C. 7 - O DIA QUE... O QUÊ?

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A água da piscina era gelada e refrescante, tal como a água do mar. Depois do que aconteceu ontem, Derek e eu decidimos juntos (não foi porque ele decidiu que não queria passar raiva de novo, ou porque ele criou hipóteses malucas de que outras pessoas nojentas tentariam me atacar, não. Com certeza não foi só ele que decidiu que não íamos a praia hoje) que iríamos fazer uma festa na piscina da Melissa. Foi uma questão de minutos até eu estar pronto, com uma bermuda azul clara, uma blusa branca estampada com flores e a sunga que ainda estava úmida pela tarde de ontem, uma garrafa de vodka cheia pela metade que estava no armário que servia de despensa, meu celular no bolso e uma toalha no pescoço.

- Vodka, Frederick? - Derek perguntou, saindo do banheiro com a bermuda úmida de ontem, a blusa preta e a jaqueta de couro. - Sério?

- Não deixou eu ir a praia, pelo menos deixe eu ficar bêbado. - falei, enquanto colocava a vodka na bancada e pegava o celular em meu bolso.

≈ Eu: Nós vamos pra sua casa, avise ao seu pai. ≈

≈ Pesseguinho: O quê? Do que está falando? ≈


≈ Eu: Tem cinco minutos. ≈

- Chamou Diego? - perguntei, colocando o celular de volta em meu bolso e pegando a vodka.

- Ele já está lá. - falou, erguendo uma sobrancelha para o celular em sua mão. - Que estranho, não é? - vi um sorriso malicioso e suave aparecer em seus lábios - Nem imaginava que ele estariam juntos.

- Não me surpreende, também.

- Achei que o pai dela seria mais resistente a esse relacionamento.

- O pai dela é tranquilo, ele dá a liberdade que ela precisa, mas a garota é um bicho do mato pra aproveitar.

Ele soltou uma risada baixa e saímos de casa. Era bom ver que minha Pesseguinho tinha arranjado alguém e o Diego parecia alguém que vali a pena. Não era um maluco, e não parecia que ia se transformar em um homem louco para exercer sua influência pra cima de Mel. O loiro, na verdade, parecia tão carinhoso e afável quanto a própria Mel, ou seja, faziam um belo casal.

Derek desceu as escadas a minha frente, segurando minha mão, e, então, quando chegamos na rua, andando lado a lado, ele abraçou minha cintura. Senti um olhar irritado e maníaco às minhas costas como uma faca sendo fincada em minha pele, quando me virei para olhar, Jackson estava me encarando enquanto andávamos para a avenida principal do bairro. Sua expressão era impenetrável, mas seus lábios crispados denunciavam seu humor. Por um breve momento ele segurou meu olhar, então foi chamado pelo cliente que o atendia e se virou novamente para o carro prateado. Então voltei minha atenção para a rua que estávamos prestes a atravessar, com Derek apertando minha cintura com força.

Ele estava tenso e eu o entendia. Apesar do meu cio ter acabado e meu cheiro estar mais fraco, ainda podia sentir alguns olhares famintos em cima de mim, medindo-me dos pés a cabeça. Derek soltava alguns grunhidos quando passávamos por alguém que olhava demais para nós, apertando minha cintura com possessividade, como se isso funcionasse como escudo contra os olhares de todos.

Perguntei-me se toda vez que eu saísse agora seria isso, toda vez que passasse por um alfa ou um beta, essa pessoa fungaria o meu cheiro a poucos metros de distância e me olharia como se eu fosse algum tipo de comida. Eu não teria mais paz para sair na rua, meu corpo viveria tenso e sobreaviso de ameaças. Ficava cansado só de pensar em uma vida assim, como se tudo fosse ameaçador e difícil. Agora entendo porque Mel não sai de casa. Pensei comigo mesmo, passando por uma rua cheia de areia da praia, deixada por carros e turistas que passavam.

Viramos a esquina e lá estava nosso aconchegante e refrescante destino.

Toquei o interfone uma única vez para ser atendida quase imediatamente por uma loira pequena de grandes olhos azuis. Ela estava com uma enorme blusa que não era uma de sua coleção de blusas do seu pai, e seu cheiro suave e refrescante de pêssegos e margaridas estava mascarado por um cheiro mais forte, porém bastante suave, agridoce e com odor suave de madeira: o cheiro de um alfa. Seu rosto estava vermelho por algo que a fizera ficar com vergonha, seus olhos brilhavam e em seus lábios havia um sorriso que quase nunca era visto no rosto da minha acanhada amiga: um sorriso aberto, feliz e divertido daqueles que mostra todos os seus dentes e é contagiante.

Melissa me abraçou quando me viu, apertando minha cintura com força, afastando-se brevemente quando Derek rosnou puxando-me para si bruscamente, tentando arrancar-me do abraço feminino.

- Nós temos mesmo que conversar sobre esse lance da posessividade. - murmurei, olhando para Derek, que olhava com raiva para minha amiga.

- Não começa. - rosnou.

- Vamos, entrem! - falou uma animada Melissa. Consegui ver seu desespero em evitar uma briga. - Hm... O Di acabou de entrar na piscina.

Sorri, vendo como seu rosto corou ainda mais quando falou o nome do garoto, seus olhos brilhando com algo que eu quase nunca via. Separei-me de Derek somente o suficiente para pegar sua mão e puxa-lo para dentro do terreno, atravessando o portal do portão para dar de cara com a piscina quadrada de água cristalina que dava pra ver perfeitamente o fundo.

Diego estava sob a água, nadando calmamente, sem levantar o rosto, de um lado a outro da piscina. O garoto era bom. Anotação mental: perguntar ao Diego porque ele nunca entrou na equipe de natação.

Deixei minha toalha e a garrafa de vodka numa espreguiçadeira que havia perto da piscina, junto com a toalha e o super protetor solar de Mel. Comecei a tirar, lentamente, a camisa que usava, em seguida a bermuda, ficando somente com a sunga boxer. Em todo o momento senti o olhar de Derek sobre mim, como um peso suave que eu carregava, mas a intenção era provocar. Olhei para ele, vendo-o observar meu corpo seminu, seus olhos descendo pela minha barriga e para minhas coxas musculosas, então voltar para meu rosto, passando a língua por seus lábios suculentos. Sorri de lado, enquanto me dirigia ao chuveirão perto da sauna.

- Hey, Fred! - ouvi Diego gritar da piscina - Hey, Der! Entra na água, a água está uma delícia!

- Aaargh! Seu idiota! - gritou Derek. - Por que jogou água em mim?!

- Pra você apagar esse fogo no cu que você tá. - ouvi a voz de Diego dizer, rindo.

Franzi o cenho e saí da área da sauna, indo até um Derek com a roupa molhada e uma carranca no rosto. Sorri e meneei a cabeça correndo para pular na água, dei um salto e encolhi meu corpo, preparando-me para o impacto com a superfície molhada, molhando tanto Derek quanto Melissa que estavam perto da piscina. Ouvi-os gritar meu nome acima da água, suas vozes abafadas enquanto estava abaixo da água.

Quebrei a superfície, jogando meu cabelo para trás, imaginando a água ser jogada para trás em câmera lenta, como se fosse uma daquelas propagandas com uma modelo sexy de biquíni. Respirei fundo, abrindo os olhos com um sorriso suave e malicioso para Derek, vendo-o me olhar com um olhar vidrado e irritado. Umedeci os lábios já molhados, sentindo o gosto de cloro que tomava meu corpo.

Vi-o soltar um rosnado irritado.

- Garoto, eu vou te pegar. - seu tom não era ameaçador, mas calmo e frio. Por algum motivo isso me deu mais medo do que se ele tivesse rosnado. - Você vai me pagar.

- Vem me pegar então, grandão. - falei, olhando com desafio, um sorriso suave e malicioso aparecendo em meus lábios.

Ele riu brevemente, tirando a camisa enquanto eu o observava, enquanto a barra da camisa subia, revelava seus músculos abdominais, fazendo-me morder o lábio com força, vendo enquanto meus dedos coçavam para tocar-lhe a pele dourada pelo bronzeado. Senti uma mão em minha cabeça e eu fui empurrado para baixo d'água e eu me debati, dando uma rasteira na pessoa que me empurrou. Derrubei Diego na água, levantando-me logo em seguida para encontrar o olhar assustado de Melissa e um olhar irritado e levemente preocupado de Derek, que parecia prestes a pular na piscina para me salvar.

- Ou! - ouvi o loiro reclamar atrás de mim - Por que você fez isso?

- Você tentou me dar caldo primeiro, nem vem.

- Você estava precisando. - ele disse, rindo e dando um tapa leve na minha cabeça, recebendo um rosnado ainda irritado de Frenshwick. - Estava olhando para o Der como se quisesse comê-lo vivo. Precisava de água fria pra apagar esse fogo no rabo que você tá aí.

Rolei os olhos, jogando água no menino, rindo baixo.

Durante algumas horas, nós brincamos, nos divertimos, bebemos. Derek ficava tentando me regular enquanto tomava copos e mais copos de refrigerante com vodka. Melissa precisou beber meio copo para criar coragem de entrar na piscina, acompanhada de Diego, que parecia ensina-la a nadar. Por algum tempo eu observei o casal, mordendo o lábio, era bom ver minha amiga tão entrosada com outra pessoa, com um alfa. Com um alfa como o loiro.

Enquanto estávamos deitados em duas espreguiçadeiras, uma do lado da outra, sentindo o sol bater em minha pele, eu ouvi o interfone tocando, a voz do meu pai soando irritantemente alta, mesmo abafada pelo portão metálico. Em um pulo eu me levantei, olhando pra porta com raiva. O que diabos ele estava fazendo ali?

- Fabriciano, abre logo a porra desse portão, eu sei que meu filho está aí! - ouvi-o gritar do lado de fora e eu fechei as mãos em punhos, ignorando todos e indo em direção ao portão.

- Vai pra casa, pai! - gritei de volta - Eu não vou voltar com você, desista!

- Fred... - falou, tomando uma respiração. Podia visualizar seus olhos fechados e seu peito subindo e descendo. - Por favor, meu filho. Eu só quero protegê-lo.

- Eu estou protegido aqui, pai! - falei, olhando para Derek e Diego. O Coronel Lopez estava na porta de casa, olhando em minha direção. - Eu... Eu vivo aqui agora. Minha vida é aqui!

- Com licença. - falou Fabriciano, balançando o molho e chaves, abrindo o portão.

Meu pai estava com seu sempre arrumado e engomado terno cinza, sua blusa social branca que colava suavemente no corpo forte. Sua expressão estava taciturna, sob seus olhos, olheiras denunciavam sua noite mal dormida, e seus ombros caídos mostravam sua tristeza. Cruzei os braços, como se estivesse me protegendo de quaisquer coisas que meu pai pudesse fazer para me levar de volta para aquela mansão sombria.

Afastei-me do meu pai, andando em direção a Derek? Ele pegou minha mão, entrelaçando meus dedos nos dele, apertando sua palma contra a minha, tentando me tranquilizar. Ou será que estava tentando tranquilizar a si mesmo?

- Senhor Gabriel, achei que tinha deixado bem claro ontem que não deixaria seu filho ir embora. - falou o alfa.

A essa altura, Diego e Melissa estavam fora da piscina, o alfa abraçando os ombros de Pesseguinho, que tremia levemente com o frio. Era fim da tarde e o sol baixara, deixando uma brisa suave batendo em nossos corpos, fazendo ficar mais frio ao sair da piscina com o corpo frio e molhado.

- E eu deixei claro que isso não seria por mais de uma noite. - falou o velho executivo, que, então, se virou para Lopez. - Você os deixa andar com sua filha? Não vê que podem ser um perigo?

- Pra mim, Fred representa mais perigo para eles do que eles a ela. - disse o ex-militar, dando de ombros. - Se ele está tranquilo na presença deles, eu estou tranquilo. Melhor, se a minha filha está tranquila na presença deles, quem sou eu pra afastá-los. Melissa precisa sair mais, enquanto eles estiverem fazendo bem a ela, eu estarei muito feliz em disponibilizar um lugar pra passarem a tarde.

Sorri brevemente, observando enquanto Alfred abria a boca, tentando argumentar com o Beta, mas sem sucesso, fechando-o novamente. Suspirei e fechei os olhos, soltando a mão de Derek, hesitantemente aproximando-me do meu pai.

- Corajoso. - disse por fim, antes que pudesse me pronunciar.

- Eu diria que sensato combina melhor. - meu tom soou um pouco mais ácido do que pretendia. - Por favor, pai, nem o tio Fabriciano está reclamando. Ele sabe que eu estou perfeitamente seguro aqui.

- Eu não disse isso. - falou o coronel, fazendo-me olha-lo, confuso. Ele me olhou, colocando uma mão em meu ombro. - Você estaria seguro aqui se só fosse ômega, porque eu sei que pode se proteger de tarados malucos que chegarem perto de você, mas... Você é um mago, Fred. Você não controla isso ainda e... Enquanto não controlar...

- Ninguém vai estar seguro. - concluiu Derek. Eu o olhei, vendo a expressão pensativa que sua expressão assumira. - Mas e se ele aprender a controlar?

- Eu não seria mais uma ameaça a ninguém e... - sorri, olhando para meu pai animado. - E seria mais uma coisa que eu posso usar pra me defender.

- Não sei, não... - meu pai ainda parecia receoso em me deixar sob os cuidados de tio Geferson.

- Por favor, pai. - falei, mordendo o lábio, um sorriso se formou em meus lábios. Meus dedos começaram a formigar e comecei a sentir aquele puxão em meu estômago - Por favor. Eu não quero ficar preso como a Liah ficou. Eu gosto daqui, eu gosto dos meus amigos aqui... Pelo bem do seu filho. Por favor, deixa eu ficar aqui.

Por algum motivo eu não lembrei daquele sentimento no dia anterior, mas era diferente de quando eu estava com raiva. Minha voz não estava esquisita, mas o puxão em meu estômago estava forte, e uma careta estava se formando em meu rosto. Meus dedos estavam formigando e leves faíscas começaram a sair das pontas. Eu levantei os dedos, olhando-os, curioso, vendo as faíscas viajarem para a grama verde e um tanto queimadas.

- Certo... - murmurei, mexendo os dedos suavemente.

- Você está transformando a energia ao redor de você em energia elétrica, Fred. - falou Melissa.

- Que massa! - exclamou Diego, aproximando-se. Senti seu ombro tocar meu corpo e logo ele se afastou - Que foda!

- Diego! - gritou Melissa, preocupada, aproximando-se do alfa e pegando uma mecha de seu cabelo queimado.

Arregalei os olhos e me afastei de todos, olhando para minhas mãos com medo, vendo-as parar de faiscar, enquanto eu me acalmava apesar de senti-los formigar ainda. Eu era um risco para todo mundo, enquanto não controlasse isso, eu poderia machucar as pessoas de quem gosto. Mordi o lábio, tocando minhas bochechas.

- Hey, Fred, está tudo bem. - falou Derek, aproximando-se. - Você vai conseguir controlar isso. Vai ficar tudo bem.

- Viu? É por isso que você precisa ir para a Capital, Fred. Aqui você é um...

- Pelo amor dos deuses, Alfred! - falou Fabriciano, olhando-me complacente. - Fred, não se preocupe com isso. Você precisa treinar pra controlar isso, como você treinou para fazer os movimentos de judô. Com a disciplina que você tem, tenho certeza que tira de letra. - então observei enquanto seus olhos divagavam até Derek - Você sabe alguém que pode ajudar?

- Você está contra mim, Fabriciano? Tem certeza que vai ficar do lado dele? - perguntou meu pai, olhando acusadoramente para Lopez.

- Não tem lado nessa história. - murmurou Melissa, olhando para baixo. - Derek tem razão, se ele não aprender a controlar isso, ele pode ser um risco para qualquer pessoa, inclusive para as pessoas que colocar em volta dele para "protegê-lo". - vi-a fazer aspas com os dedos.

Lágrimas surgiram em meus olhos e minha boca ficou seca. Eu podia machucar pessoas, podia matar pessoas. Um nó se formou em minha garganta e minha voz não sairia mesmo que eu tivesse algo para falar. Olhei para baixo, para minhas mãos enquanto os outros discutiam sobre mim e sobre o quanto eu era perigoso, ou em quanto precisava sair daqui. Meu estômago se apertou, meus dedos formigaram e eu fechei os olhos com força. Tinha que fazer isso parar!

- CALEM A BOCA! - gritei, aquele coro cortante soando junto comigo novamente, a pressão em meu estômago ficou insuportável ao mesmo tempo que a piscina explodiu.

Abri os olhos novamente e todos me olhava, assustados, aturdidos enquanto lágrimas escorreram pelos meus olhos. Fechei os olhos, sentindo meu corpo tremer. Senti braços fortes me abraçarem e o cheiro amadeirado e suave preencheu meus sentidos, acalmando meu corpo e minha tremedeira. As lágrimas pararam de cair enquanto eu enterrava meu rosto no peito forte do alfa, inspirando seu cheiro másculo.

- Está tudo bem. - ouvi-o dizer em meus cabelos molhados. - Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui. Está tudo bem. - senti seu corpo ficar tenso quando rosnou. - Não.

- Fred... - ouvi a voz do meu pai, ressentido e os braços de Derek me apertaram mais.

- Senhor Gabriel, com todo o respeito, mas... - o tom de Melissa era doce e suave, soando mais perto de mim. - Você fez uma bagunça na minha casa, eu gostaria que fosse embora.

- Fred? - perguntou Alfred, sua voz estava rouca e eu me encolhi nos braços de Derek, ouvindo-o rosnar.

- Não, tio Alfred. - Diego falou, sua voz rosnada. - Nós estávamos tendo uma tarde muito agradável na piscina antes do senhor chegar. A dona da casa está pedindo para ir embora, o que está esperando?

- Fred? - ouvi-o tentar novamente.

- Pode me tirar daqui, por favor? - perguntei, em um tom baixo, olhando para Derek.

Vi-o assentir e ele me levou para a casa. Assim que passei pela porta de vidro, senti minhas pernas bambearem, meu corpo desabando nos braços fortes do alfa pela segunda vez em dois dias. Gemi, sentindo o sofá em minhas costas. Meu corpo doía ainda mais do que naquela manhã fatídica, minha mente e membros entrando em um consenso de que estavam todos muito cansados.

- Vai ficar tudo bem. - murmurou contra meus cabelos, acariciando os fios do meu cabelo loiro.

°°°•••°°°

Suspirei dramaticamente, entrando em casa e me jogando na cama. Eu tinha tomado banho na casa de Melissa, meus cabelos ainda estavam molhados e com um cheiro muito gostoso e suave de camomila - o shampoo que minha melhor amiga usava. Fechei os olhos, sentindo o cheiro dos lençóis usados. Eu não os havia trocado, então ainda estavam com os odores misturados: meu odor cítrico e o odor amadeirado de Derek. Aquilo era mais do que reconfortante, senti-lo ali, perto de mim, enquanto ele ia para casa, afinal ficar dois dias sem dar satisfações à mãe dele era assinar o atestado de filho desnaturado, que eu havia assinado aquela tarde.

Ah, aquela tarde...

Revivi ela durante a noite, sentindo meu corpo doer instantaneamente. Eu me sentia exausto. Aparentemente, dominar a energia ao meu redor, dobra-la para que ela fizesse o que eu queria - ou, no caso, o que eu não queria - era um exercício mais cansativo do que o judô. Ou talvez, como Derek salientou durante todos os minutos que ficou ali do meu lado, tentando me acalmar para que eu não fizesse nada descontroladamente de novo, fosse algo com o qual não estava acostumado.

Lembrei-me da conversa que tivemos depois de toda aquela situação. Ele havia me dito que podia me ajudar com essa de controlar as emoções, para não ativar meu modo mago - como Diego gostou de denominar - toda vez que sentir algo acima da média, afinal, não queria acabar machucando alguém sem querer quando ficasse animado, agitado, excitado, com raiva ou com medo. Não. Era a última coisa que eu queria.

Ele também disse que tinha alguns contatos que poderiam me ensinar como dominar a energia, fazê-la ceder aos meus comandos, fazê-la se tornar calor, eletricidade, trabalho, ou qualquer coisa do tipo. Quando perguntei quem eram, ele somente sorriu, misterioso, e me abraçou, como se me protegesse do mundo, permitindo que seu odor amadeirado cercasse meus sentidos.

E assim passamos o restinho da tarde.

Não fomos mais à piscina, porque Derek e Diego não queria que os ômegas deles se resfriassem por estar frio lá fora, o que resultou em um tapa forte no ombro do moreno, que apenas riu, como se eu tivesse caído em sua provocação, e em uma Melissa corada, fazendo o loiro dar-lhe um beijo no nariz vermelho. Ele a abraçou pelos ombros e a levou para o quarto enquanto eu observava aquela nova interação com interesse. Olhei para Derek com os olhos arregalados, sentindo uma puta vontade de dar pulinhos de alegria.

Ele riu e segurou meus ombros, sussurrando um "Controle-se" no meu ouvido, puxando o lóbulo da minha orelha sem força, fazendo minha pele se arrepiar com expectativas. Aquilo me distraiu do momento fofo do novo casal, fazendo-me olhar para seus olhos azuis, perdendo-me neles. Mordi o lábio, brevemente, e ele me pegou pela cintura, dando-me um beijo lascivo, chupando meu lábio inferior e minha língua, empurrando-me até eu encostar em uma parede, sentindo seu corpo pressionar o meu contra a superfície dura.

Aquilo durou míseros minutos, até ele parar o beijo, com os olhos violeta, e me olhar de perto. Ele sorriu, malicioso para mim, como se estivesse feliz em me ver passar vontade - porque havia, claramente, uma evidência física do quanto aquilo tinha funcionado - apesar de fazê-lo ficar somente na expectativa, também.

- Vá tomar banho pra irmos embora. - disse, desencostando-me da parede e me empurrando em direção a escada, dando um tapa forte em minha bunda.

- Ei! - gritei, em um tom claramente fingido de ofensa: em meus lábios havia um sorriso malicioso que sabia exatamente onde aquilo iria dar.

Subi as escadas para tomar banho, vesti minha roupa, sem a sunga molhada, peguei a vodka que havíamos deixado em uma mesa sob um guarda-sol e me despedi do novo casal que estava deitado - Melissa sobre o colo de Diego - no sofá, assistindo um desenho (aquilo era Clube das Winx? Reconheceria a Stella em qualquer lugar). Derek também estava pronto para ir embora, despedindo-se deles, e pegou minha mão para sairmos pelo portão.

O plano era ele me levar para minha casa, pegar suas coisas e pedir um carro para voltar para sua casa, do outro lado da cidade, mas os planos não saíram exatamente da forma que esperávamos. Ele acabou ficando um pouco mais, o tempo de ele beber um copo de água e eu trocar de roupa... Na frente dele.

Ah, sim. Com certeza, apesar dos desvios que havia dado, aquela tarde havia valido a pena.

Eu me diverti com meus amigos, transei com um cara gostoso que parecia me idolatrar e por quem estava começando a me apaixonar, bebi vodka com refrigerante e vi a minha melhor amiga sair de sua bolha confortável e segura para ficar com um alfa que, aparentemente, poderia protegê-la tão bem quanto eu.

Suspirei mais uma vez, sorrindo para mim mesmo, esparramado em minha cama. Aquele fora um dia bom. O meu segundo dia de férias que ocorrera tal como o que é esperado de um segundo dia de férias.

Mal sabia eu que aquele dia seria a calmaria antes da tempestade.


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