C. 10 - SEQUESTRO

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— Eu não posso ficar aqui sem fazer nada! — gritou Derek, no corredor do hospital.

Ele andava de um lado a outro, irritado, rosnando para qualquer pessoa que se aproximasse de Melissa. Ela estava pálida, havia curativos em seus braços, em suas mãos e em seu pescoço. A ômega observava o alfa lúpus semitransformado, com suas garras a mostra, seus olhos violeta e as orelhas felpudas sobre os cabelos castanhos, andando como um lobo enjaulado, com um curativo abaixo de seu umbigo.

— Você ouviu o médico, você precisa descansar! — disse a menina, colocando as mãos sobre o lençol.

— Por quê? Esse maldito curativo é inútil! — rosnou, arrancando o esparadrapo e a gaze que estavam em seu corpo.

A loira engoliu o seco quando viu a cicatriz dos pontos quase sumindo em sua pele dourada. Então era verdade. Ele se curava mais rápido que os alfas normais, mas isso não queria dizer que podia sair por aí seguindo rastros de um idiota que havia sequestrado seu... Amigo? Namorado? Melissa não fazia ideia o que ele e Fred eram, mas eles se amavam, isso era óbvio.

— Se Diego não estivesse em uma maldita cama, eu já teria ido. — a voz de Derek estava mais rouca e baixa, causando arrepios na pele de Melissa. Arrepios nada agradáveis que não se parecia em nada com os arrepios que a voz de Diego causava. — Aquele maldito teve a pachorra de atacar o meu amigo e sequestrar o meu ômega! Eu vou matá-lo!

Melissa respirou fundo e fechou os olhos.

Seu amigo sabia se virar, com certeza estava dando um jeito de apaziguar as coisas com Jackson naquele exato momento.

A ômega sabia do interesse do alfa em seu amigo, percebia todas as vezes que ia para sua casa, Jackson sempre tentava ganhar sua atenção, mandando sorrisos bonitos e que deveriam ser conquistadores, mas não parecia fazer nenhum efeito em Fred. Para ele, o alfa não passava de um grande amigo, nada mais que isso. Ela não fazia ideia que Jackson era um babaca obcecado que faria qualquer coisa pra ter o Fred pra si. Se ela soubesse...

— Para de se culpar. — rosnou Derek, enquanto vestia sua blusa de flanela. — Você não tem culpa de nada. Aquele Jackson que é o maluco.

— Ele... Ele...

— Ele sequestrou o Fred. E eu irei lá buscá-lo e esfregarei a cara desse louco no asfalto até sua pele sair inteira.

Melissa fez uma careta no exato momento em que seu pai entrou no quarto, fazendo barulho com a porta, apesar do rosnado descontente de Derek que olhou imediatamente para o homem de cabelo grisalho, mostrando os caninos pontiagudos. Fabriciano estendeu as mãos em sinal de paz, dando um passo para dentro do quarto e Derek cruzou os braços. Suas orelhas ainda estavam em alerta, seus olhos estavam violeta e ele parecia pronto para atacar qualquer pessoa que se aproximasse demais.

— Os pais de Diego estão na sala de espera, estão loucos. — disse o homem, aproximando-se da filha.

— Não à toa. — rosnou Derek.

— Ele não saiu dessa forma desde que chegamos aqui, pai. — murmurou Melissa, olhando para o amigo, preocupada.

— Não vou deixar ninguém encostar em mais ninguém que eu amo. — ele rosnou, olhando diretamente para a porta, como se um maluco fosse aparecer a qualquer momento.

— Ninguém vai tocar na minha filha enquanto eu estiver aqui, Derek. — disse Fabriciano, tentando acalmar a fera. — Pode descansar, Derek. Você precisa descansar para as feridas se curarem. Você melhor do que ninguém sabe disso.

— Eu preciso pegar aquele maníaco. — rosnou, olhando, então, para a janela. — Ele sequestrou o meu ômega, quase matou o meu melhor amigo e machucou a sua filha.

— Olha, eu te entendo. — falou Melissa, suavemente, tocando a mão de Derek, que se retraiu. — Derek, eu entendo. O maníaco sequestrou o meu melhor amigo também, mas você não pode fazer nada sem se meter em encrenca também.

— O inferno que não posso. — murmurou o alfa. Olhou para Fabriciano — Você fica com ela e com Diego. Não deixe ninguém encostar neles que não for um maldito médico.

Ordenou e saiu, intempestivamente, deixando Melissa e Fabriciano olhando para a porta.

— O que ele vai fazer? — perguntou Melissa e seu pai deu de ombros, sem saber o que responder.

A menina respirou fundo e assentiu, fechando os olhos e rezando para que Derek não fosse fazer nenhuma besteira.

°°°•••°°°

O pesadelo estava em um eterno looping, quando eu achava que ia acordar, quando eu sentia meu corpo cair, eu voltava para aquele corredor, onde uma profusão de coisas aconteciam ao mesmo tempo e em câmera lenta. Eu via tudo de cima, via Jackson apertar a lâmina contra o pescoço de Melissa, ele vacilar, Melissa empurrar a lâmina com as mãos, ferindo-se. O alfa recuperou a lâmina, mas Fabriciano acertou um tiro em sua cintura, atravessando a pele e a carne. Derek me puxou pela cintura, apertando-me contra seu corpo e jogando-me contra Diego quase imediatamente.

Derek atacou Jackson com suas garras, o alfa perfurou a carne do lobo, fazendo um talho profundo na pele do outro. Meu lobinho caiu, o sangue sendo drenado pelo talho que havia em sua barriga. Diego estava ao lado de Melissa, no chão, olhando suas feridas e, então, com o ganido de Derek, ele olhou para Jackson, mas era tarde demais.

Jackson estava coberto por sangue dos outros, seus olhos estavam desfocados quando atacou Diego, enfiando a faca até o cabo nas costas do loiro. Melissa gritou. Eu tropecei, caí sobre Diego — nem sabia que estava tão perto de tudo aquilo — o sangue sujou meus dedos, Jackson me puxou, minhas costas colidindo com seu abdômen. Minha mente se apagou, eu gritei, os vidros explodiram, senti os cacos acertarem minha pele e então... Desmaiei.

Entretanto, nada aconteceu. Voltei ao início do sonho, o momento em que encarava Jackson na escada, sob a meia luz da lua.

°°°•••°°°

Derek estava furioso. Tão furioso que achava difícil controlar-se o suficiente para que suas orelhas e olhos voltassem ao normal. Seus instintos imploravam por Fred, seu lobo queria se esfregar em seu ômega e garantir que estava vivo e bem, sabia que só assim ele se acalmaria. Ficar ao lado de Melissa não adiantou para acalmar essa parte sua, apesar de, agora, sentir-se extremamente protetor em relação a ela também.

Seu peito subia e descia com violência e rapidez, ofegante, enquanto corria pelas ruas daquele bairro, suas quatro patas ardiam de encontro com o asfalto quente por causa do sol de meio da manhã. Saltava os carros que passavam pelas ruas, eram poucos, porque aquele bairro residencial não era um dos mais movimentados, apesar da época do ano, assustava pedestres e cachorros, que ganiam, uivavam, com medo do animal enorme que passava por seus portões, pois sabiam que aquele lobo era um alfa, seus instintos lhes diziam isso. Seus ouvidos lhes diziam isso.

O lobo entrou na casa do amado, cheirou sua casa, seus lençóis que estavam embolados em cima da cama não cheiravam a laranjas, como deveria cheirar, não. Tinham o cheiro de madeira: o cheiro natural de um alfa, junto com o cheiro forte de cavalo molhado e gasolina, o cheiro de Jackson.

Jackson estivera ali, Jackson estivera nos lençóis de seu ômega, aquele maníaco infestara aquele apartamento apertado que pertencia ao seu Frederick com seu cheiro nojento e fétido.

Ali, sentado sobre as patas traseiras, com o rabo balançando em raiva, Derek uivou e seu uivo acordou todos os cachorros da vizinhança, que uivaram junto com seu pesar, porque ele tinha... Medo. Medo de que aquele maldito e maluco alfa fizesse algo terrível ao seu amado, medo de que quem quer que fosse que estivesse por trás daquele maníaco obsessivo... Sim, por trás, porque aquele louco não agia sozinho. A última mensagem que receberam dizia isso.

Se alguém, fosse quem fosse que estivesse por trás de Jackson, fizesse algo ao seu ômega, o lobo garantiria que sua jugular fosse arrancada com suas próprias presas.

— Derek? — ouviu a voz logo atrás de si.

Uma voz masculina, acompanhada de um cheiro de terra recém molhada pela chuva e madeira. O lobo se virou, suas orelhas atentas viradas para o homem dono daquela voz rouca e agradável. Seus olhos violeta o olharam com desconfiança.

— Você é o Derek, certo? — disse o homem, olhando o lobo com um pouco de medo. — Ou eu estou ficando louco e falando com um lobo cinzento qualquer que resolveu invadir o apartamento do meu filho.

O lobo Derek sentou-se em suas patas traseiras, observando atentamente o empresário.

— Você sabe quem fez isso com ele, Derek? — perguntou Alfred e o lobo fez um movimento lento com a cabeça. — Consegue encontra-lo? — mais um movimento com a cabeça. — Por favor, traga-o de volta.

Sua voz soou falhada, fraca, frágil, e com olhos violetas e atentos percebeu mais traços do que perceberia com seus olhos azuis, humanos. Traços de tristeza profunda por ter visto sua mulher ser morta a sua frente — Fred lhe contara a história — traços de um homem forte que tentara, de forma equivocada, proteger seus filhos, e acabou os afastando. Traços de um homem que amava mais seus filhos do que qualquer outra coisa.

Então soube. Alfred Lucas Gabriel sempre soubera onde seu filho estaria, sempre soubera das ameaças que o filho recebia, sempre soubera do perigo que ele sofreria. Mesmo assim deixou-o viver a vida bem como entendesse.

Derek fez mais um movimento simples com a cabeça e cheirou mais uma vez aquele cômodo que agora não tinha o odor agradável de laranjas, sim um odor pungente e fétido de um homem louco e consumido por uma obsessão que acabaria com sua vida. E Derek teria a certeza disso, no instante em que colocasse sua presas no pescoço do ser abominável que estava com seu amado.

°°°•••°°°

Minha cabeça doía, meu corpo doía, meus olhos não queriam abrir. Eu fui consumido pela exaustão. Não sabia quanto tempo havia passado, mas meu sono não fora o suficiente para recarregar minhas energias: ainda me sentia exausto, mas completamente alerta, apesar do meu corpo não responder aos meus comandos como deveria.

Meus sentidos estavam atentos aos movimentos da sala, ao odor pungente de gasolina, graxa e metal, à superfície áspera e dura a qual meus dedos tateavam vagarosamente, procurando algo que eu não sabia exatamente o que era.

— Ele ainda não acordou? — ouvi uma voz conhecida a minha esquerda dizer, alto o suficiente para que pudesse ouvir.

Passos se fizeram presentes e eu voltei a minha forma semimorta, mantendo meus dedos imóveis, relaxados e pernas numa posição agradável para permanecer por mais um tempo.

— Não. — respondeu outra voz, também conhecida, mas não estava conseguindo ligá-la a um nome. — Já era para ter acordado, não é? Não deveria demorar tanto tempo assim para recuperar as energias.

A segunda voz soou preocupada comigo, como se se importasse com meu bem estar.

— Esse merdinha é tão fraco que demora um dia inteiro para se recuperar de uma descarga dessas de energia. — respondeu a primeira voz, com nojo.

— Ele é mais forte do que imagina. — agora era possível reconhecer a voz, minha mente conseguia liga-la a um nome: Jackson. Ele havia me sequestrado. — Mas fiquei sabendo que estava na mansão Frenshwick treinando com o mago deles. Geoffrey, eu acho, o nome do mago.

— É. Esse filho da mãe já escapou das minhas mãos uma vez. — murmurou a outra voz. — Ainda vou conseguir pega-lo, vai ver.

— Você disse que não faria nada ao Fred. — rosnou Jackson, mais próximo a mim.

— Relaxa, não vou matar seu brinquedinho, Jackson. — o tom daquela voz, soava fria e diferente da que me lembrava. — Ele vai estar vivo quando eu terminar com ele. Só não tenho certeza de qual vai ser a real situação da consciência dele.

— Você vai machuca-lo?! — a voz de Jackson parecia alarmada.

Mas que merdas aquele homem faria comigo para se preocupar com a minha consciência? O que diabos eu estava fazendo ali em primeiro lugar?

— Não vou fazer nada que vá matá-lo. — respondeu a outra voz, frio como gelo , cortante como um fio afiado de navalha. — Só vou...

Minha audição falhou em captar quaisquer coisas que ele tivesse dito, como se tivesse ficado fora do ar. No lugar, um uivo cortou a voz do homem por trás de tudo aquilo, um som cortante, que encheu meus ouvidos, fez doer, e um zumbido se tornou presente. Da minha garganta saiu um grito, porque aquela dor era insuportável. Pior do que a dor de cabeça que eu sentia, pior do que as dores em meu corpo, pior que a dor que sentia em meu peito toda vez que me lembrava da minha mãe.

Não senti braços me apertarem contra o corpo, enquanto me contorcia, não ouvi a voz suave de Jackson tentando me acalmar. Eu só queria sentir o cheiro de madeira misturado com um odor almiscarado que até hoje não descobrira o que era; só queria que os braços fortes de Derek me abraçassem com força, para eu poder esconder meu rosto em seu peito e sentir a maciez de sua pele em meu nariz; só queria Derek ali comigo.

°°°•••°°°

De volta ao hospital, Fabriciano estava na sala de espera, aguardando informações sobre o futuro namorado da filha. Dali, o beta pudera escutar vários cachorros uivando e sabia que Derek teria sido o responsável por aquela agitação, mas suas preocupações agora se voltavam para o homem desacordado na UTI.

Diego era um alfa gentil, com uma personalidade afável, carinhoso, que não merecia ter sido esfaqueado nas costas por um homem psicótico. Porque foi isso que viu nos olhos opacos, desfocados e sem vida de Jackson no dia em que o garoto invadiu sua casa, machucou sua filha e sequestrou seu filho. Sim, seu filho, era assim que considerava Fred, pois o garoto poderia ser maluco, mas tinha um senso de justiça apurado, era disciplinado e protegia sua filha, sua princesinha, dos tarados que tentavam ataca-la.

De qualquer forma, Diego estava naquela cama de hospital, respirando através de máquinas, podendo ser visto somente através de uma parede de vidro, pois havia perdido muito sangue e a facada não atingira por pouco sua medula, mas atingira um de seus órgãos vitais.

O coronel levava consigo, em um coldre pendurado nos ombros, escondido pelo casaco de sua universidade, uma arma calibre 22. A mesma arma com a qual acertara uma bala no tronco de Jackson, e teria acertado bem mais do que uma, se o homem não tivesse atacado seu futuro cunhado pelas costas.

E ele entendia o ódio que Derek estava sentindo, e entendia o quão estava sendo difícil para o homem controlar seus instintos lupinos, pois vira como saiu, semitransformado, com as orelhas transformadas em sua cabeça, os olhos brilhando, violetas, e as presas a mostra por entre os lábios.

Sim, Fabriciano Lopez conseguia ver com exatidão o quanto aquele lobo amava seu ômega. E o mesmo olhar que via nos olhares do lupino, conseguia ver nos olhos verdes de Diego. O loiro só era melhor em controlar seus instintos, mas sabia que já considerava Melissa como sua.

°°°•••°°°

Eu tinha dez anos quando senti o cheiro metálico de sangue pela primeira vez.

Estava em minha casa, na Capital, brincando de pique-esconde com a minha irmã. Escondi-me atrás de um enorme sofá que tínhamos na sala, frente a grande televisão tela plana que ficava num painel de madeira. Ela estava no jardim de trás da casa, onde havia uma piscina olímpica, com água cristalina e cheiro de cloro.

Eu me controlava para não rir, pois ouvia a voz de Liah gritar meu nome, procurando-me pela mansão enorme, perguntando aos homens que a guardavam se tinham me visto, mas eles não eram pagos para participarem de brincadeiras infantis, apesar de terem aceitado muitas balas e jujubas contrabandeadas em segredo. E, claro, eu era seu fornecedor, portanto, nunca falariam que eu havia passado por eles cinco minutos antes, com uma risada sapeca nos lábios e pedindo silêncio, porque logo minha irmã iria me procurar.

Então eu estava atrás do sofá de couro branco, com delicadas flores pintadas em bege, feito sob medida para aquela sala de paredes de pedras, brincando com a minha irmã quatro anos mais velha do que eu, quando ouvi os gritos vindos do escritório do meu pai.

Um apito suave soou pela casa: era o sinal que meu pai havia criado para chamar os guardas que nos protegia. E foi questão de segundos para que dois homens grandes e armados aparecessem em minha visão. Eu me levantei, andando, agachado, em direção a porta de mogno, ainda escondido pela estrutura do sofá. Observei de perto a movimentação: os homens de meu pai arrastando um homem de aparência frágil, magricela e de pernas longas para fora da sala.

Ele se vestia elegantemente e, mesmo arrastado, exibia um sorriso predador, manipulador, psicopata.

Com um movimento rápido subjugou um dos guardas, pisando em seus dedos do pé com o salto de sua bota estilo cowboy, dando uma joelhada nas partes baixas do outro, que urrou de dor.

Por um breve momento recitei, em minha cabeça, a primeira regra do meu treinador no judô: nunca subestime seu oponente.

— Você é um homem cheio de fraquezas, Alfred. — disse o elegante magricela, com uma voz rouca e barítona, quebrando todas as minhas expectativas.

Segunda regra: nunca julgue o livro pela capa.

— Eles não são minha fraqueza, Wes. — respondeu meu pai, com simplicidade, mas podia ver a tensão em seus punhos cerrados. Um soco seu e o homem magricela seria nocauteado. — Eles são minha família.

— Eles vão te levar à ruína. — rosnou o homem que se chamava Wes.

— Eu tenho certeza de que não vão, Wes. — meu pai se virou para os homens que se recuperavam dos golpes do outro — Levem-no para longe daqui.

Então se virou e deu um passo em direção ao escritório, mas foi interrompido pela voz da minha mãe.

Ela saía do corredor que dava para a cozinha, com uma assadeira de cookies nas mãos — era uma das suas receitas especiais que ela tentava aperfeiçoar — ela chamou o marido, então parou quando viu algo. Eu vi quando seus olhos se arregalaram. E tudo ficou em câmera lenta.

Meu pai se virou para olha-la, mas já era tarde. Havia uma arma tocando a cabeça da minha mãe, flutuando. Eu ouvi quando ela atirou, a queima roupa, na minha mãe. Havia sangue para todos os lados.

— Mãe! — eu gritei. A essa altura, eu já corria em direção a ela, sem me importar que, agora, os olhos do homem magricela estavam em mim.

Lágrimas surgiram em meus olhos. Como aquilo tinha acontecido? A arma estava flutuando! Não havia ninguém para pressionar o gatilho. Ninguém! Eu olhei para o homem magricela, que agora tinha um sorriso frio e enorme e seus olhos brancos brilhavam, voltados para meu pai, como se dissesse: eu te avisei. Alfred estava paralisado, sem saber o que fazer. Eu segurava a cabeça de minha mãe em meu colo, o sangue sujando minhas roupas e minhas mãos.

Eu solucei em sua cabeça, fazendo carinho em seus cabelos loiros e longos da minha mãe. Seus olhos estavam arregalados, sem vida, desfocados. Os cookies estavam espalhados no chão, a assadeira acabou na barriga da minha mãe. Eu olhei para o homem magricela com a visão embaçada, ele era o culpado de tudo aquilo.

Wes olhou para mim, seu sorriso diminuindo a medida que me observava, mas logo um novo interesse ascendeu-lhe o sorriso novamente. Seus olhos brilharam novamente e a arma voltou-se para a minha cabeça, o cano ainda quente tocando meus cabelos eu o encarei, sentindo meus lábios tremerem de raiva. Eu senti um puxão no meu estômago e meus dedos formigaram.

— Venha até aqui garoto. — ele falou, a pistola cutucando minha cabeça.

— Me obrigue. — falei, minha voz soou mais alta, como se estivesse 3 pessoa falando comigo.

— Você está com uma arma na cabeça. — ele falou, como se estivesse se divertindo.

Meu pai ainda parecia em transe.

— Você é um idiota. — falei, com a maior calma, minha voz ainda potente — Vai embora.

— Venha comigo, ou quer ter o mesmo destino da sua mãe?

— Vai embora! — gritei, o puxão em meu estômago se tornou mais forte e a arma parou de tocar minha cabeça.

Ouvi uma explosão que tirou a atenção do homem em mim e fez meu pai sair do transe, seus olhos retornaram ao foco, piscando algumas vezes para se voltar para mim, como se fosse a primeira vez que estivesse me vendo ali.

— ... o que vai fazer com ele? — escutei a voz de Jackson e minha consciência voltou aos poucos.

Meus dedos tocaram uma superfície gelada, lisa, e eu ainda podia sentir o cheiro de graxa e gasolina, eu estava deitado sobre uma mesa de metal? Era isso? Eu não conseguia me mexer. Estava preso e eu sentia cintos de couro prendendo meu corpo à superfície metálica.

— Nada que te interesse, Jackson. — respondeu a voz, enquanto mexia na dobra do meu cotovelo.

— Como você conseguiu se disfarçar tão bem como tio dele? — perguntou Jackson.

— Não é difícil quando você tem um pouco de magia de verdade. — falou o homem, dando um peteleco na minha testa, fazendo meu rosto contrair em dor. — Pode abrir os olhos, sobrinho. Eu sei que você está acordado.

— Nada escapa do seu radar, não é mesmo, Wes? — falei, abrindo os olhos e sorrindo para o homem magricela que atirara em minha mãe sete anos antes.

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