8 – The Final Ride
– Foi tudo tão rápido – Leo parecia atônito, perdido, agindo sem estar sob o controle do corpo, apenas reagindo ao que lhe era imposto. – Uma hora eu estava em aula, depois eu saí pra fora, me virei, dei tchau pros meus amigos... e não sabia que era um tchau definitivo. Um adeus. Eu nem lembro qual foi a última coisa que o Humberto falou. Não lembro sua última piada ou opinião controversa. Não lembro nada, porque não imaginei que precisaria armazenar aquilo, pois seria importante mais pra frente.
– Consigo sentir deformações na sua memória, mas estão menos frequentes. São poucas, elas.
– Não, esquece isso. Essas deformações me fazem pensar na minha mãe. Mesmo tendo tantos bons momentos com ela, a odeio por me fazer passar por isso. A odeio por isso tudo mesmo que não seja culpa dela.
– É cruel da sua parte.
– E imaturo. Eu sei.
Estava ali, com sua mala e mochila arrumadas. Era tudo que precisava.
– Tô colocando a escritura da casa na sua mala, Leo – disse sua mãe, levemente abalada. – Toma muito cuidado com ela. Se perder nós ficamos sem casa. E se acontecer alguma coisa comigo... pede pro seu pai vender a casa e te colocar interno aqui no campus.
Leo engoliu em seco, tentando não chorar com aquela situação deprimente.
– M-minha mãe ficava o tempo todo sugerindo a própria morte. Isso me fazia muito mal.
– Eu ainda não entendi o plano da sua irmã. Ela quer que você volte... sem sua mãe?
Ele assentiu.
– Leva tempo até poder se livrar dessa casa alugada. Tinha um contrato, ou algo do tipo. E também... ela tinha que fazer a mudança, né? Se eu fosse, seria só eu e minhas roupas e documentos. Mais fácil.
Ele foi até o banheiro para lavar a mão, tomando cuidado para não cair no vão de memórias.
– Ainda tem alguma memória nos bolsos?
– Pensei que isso iria melhorar, não piorar! E sim, eu tenho – lavou as mãos, secou e então puxou uma memória do bolso. – Tem várias, mas a primeira é sobre meu ex-padrasto. Ele era um bosta – e jogou a memória no vácuo do espaço. – Eu espero que isso melhore.
E então o vão apenas aumentou, quebrando mais ainda o banheiro, agora engolindo parte da pia e o lixinho. Leo teve que pular para trás para não ser tragado pelo buraco infinito.
– Que merda!
– Não vai melhorar, Leo. Não se continuar assim.
De casaco, fones de ouvido e dinheiro no bolso, Leonardo ficou no sofá esperando com sua mãe. Stacy e Annabelle viriam buscá-los para levá-lo até a rodoviária para pegar o ônibus. Não falou nada com sua mãe por um tempo. Estava nervoso e ansioso, impaciente e apreensivo.
O que estava fazendo? Estava se permitindo levar pela onda novamente, indo embora para longe do seu sonho, daquele colégio maravilhoso e único, para voltar a um lugar aonde ninguém realmente se importava com ele e nem sequer viam seu potencial. A própria Joy Florença havia lhe dito:
– Seja corajoso, garoto! Não deixa sua mãe voltar, vai ser pior!
Mas sua irmã foi contrária:
– Volta pra cá, Leo! Aqui tem sua família que te ama, te apoia. É melhor para vocês ficarem aqui.
Estava dividido. Mas enquanto saía do muro, o mesmo era derrubado.
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Minha Amiga Morte
Fiksi RemajaApós tentar cometer suicídio e falhar, Leonardo encontra-se com a personificação da Morte: uma bela e pálida garota. Ela lhe propõe um jogo de xadrez para decidir sua vida. Se ela ganhar, ele morre de forma dolorosa, se ele vencer, ele vive. Depress...