O Cavalo - Parte 2: Always

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2 – Always

Estou seguindo... a Jesus Cristo. Do seu caminho... eu não desisto.

Ao chegar na casa de seu pai/sua avó, a encontrou sentada em sua poltrona de frente para a TV, assistindo um tal show de fé, programa religioso que passava de dia, de noite, de madrugada, na hora do almoço, café, janta, sempre ao vivo e lotado. Parecia gravação. Não era, por mais incrível que pareça.

– Filho! – mesmo sendo neto, ela o chamava de filho de vez em quando. – Vem dar um beijo na sua avó!

Leonardo foi até ela, se abaixou e deu um beijo fraco na bochecha da avó.

– Chegou há muito tempo?

– Não – respondeu o pai. – Eu cheguei logo quando o ônibus saiu.

Leonardo queria falar algo, mas estava muito confuso com toda a nova situação a qual se encontrava. A casa de sua avó era muito abafada; deus, como era quente! Parecia um forno ligado em uma temperatura não tão ruim, mas que te fazia suar só de pensar.

– Como tá sua mãe, Leo? – perguntou a avó.

Leonardo não sabia mentir. Pelo menos não gostava. Diferente da irmã, não mentia sobre o estado da mãe quando responsável por ela durante a depressão, ele preferia mandar a real logo.

– Péssima. Chorou muito quando teve que se despedir de mim.

Sua avó ficou sentida com a notícia.

– Que pena, meu filho. Mas pelo menos você voltou pra cá. A Chris me contou tudo. Já, já sua mãe tá aqui e vocês retornam pra casa de vocês.

– Espero que sim.

Pôs sua mala no quarto e a mochila também. Se olhou no espelho e se sentiu um verdadeiro pedaço de lixo; estava horrível, cansado, suado, sujo. Pôs seu celular para carregar, pegou roupas e uma toalha com a avó e foi para o banho.

– Pelo menos esse banheiro não tá todo quebrado – comentou Leo ao tirar a roupa.

É, mas sinto que há perturbação nas memórias nesse banheiro.

– Eu tinha muitos pesadelos com ele. Já sonhei que eu ia mijar, mas esquecia de acender a luz e um troço, sei lá, demônio me assustava e me matava. De quebra eu ainda acordava todo mijado.

Meu irmão sempre diz que ir no banheiro em sonhos é furada.

Leo ligou a água e se banhou, sentindo todas as impurezas saindo de seu corpo e caindo no ralo. Dessa vez só as impurezas mesmo.

– Água sempre me fez sentir melhor.

Hidroterapia. Vocês deveriam tomar pelo menos uns, sei lá, quatro banhos por dia.

– Tem verão que eu tomo cinco, só de zoa.

Você não gostaria de falar sobre como se sente em voltar à casa do seu pai e ao Rio de Janeiro ao invés de falar sobre água?

– Já não falei o suficiente? Eu tô cansado! Levou bem a sério esse negócio de diálogo que mulheres têm. Pelo menos você me deixa falar.

Sou tipo sua psicóloga, ué. Estou aqui para isso.

Ele suspirou dentro do box enquanto lavava o cabelo.

– Ah... aqui é quente. Meu pai já vai ver algum jogo de futebol aleatório enquanto a minha avó fica batendo palma pra culto de pastor que só pede dízimo. Parece o Philip vendo Dragon Ball Z, na cena que o Goku pede as forças pro povo da Terra – ele parou, pensativo e cansado. – Eu me senti sozinho.

Minha Amiga MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora