C. 9 - STALKER

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A semana que se seguiu teria sido mais tranquila se eu não sentisse Jackson me encarando o tempo inteiro.

As mensagens anônimas continuaram, dessa vez escritas à mão. Elas iam sendo encontradas em todos os lugares, no caixa, por meu tio e outros funcionários da lojinha de conveniências, em prateleiras aleatórias, por clientes e, uma vez, por Derek, que rosnou e jogou o post it no lixo. Recebi flores — jasmim, minha flor preferida — com um cartão especialmente irritante, pedindo para desbloquear seu número em meu celular. Uma mensagem chegou a aparecer na minha porta de casa, ameaçando a aparecer se eu não o desbloqueasse. No dia seguinte, uma rosa branca e um bilhete apareceram em meu travesseiro, nesse dia eu fiquei com medo.

Ele havia entrado na minha casa, enquanto eu dormia, silenciosamente colocara uma flor e um maldito bilhete no travesseiro ao meu lado, sem que eu percebesse. Aquele cara já tinha acesso a minha casa, como assim?

Nesse dia arrumei minhas coisas, uma mala foi o suficiente para levar o que eu precisava para passar um tempo na casa de Melissa. Avisei ao meu tio que ia viajar e ficaria uns dias fora, mandei uma mensagem ao meu pai, porque agora ele resolvera aparecer em minha vida e eu era de menor, então lhe devia algumas satisfações. Disse que passaria uns dias na casa de Coronel Lopez e que, provavelmente não sairia de lá para fazer muitas coisas. Não queria que meu pai soubesse que eu estava sendo seguido, ele provavelmente me levaria para a fortaleza na Capital e essa era a última coisa que eu queria.

— Talvez isso seja o mais seguro, Fred. — falou Melissa quando contei o que aconteceu, sentindo meu coração acelerado. — Esse cara... Essa pessoa entrou na sua casa, Fred.

Eu estava em sua casa,  sentada em sua cama que a dividiria com a dona. Os lençóis eram brancos, os travesseiros tinham fronhas floridas e o nas paredes brancas, havia flores pintadas com um pincel fino, em preto, feitas pela própria Melissa. Contei o que estava acontecendo ao Coronel Fabriciano Lopez, que acionou seus contatos para investigar o dono dessas mensagens anônimas.

Naquele dia, Derek ficou indignado porque não foi o primeiro quem contatei e porque eu  fui para a casa de Melissa, ao em vez da dele. Eu prontamente expliquei que a pessoa já sabia quem ele era, onde era sua casa, então não seria o lugar menos provável.

— Além do mais, sua casa era longe, eu não queria te dar o trabalho de me buscar, lobinho. — falei, enquanto acariciava seu rosto, sentado em seu colo, no sofá.

— Não seria trabalho nenhum, meu gato. — resmungou um Derek chateado, com um beiço de todo o tamanho.

Eu sorri com sua doçura, beijando-lhe os lábios, abraçando-o.

A partir daquela noite, Derek e Diego fizeram acampamento na sala de televisão dos Lopez, com a desculpa de que protegeriam a casa de qualquer cara maluco que resolvesse me seguir.

Sra. Lopez não poderia ter ficado mais feliz ao receber tantas visitas.

Fez meu bolo preferido e uma enorme lasanha para comemorar a vinda de todos para sua casa. Todos os dias que restaram naquela semana foram festejados, apesar da ansiedade, curiosidade e preocupação por não achar quem era o cara louco que estava fazendo aquilo comigo.

°°°•••°°°

A cinco minutos dali, em um apartamento pequeno e apertado perto da avenida principal do bairro residencial onde Frederick vivia, um alfa andava como um lobo acuado, o cheiro já um pouco fraco, o deixando maluco, porque sabia que o dono daquele cheiro suave e cítrico não voltaria àquele lugar tão cedo. Seus olhos castanhos claros estavam mais escuros e avermelhados, com um halo completamente vermelho em volta da íris, que brilhavam com o ódio.

Aquele ômega era seu, somente seu, bem antes daquele homem que dizia-se seu dono. O alfa sabia que aquele ômega era especial, sabia que aquele ômega, mesmo antes de saber que ele era um ômega frágil, pequeno, fraco... O alfa sabia que Fred era especial muito antes daquele maldito lobo, ele era sua posse bem antes de aquele lobo saber que o adolescente existia!

O alfa se deitou na cama king size, esparramou-se nos lençóis com cheiro de laranja, apertando o tecido contra o corpo, contra as mãos, contra o peito, contra o rosto, inalando o seu cheiro preferido em todo o mundo, tentando acalmar seus nervos.

Fred havia sumido, fugido de seu alcance, de seus olhos, de seus braços.

Seu coração estava apertado em seu peito, sua mente vagava pelos lugares que seu pequeno poderia estar, mas seus pensamentos não faziam o menor sentido. Havia sido tomado pela raiva, pelo ódio. Estava com sede de sangue. Inalou novamente o cheiro que o acalmava, tentando botar suas ideias no lugar, mas só de pensar no seu ômega nos braços daquele Derek deixava sua mente em chamas. Sua visão ficava vermelha, sua mente se tornava turva e ele só queria arrancar a jugular daquele lobo idiota.

Entretanto, haviam lhe mandado a chave daquele apartamento, para deixar o bilhete em seu travesseiro enquanto dormia. Haviam lhe mandado ir àquele apartamento e esperar. Por quem? Não fazia a menor ideia.

Então ouviu a porta ser aberta, o som da porta antiga raspando no piso de madeira. Olhou para o homem que entrou naquele pequeno apartamento, espantado, sentado na cama, enroscado no lençol branco com cheiro suave e cítrico. O que ele estaria fazendo ali, àquela hora da noite?.

— Ah, você já está aqui. — falou o beta, com nojo. — Imaginei que estaria aqui.

O alfa franziu o cenho. Aquela era a pessoa que estava lhe ajudando todo aquele tempo?

— O que você está fazendo aqui?

— Eu só quero te ajudar, Jackson. — o homem respondeu, cruzando os braços, apoiando as costas no portal da porta antiga que arrastava no chão de madeira.

°°°•••°°°

Era fim de semana novamente. Derek levou-nos — eu, Mel e Diego — para sua casa, tomando um caminho alternativo que não passava pelo posto ou sequer perto da minha casa. Fomos cantando músicas aleatórias que passavam na rádio do carro, ligado por bluetooth no celular de Diego, que tocava todos os estilos de músicas. Foi uma das poucas vezes que vi Melissa cantando, divertindo-se espontaneamente, por livre e espontânea vontade, mesmo que, em sua mão levasse um livro aberto, com as páginas marcadas.

Decidimos que ficaríamos todos na mansão Frenshwick naquele fim de semana, enquanto eu tinha minhas aulas com Geoffrey, eles ficariam na piscina ou em qualquer outro canto daquela enorme casa. Eu cheguei a reclamar, mas eu sabia quão importante eram aqueles treinos, principalmente porque não queria machucar meus amigos e todos aqueles que amava, e, além disso, queria eu mesmo pegar quem estava me ameaçando e incinerar seu corpo.

Tá, talvez tenha sido um pouco agressivo demais, ainda bem que Melissa não podia ouvir meus pensamentos. Nem Derek. Ri comigo mesmo com esse pensamento enquanto caminhava ia para o amplo jardim dos fundos, com seu gramado perfeitamente cortado e em um lindo verde esmeralda. Geoffrey já estava ali, com uma bermuda branca de tactel e uma regata que deixava seus braços mais a mostra. Suspirei. Ele, claramente, estava pronto para o abate. O meu abate.

Vi um sorriso sacana se abrir em seu lábios, seus olhos ficarem levemente esbranquiçados e seus dedos soltaram faíscas, engoli o seco. Ah, qual é, eu mal cheguei! Ele atacou. Não tive muito tempo para me concentrar, no perigo iminente, um puxão quase insuportável surgiu em meu estômago e meus dedos formigaram quando senti um choque tocar meu corpo quando ele direcionou a energia para mim, mas não foi tão intenso quanto previ. Eu apontei para o chão, perto dos pés do Frenshwick mais velho, direcionando a energia para o chão, deixando um círculo preenchido por fogo de pelo menos seis centímetros de diâmetro perto de seus pés.

Eu apoiei minhas mãos em meus joelhos, sentindo meu peito queimar. Minha respiração estava pesada e ofegante enquanto ouvia os passos de Geoffrey aproximando-se de mim.

— Você conseguiu. — disse, batendo de leve em minhas costas. — Mas agora vamos aprender como controlar a energia que sai de dentro de você. — respirei fundo e me ajeitei, fechando os olhos e assentindo. — Você viu o que fez? Sentiu?

— Eu redirecionei a energia. — falei, olhando para o círculo de fogo.

— Você redirecionou a energia, sim. — disse Geoffrey, com as mãos ainda em minhas costas, guiando-me para ficar frente a frente com as chamas —Mas você fez mais. A quantidade de energia elétrica que eu mandei pra você não geraria essa quantidade de fogo. Você adicionou energia além de redireciona-la. Vamos aprender a controlar essa quantidade de energia pra você não ficar tão cansado.

Eu respirei fundo e assenti. Então o treinamento começou.

°°°•••°°°

O dia se passou enquanto eu treinava com Geoffrey, quando paramos, estrelas pontilhavam o céu e formavam constelações, luzes acenderam-se automaticamente quando o sol se pôs. Eu estava deitado na grama, os braços esticados para cima, as pernas esticadas, meu coração batia rápido no peito, meus olhos estavam quase fechados e eu não tinha forças para me levantar sozinho. Meu corpo doía, minha mente estava cansada, mas eu estava feliz. Eu estava cansando menos, estava desprendendo menos energia para redirecionar energia, então podia sentir meu corpo menos cansado cada vez que atacava.

— Hey, gatinho. Preciso te levar pro banho de novo? — ouvi a voz de Derek, macia, próxima a mim.

— Oh, por favor. — falei, manhoso. — Eu não aguento nem abrir os olhos direito.

— Isso não vai ser pra sempre, mocinho. — disse o alfa, pegando-me no colo e levando-me para dentro.

Sorri brevemente, deixando que minha cabeça tombasse, caindo no peito dele. Eu acariciei a pele dourada de seu peito com dedos leves, vendo-o se arrepiar com meu toque. Apreciei a sensação de sua pele arrepiada contra meus dedos e abri os olhos, focando em sua barba, deixada por fazer, que cobria a covinha que ele tinha no queixo. Derek era extremamente lindo e gostoso e forte. Eu me via caindo cada vez mais por seus carinhos, seus beijos, sua boca. Sua proteção.

Desde que o maluco entrou em minha casa, enquanto eu dormia, ele esteve comigo, como um guarda-costas, grudado como chiclete. Entretanto, sua companhia me agradava e eu sentia que era muito mais do que isso. Estar com ele me deixava seguro, eu me sentia completo, e quando ele ia para sua casa e eu pra casa dos Lopez, sentia sua falta.

Isso era um tremendo de um absurdo. Como você sente falta de alguém dessa forma? Eu não conseguia ficar mais do que um dia longe daquele homem sem sentir meu peito apertar com a saudade. Eu estava completamente viciado em seu cheiro, em seu toque, em sua boca, em seu gosto... Quando Derek me abraçava, eu podia sentir seu calor, podia sentir seu carinho, podia me sentir seguro.

Respirei fundo contra seu peito, deixando-me divagar enquanto ele subia as escadas comigo. Nós entramos em seu quarto e ele me deixou sentado sobre a tampa do vaso sanitário e eu me permiti observar.

Derek estava com uma bermuda de tactel, sem camisa. Seus músculos se contraíam enquanto ele se movia, esticava-se para pegar uma toalha que estava pendurada em algum canto atrás da banheira, dobrava-se para pegar um sabonete novo num armário, ou um shampoo. Mordi o lábio, sorrindo para o garoto, tombando a cabeça enquanto observava se mexer com maestria dentro de seu próprio banheiro. Aproveitei sua distração em arrumar as coisas e tirei a camisa, somente para ajudá-lo, caso ele decidisse tirar a minha roupa.

— Der? — chamei, observando-o quando se virou para mim. — Me ajuda a tirar a bermuda?

— Claro. — ele falou, como se fosse óbvio.

Sorri quando ele se aproximou e me levantei, sozinho, apesar das pernas levemente trêmulas. Ele começou a desamarrar as cordas que prendiam a bermuda a minha cintura e passei os olhos por seu abdômen sarado, por onde meus dedos passavam, vendo-os se contrair logo depois. Mordi o lábio quando cheguei ao botão de pressão abaixo de seu umbigo. Meu rosto corou e seus dedos pararam o que estavam fazendo, como estátuas, enquanto eu olhava para seu rosto, vendo seu maxilar travar enquanto eu desabotoava sua bermuda e desgrudava o velcro. Um rosnado suave e excitado surgiu em seus lábios, fazendo sua garganta tremer levemente enquanto seus olhos descia pros meu rosto, fazendo-o esquentar mais ainda.

— Fred... — rosnou, enquanto eu abaixava lentamente sua bermuda, apertando a pele suave e branca de sua bunda ainda sem tirar sua cueca branca de algodão. Sorri de lado, sentindo meu membro endurecer em antecipação.

Baixei o olhar para seu ombro, depositando um beijo ali, então mordendo-o com força, para deixar uma marca suavemente avermelhada em sua pele. Ele gemeu, apertando minha cintura enquanto eu subia com meus dedos, delineando cada gominho de seu abdômen sarado.

— Fred... Você... Eu... Hmmm... — minhas mãos desceram novamente, passando por seu membro, apertando-o sobre o tecido macio da cueca. Sorri quando sua cabeça caiu em meu ombro, sua língua passando na curva do meu pescoço, causando-me arrepios. — Você... Você vai me dei-xar louco, gatinho.

Seu sussurro soou sôfrego e entrecortado em meu ouvido, sua respiração quente deixando minha pele arrepiada. Fechei os olhos quando seus lábios tocaram minha orelha, chupando-a enquanto minha mão massageava seu membro sobre o tecido. Gemi baixinho e senti seus dedos longos começarem a trabalhar para abaixar tanto minha bermuda quanto minha cueca, apertando minha bunda e trazendo-me para si, meu membro se chocando com minha mão. Arfei e senti suas mãos pegarem meus cabelos com certa violência, puxando-me para um beijo lascivo, desesperado.

Então alguém bateu na porta. A voz de Melissa atravessou a madeira, abafada e um pouco desesperada.

— Fred! — ela gritava, e eu franzi o cenho, soltando Derek e me afastando, olhando-o preocupado. — Fred, eu sei que está aí dentro! Por favor!

Ela estava chorando? Sua voz estava falhada e conseguia ouvir seus soluços através da madeira.

— Ela tá chorando. O Diego fez alguma coisa, será? — perguntei, o pensamento me fazendo rosnar e me afastar de Derek completamente, saindo de seu toque e vestindo a bermuda. — Eu vou matar seu amigo se ele tiver feito algo com a Mel, Der.

— Ele também está lá fora. — respondeu Derek, com o cenho franzido, abotoando a bermuda. — Ele está tentando acalma-la. Aconteceu algo bem grave mesmo.

Respirei fundo, sentindo minha irritação e frustração se voltarem para aquela loira que havia me interrompido. Vesti minha bermuda, gemendo quando a cueca apertou-me, confinando meu membro, e abri a porta, vendo a loira sendo abraçada por Diego. Ela estava encolhida nos braços do maior, podia ver seu corpo tremer de medo.

— O que aconteceu? — perguntei, aproximando-me da menina. — Mel?

— O cara descobriu onde você está ficando, Fred. — disse Diego e Mel olhou para mim. — Ele mandou uma mensagem pra Melissa...

— O quê? — perguntei, sentindo meu coração acelerar. — Cadê?

Diego pegou o celular e entregou-me. A mensagem estava aberta e um riso de escárnio saiu entre meus lábios, quase jogando o celular alheio no piso.

— Filho da puta! — disse e Derek pegou o celular da minha mão.

Nós sabemos que Fred está com você. — disse Derek, lendo a mensagem em voz alta. — Avise-o que estamos esperando, se ele não voltar... e tem uma imagem.

Ouvi-o rosnar e ele apertou o celular em sua mão, amaçando o aparelho em sua palma.

A imagem de Luísa, mãe de Melissa, com uma mão sobre a barriga pouco saliente por causa da gravidez pouco adiantada ficou gravada em minha mente, Fabriciano a abraçava por trás, alisando a barriga da esposa com um sorriso enorme nos lábios. Aquela foto foi tirada naquela manhã, quando ainda estávamos na casa. Lembro-me perfeitamente do que sra. Lopez estava vestindo aquela manhã.

Outra imagem surgiu em minha mente. Eu podia ouvir Luísa chorando, Melissa chorando. Sangue para todos os lados, havia sangue nos meus dedos, minha mão estava coberta por aquele líquido vermelho e viscoso.

Saliva surgiu em minha boca, a bílis subiu pela minha garganta e fez caminho para fora, meu corpo se contorceu e eu vomitei no carpete do quarto de Derek.

°°°•••°°°

Não foi difícil convencer meus amigos de que precisávamos voltar para a casa de Melissa, que Diego e Derek precisavam estar lá para protege-los, tio Fabriciano, tia Luísa e o bebê. Eu também precisava voltar para casa, precisava voltar para o meu apartamento para que aquele cara, fosse ele quem fosse, não me ameaçasse mais, fosse embora, desistisse de mim. No entanto, Derek nunca aceitaria isso. Nem Melissa. Nem tio Fabriciano.

Olhei para o ambiente longe da janela enquanto as estrelas faziam reflexo no mar e a grama passava como se corresse na direção oposta. Eu toquei o vidro frio com as pontas dos dedos, ideias vindo em minha cabeça, um plano para despistas os alfas e o beta que estariam no enorme chalé se formava em minha cabeça e minha barriga doía com a percepção de que iria fazer mesmo aquilo. Sairia de fininho da casa dos Lopez enquanto todos dormiam, apesar das dores no corpo que eu sentia, apesar do cansaço, apesar dos meus olhos pesados.

De repente eu estava em um quarto escuro. Eu sentia minhas mãos molhadas, sujas. Um cheiro forte metálico enchia meus sentidos, junto com o cheiro de madeira que um dia me deixara tão tranquilo e calmo, até protegido. Eu via sombras nos quatro cantos do quarto e uma iluminação fina surgiu, iluminando as sombras. Apertei os olhos para observar melhor o que eram aquelas sombras e vi formas humanas, encolhidas em posição fetal em cada canto. Todas estavam com uma poça embaixo, uma poça negra que crescia e chegava cada vez mais próxima dos meus pés enquanto eu chegava para trás.

Sem querer, aproximei-me do feixe de luz — ou o feixe de luz se aproximou de mim — e eu consegui ver melhor o que sujava minhas mãos e as deixava pegajosas. Algo viscoso subiu por minha garganta e coçou, eu tossi em minhas mãos e vi o sangue que as cobria completamente, mas o que saiu da minha garganta não era suficiente para deixar minhas mãos tão sujas.

Senti o líquido vermelho chegar a mim, molhando meus pés sujos e pegajosos. Meu estômago embrulhou, minha barriga doeu, e eu vomitei sangue sobre o sangue que estava no chão. Um acesso de tosse tomou conta de mim e eu comecei a sentir dor em meu peito, com dificuldade de respirar. Caí no chão, sobre a poça de sangue mais próxima, sentindo as dores tomarem mais conta do meu corpo e tudo o que eu queria era desmaiar, para que tudo aquilo parasse.

Quando abri os olhos, no entanto, o que vi fez meu coração bater mais forte e eu gritei antes que tivesse a chance de fazer qualquer outra coisa.

Derek estava ali, seu rosto estava pálido sob o fino feixe de luz, seus olhos azuis estavam sem foco e acinzentados. Estiquei meus dedos para tocar-lhe a face fria e lágrimas surgiram em meus olhos e mais um grito se formou em minha garganta e, então, eu acordei.

Meu coração batia forte no meu peito, meus olhos estavam arregalados e eu respirava com dificuldade, mas só conseguia sentir meu corpo ser abraçado contra o corpo musculoso de Derek. Ele me apertou com força, passando a mão em minhas costas, seu cheiro preenchendo meus sentidos, acalmando-me. Eu apertei-o, colei meu corpo no seu, chorando copiosamente em seus braços, entre soluços, contando o sonho que acabara de ter em que o via morto e frio sobre uma poça de sangue.

— Ei, ei, gatinho, eu 'tô aqui. — ele falou, baixinho, contra meus cabelos, passando a mão em minhas costas e ombro. — Eu 'tô aqui. Está tudo bem... Nada vai acontecer... Não vou deixar que nada aconteça a ninguém, ouviu, gatinho? Você é meu pra proteger, pra cuidar... Não vou deixar nada nem ninguém chegar perto de você, okay?

— Eu preciso voltar pra casa, Der. — murmurei, sentindo mais lágrimas surgirem em meus olhos. — Esse cara não vai parar...

— Nós vamos pega-lo, gatinho.

— Como? Não vou ficar me escondendo pra sempre.

— Vai dar tudo certo.

Eu assenti brevemente.

Sim, tudo dria certo. Eu ia acabar com essa merda hoje. Essa noite e...

Ouvi o alarme da casa ser ativado, o barulho de vidro quebrado, meu corpo ficou tenso e os olhos de Derek brilharam violetas, no escuro. Eu me levantei da cama onde estávamos deitados — nem me lembro como fui parar ali — com uma rapidez que impressionou a mim mesmo, saí do quarto e dei de cara com um Diego semialerta, com um taco de baseball precariamente equilibrado nas mãos sonolentas, um Fabriciano com um revólver calibre 22 nas mãos firmes e uma Luísa com uma mão no peito e outra no braço do marido.

— Diego, onde está Melissa? — perguntei, aos sussurros, olhando para o amigo do meu... Para o amigo de Derek.

Ele engoliu o seco e olhou para as escadas, onde passos de duas pessoas se aproximavam. Meu corpo ficou tenso, meus dedos formigaram e senti o puxão em meu estômago. Eu estava preparado para qualquer tipo de ataque, mas não sabia se tinha forças para aquilo, não havia me recuperado completamente do treino ainda, tampouco sabia controlar a energia sem desmaiar logo depois, de exaustão.

— Eu consigo sentir o cheiro dele. — rosnou Derek. Suas orelhas haviam aparecido em suas orelhas. — É o mesmo cheiro que senti em você quando pediu roupas de um dos seus amigos do posto outro dia.

— Jackson? — sussurrei. Uma disforme apareceu na escada e quando ele se aproximou pude ver melhor a forma diminuta de Melissa, imobilizada e com uma faca no pescoço. Jackson estava atrás dela, segurando a faca com uma mão enluvada. Sem máscara. — Jackson? O quê? Por que...

— Fred, não faz o que ele quer! — gritou Melissa, sua voz soando forte e sem falhas, apesar do medo que eu sabia que estava sentindo.

— Shhh. Não me faça cortar sua garganta, garota. — rosnou Jackson e eu dei um passo a frente.

— Jackson, solta ela. — falei, sério, sentindo meus dedos formigarem. — Solta ela. Ela não tem nada a ver com isso.

— Claro que tem! — gritou o alfa, descontrolado. — Ela ajudou esse lobo nojento a ficar com você! Você é meu, Fred! Meu!

Derek rosnou atrás de mim e coloquei uma mão em seu abdômen, impedindo-o de continuar sua movimentação. Eu escutei o choro baixinho de Luísa atrás de mim e eu dei um passo a frente, colocando as mãos a minha frente, espalmadas, pedindo calma. Sabia que Fabriciano estava com uma arma apontada pro cara e Diego estava pronto para bater nele. Derek estava inquieto atrás de mim, rosnando e eu podia sentir seus olhos perfurando minha pele, meu couro cabeludo, onde ele encarava.

Eu não ia deixar ninguém se machucar por minha causa.

— Jackson, você não quer machucar minha amiga. — falei, umedecendo os lábios, e eu podia sentir os olhos do alfa grudados em mim, observando todos os meus movimentos. — Você quer a mim, só a mim. Por favor, solta a Melissa. Ela não tem nada a ver com isso. Nem o tio Fabriciano, nem a tia Luísa... Jackson, por favor.

Eu sentia vontade de vomitar. Meu estômago estava embrulhado, mais uma vez, só de imaginar o sangue escorrendo pela pele alva da minha pequena amiga.

— Não faz isso, Fred! — disse Melissa mais uma vez, e Jackson forçou o fio da lâmina contra a pele macia de seu pescoço, fazendo um fio de sangue correr.

A loira engasgou.

— Cala a boca! — a voz de Jackson estava instável e eu engoli em seco. — Cala a boca.

— Jackson, solta a Melissa. — falei, mais uma vez. Tentando manter a calma, apesar do meu corpo trêmulo. — Por favor, solta a minha amiga.

Vi sua garganta engolir sob a luz da lua que entrava pela janela, seu perfil e o da minha pequena amiga ômega sendo traçados a meia luz. Eu continuava com as mãos espalmadas a frente do corpo, pedindo calma, mesmo que trêmulas. Jackson mordeu o lábio inferior, enquanto pensava no que fazer, a lâmina vacilando em sua mão por um breve instante. O suficiente para Melissa afasta-la e correr em nossa direção, pulando os três degraus que faltava para chegar no segundo andar. Então tudo pareceu um borrão em minha cabeça.

Escutei uma explosão e não tive certeza se fora eu ou Fabriciano que atirara. Senti mãos me agarrarem com força e me puxarem. Meu corpo colidiu com outro corpo e um grito gutural foi ouvido.

Minha mente estava em polvorosa. Eu não conseguia processar o que acontecia. Senti o cheiro metálico de sangue e minhas mãos ficaram molhadas quando toquei o corpo de alguém. Senti o gosto amargo subir pela minha garganta e lágrimas surgirem em meus olhos. Quando olhei para baixo, pensando encontrar o corpo de Derek, vi Diego, de barriga para baixo, o rosto virado de bochecha contra a madeira. Ele respirava com dificuldade.

Minha visão ficou turva. Senti alguém me puxar. O puxão do meu estômago se tornou insuportável e eu gritei quando uma janela explodiu, jogando cacos de vidro para todos os lados.

Eu desmaiei nos braços fortes e contra o corpo de alguém que eu não sabia quem era.

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