O Cavalo - Parte 1: Back on the Road

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o cavaLo

QUINTA RODADA

QUINTA PORTA


Ainda estava com o rosto úmido de tanto chorar quando o ônibus deu a volta e já estava na cidade grande novamente. Não se permitiu chorar muito, engolindo toda aquela tristeza e mostrando-se apático novamente. Até sentou-se na frente, cobriu a cara com o capuz e começou a ouvir música.

1 – Back on the Road

De alguma forma transformou aquela tristeza em curiosidade pela nova descoberta. Via pessoas andando na rua, lojas bonitas, prédios, instalações enormes... tudo isso o confortava pelo que estava acontecendo. Mesmo estando arrasado, sentia que as coisas poderiam dar certo.

Tinha esperança de que quando chegasse, seria bem recebido. De que as coisas seriam diferentes, de que seria abraçado.

Você é mesmo duro na queda, hein? Deixou sua mãe sozinha para trás, chorou tudo que pôde, desesperado, mas parou, porque precisa manter o orgulho masculino intacto.

– Cala a boca!

Não calo não – ela ocupava o outro banco, que pertencia à mochila de Leo. – Primeiramente, você deveria ter dado um abraço mais caloroso nela, a mulher que cuidou de você. E segundamente, você tem que se permitir chorar, cacete! Nossa, que dificuldade é essa em se permitir sentir?

– Não tenho uma resposta para essa pergunta. Desculpa.

Aaaaa, agonia!

Os dois ficaram sentados em silêncio enquanto ouviam uma música deprimente nos fones de Leo. O mesmo dava seu jeito para se acomodar, colocando os pés descalços na janela, que tinha espaço para os mesmos e o deixava deitar-se sem que suas costas doessem.

E ficaram ali, por vários minutos.

Bateria do celular 66%.

– Não sei o que acaba mais rápido, se a minha felicidade ou a minha bateria – ele reclamou enquanto via a hora. – Ainda são dez horas da manhã. Puta que merda!

Quando bateu a fome, abriu a mochila e pegou um biscoito. O devorou rapidamente, dando um pouco para a Morte, que não gostou. Ótimo, pensou. Mais para mim.

Pela janela ele via todas as paisagens. Ela era ridiculamente grande e resistente. Deu alguns toques de dedo no vidro, sentindo sua rigidez. Podia ver estradas, outros ônibus, um caminho de mato que passava bem rápido. Beeeeeem rápido.

Dezessete músicas deprimidas depois o ônibus parou. Fizeram uma parada num daqueles lugares aonde os carros param durante a viagem. Como é o nome mesmo? Não importa. Leo pegou seu dinheiro e desceu do ônibus, indo ao banheiro, comprando mais um biscoito e indo a uma banca de jornal.

– O cara disse que teríamos trinta minutos para comer, dar uma mijada e fazer o que fosse necessário. Eu só levei sete.

Por isso veio a uma banca?

– Eu sempre adorei bancas, desde pequeno. Eu comprava gibis da Turma da Mônica quando eles eram baratos. Aí eu cresci e comecei a comprar mangás. Aí eu cresci mais um pouco e passei a não ter dinheiro pra comprar mais nada, o que é irônico.

Tem umas revistas maneiras por aqui. Tipo aquela ali em cima.

– Brasileirinhas?

Minha Amiga MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora