá o pente!

– Toma!

– Ótimo. Eu hein? Sair daqui parecendo um maluco.

– Não pareço um maluco.

– Parece sim e fim de papo.

– Tá me machucando penteando desse jeito!

– Para de reclamar! Parece uma bichinha!

– Que merda é essa, mãe? Além de me ofender, tá ofendendo toda a comunidade LGBT.

– É o quê?

– Nada, não.

A Morte caiu na gargalhada.

Não sabia que você tinha o espírito da justiça social. Avante, juventude pós-moderna! Salvar os oprimidos e combater os fascistas! Comunismo vencerá!

– Eu não sou comunista, e não é justiça social! Só que eu prefiro respeitar todas as pessoas e evitar falar coisas de cunho preconceituoso. Minha família vive se referindo às pessoas por suas características de minorias e isso me dá nos nervos. "Aquele negro", "aquele viado lá", "aquela gorda", nossa, me dá nervoso. Como se não fossem seres humanos, mas de outra raça. Uma raça inferior.

Isso não é de hoje, não. Fico realmente contente em ver pessoas tentando mudar o quadro social, até porque a mudança é a única constante da sociedade humana... mesmo assim não ponho fé em vocês. A tendência sempre é piorar. A opressão é um ciclo sem fim. É um reflexo da seleção natural.

– Pensei que isso só se encaixava na visão evolucionista. Pensei que você fosse, sei lá, crente.

Eu sou. Até o diabo é, mas a seleção natural é real em todas as concepções. Sempre haverá os mais fortes e os mais fracos. É um equilíbrio, na natureza pelo menos. Na sociedade, normalmente os oprimidos tentam se vingar.

Minha Amiga MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora