A Torre - Parte 4: Sad Boy

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4 – Sad Boy

Anna observava a expressão vazia de Leonardo com muita atenção. Ela estava em seu dia integral no colégio, então aproveitou para permanecer com suas amigas de coral.

Não demorou muito e ela logo notou uma mudança repentina de comportamento no amigo e isso parecia estranho de compreender. Quando falava, ele o fazia de forma extrovertida. Dançava, cantava, pulava, fazia graça... mas no primeiro momento em silêncio, de introspecção, ele parecia desabar.

Em uma reflexão solitária, sentado na extremidade do banco do pátio principal do colégio, ele parecia perdido em pensamentos enquanto encarava com afinco o vazio. Parecia olhar para frente, mas não, seus olhos se encontravam e criavam um incômodo, uma imagem distorcida da realidade aonde ele queria depositar-se.

Ela o observava enquanto conversava com as amigas ao redor. Ayrton parecia extremamente engajado em chamar a atenção, o que não mais incomodava Leonardo. Não se importava mais se ele roubava suas falas ou a cena. Só queria ter seu momento sozinho para pensar no nada.

– Leo – chamou Anna, acordando-o de um sonho acordado. – Você tá bem?

Ele sorriu e assentiu.

– Claro... tô ótimo. Só fiquei pensando numas coisas aqui.

Ela sorriu de volta e se apoiou na mesa.

– É, eu também faço isso de vez em quando – ele ficou sorrindo de forma constantemente estranha para ela por um bom tempo; ela sabia que tinha algo de errado. – Tem certeza de que está tudo bem?

O sorriso do garoto desapareceu rapidamente. Não durou muito e lá estava ele desabafando.

– Não – sua expressão forçada de felicidade se subverteu em uma de aflição. – É a minha mãe. Ela não conseguiu o emprego que iria receber por causa da crise e caiu em depressão.

Anna arregalou os olhos, assustada.

– Deus! Isso é... horrível. Eu sei porque minha mãe já teve.

Leonardo olhou para ela rapidamente, sentindo-se abraçado pela ideia de alguém entendê-lo.

– Já? E como foi?

Ela parecia bem aberta a falar, mas as lembranças a faziam sentir-se imersa numa piscina muito funda de maus sentimentos.

– Bem... eu era pequena. Não lembro tão bem.

Essa menina é boa – a Morte surgiu ao seu lado como uma intrusa, o assustando de leve. – Além de fazê-lo desabafar ela tem boa experiência com memórias reprimidas. Pergunta para ela!

– Perguntar o quê?

Perguntar o que ela fez para sair da "bad"!

Leo franziu a testa de forma irritada.

– Tá de brincadeira comigo? Estamos revisitando o passado! Não há o que perguntar porque está tudo definido! Eu me lembro bem dessa conversa. Eu estava tão... tão "sei lá" que eu não perguntei nada relevante! – se virou para Anna, levemente abatido. – Eu também tive depressão... quer dizer, minha mãe teve quando eu era pequeno. Não lembro tão bem.

– A gente nunca lembra, né? – ela sorriu de forma acalentadora para ele. – Mas eu espero que você consiga lidar com isso agora, porque dói muito. Principalmente pra quem convive. A minha mãe teve sorte da minha avó cuidar dela durante o tempo que ela ficou de cama.

Leonardo apenas abaixou a cabeça para refletir. Não havia mais ninguém ali além dele para sua mãe. Ele teria que fazer as coisas para ela. No fundo não queria. Estava muito acostumado a ter tudo na mão. Sua mãe cozinhava, limpava, lavava, arrumava... mal deixava ele mexer em suas panelas para fazer um ovo sequer. E quando ele queria aprender a cozinhar, ela agia de forma ríspida a qualquer erro, o traumatizando. E se ela parasse de vez como uma vez ocorreu?

Minha Amiga MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora