Entrei na cozinha. O Duarte andava de um lado para o outro, atrás da ilha que centrava o espaço e onde a Lena estava sentada.
– Môr, mantem a calma. O teu pai só vem daqui a…-olhou para o relógio azul no pulso- … três horas, e tu já estás stressado.
– Como queres que esteja Lena? Ele vai querer uma explicação plausível sobre o porquê de eu querer uma autopsia ao meu avô, QUE EU NEM SEQUER CHEGUEI A CONHECER. -gritou a ultima parte e eu observei, na soleira da porta, os traços de cansaço da noite anterior… afinal eu não fui a única que não dormiu.
– Só tens de dizer que estás no teu direito pedir isso. E podes falar do detective privado ao teu pai, desde que não incluas a investigação da Mia.
O Duarte aproximou-se da Lena, ela acaricio os seus cabelos negros e encaracolados e depositou um beijo leve na testa dele. Nenhum notara a minha presença.
– Obrigada Marlene, pergunto-me onde estavas á cinco meses antes.
– Sonhando com o teu rosto, enquanto ouvia musica deprimente no meu quarto cor-de-rosa…
Ambos sorriram e eu entrei finalmente na divisão.
– Bom dia…
A minha voz soou sussurrada e a Lena sorriu para mim quando depositei um beijo na bochecha do meu irmão.
– Não precisas estar nervoso Du… o pai adora-te, aposto que ele beijaria o chão onde pisas.
Sim, eu estava de super mau humor mas não mentira nas palavras que lhe dirigia.
– Mia, ele não tem assim tanto amor como…
– Por favor Duarte. Tu falas com ele, ele ouve-te e cuida de ti como se fosses a coisa mais importante do mundo. Basta pedires que ele faz…
– O mesmo faz contigo…
Soltei uma risada irónica.
– Poupa-me, ele não apareceu no meu primeiro dia de aulas, ele não me mandou um único postal no meu aniversário e mandava as prendas porque achava que eu era movida a dinheiro em vez de amor… ele nunca apareceu numa das minhas apresentações de arte, nunca olhou para mim nos olhos e das três ou quatro vezes que ficamos no mesmo compartimento ele arranjava uma desculpa para não dividir o mesmo ar que eu.
Eu estava enervada, e por mais que eu procure encontrar uma cosia boa na minha vida, eu não consigo. É frustrante. Eu tenho quatro suspeitos, três dos quais eu não encontro nada que prove, nem a inocência, nem a porcaria da culpa. Procuro provas e dou num caminho sem saída, e se for um cruzamento eu vou para a outra incógnita e… deuses, eu estou F-A-R-T-A!
Respirei fundo.
– Tu vais conseguir convence-lo a fazer a merda da autopsia, eu vou interrogar o amante da mãe e tudo vai correr bem… -disse confiante, o Duarte soltou um suspiro longo.
– E se ele não prestar declarações? -a sua voz era preocupação e negativismo puro… ele estava pior que eu na parte da frustração.
– Se ele não quiser conversar, eu vou bater com a cabeça dele contra a parede umas… hum, trinta vezes e quando ele estiver inconsciente vou amarra-lo a uma cadeira e obriga-lo a dizer tudo o que sabe.
A minha voz soou ameaçadora e a Lena soltou uma risada…
– Essa é a minha amiga… força nisso! -gritou de forma de apoio e o Duarte escondeu o sorriso que se formara na sua boca, idêntica á minha.
A verdade, era que eu fazer ia isso… eu torturaria qualquer palerma que se atravessa-se no meu caminho. E era melhor que o ordinário desse todas as declarações necessárias ou o “bicho ia pegar”.
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Razão De Viver (PARADA)
RomanceEntão era assim que se sentia uma adolescente órfã? Mas Mia não era órfã, ela tinha uma mãe assassinada, um pai que nunca conheceu mas que se tornou seu tutor legal e um irmão que é a sua razão de viver! Mesmo assim, viver não está nos seus planos...