25ºCapítulo

696 31 14
                                    

 Entrei na cozinha. O Duarte andava de um lado para o outro, atrás da ilha que centrava o espaço e onde a Lena estava sentada.

 – Môr, mantem a calma. O teu pai só vem daqui a…-olhou para o relógio azul no pulso- … três horas, e tu já estás stressado.

– Como queres que esteja Lena? Ele vai querer uma explicação plausível sobre o porquê de eu querer uma autopsia ao meu avô, QUE EU NEM SEQUER CHEGUEI A CONHECER. -gritou a ultima parte e eu observei, na soleira da porta, os traços de cansaço da noite anterior… afinal eu não fui a única que não dormiu.

 – Só tens de dizer que estás no teu direito pedir isso. E podes falar do detective privado ao teu pai, desde que não incluas a investigação da Mia.

 O Duarte aproximou-se da Lena, ela acaricio os seus cabelos negros e encaracolados e depositou um beijo leve na testa dele. Nenhum notara a minha presença.

 – Obrigada Marlene, pergunto-me onde estavas á cinco meses antes.

 – Sonhando com o teu rosto, enquanto ouvia musica deprimente no meu quarto cor-de-rosa…

 Ambos sorriram e eu entrei finalmente na divisão.

 – Bom dia…

 A minha voz soou sussurrada e a Lena sorriu para mim quando depositei um beijo na bochecha do meu irmão.

 – Não precisas estar nervoso Du… o pai adora-te, aposto que ele beijaria o chão onde pisas.

 Sim, eu estava de super mau humor mas não mentira nas palavras que lhe dirigia.

 – Mia, ele não tem assim tanto amor como…

 – Por favor Duarte. Tu falas com ele, ele ouve-te e cuida de ti como se fosses a coisa mais importante do mundo. Basta pedires que ele faz…

 – O mesmo faz contigo…

 Soltei uma risada irónica.

 – Poupa-me, ele não apareceu no meu primeiro dia de aulas, ele não me mandou um único postal no meu aniversário e mandava as prendas porque achava que eu era movida a dinheiro em vez de amor… ele nunca apareceu numa das minhas apresentações de arte, nunca olhou para mim nos olhos e das três ou quatro vezes que ficamos no mesmo compartimento ele arranjava uma desculpa para não dividir o mesmo ar que eu.

 Eu estava enervada, e por mais que eu procure encontrar uma cosia boa na minha vida, eu não consigo. É frustrante. Eu tenho quatro suspeitos, três dos quais eu não encontro nada que prove, nem a inocência, nem a porcaria da culpa. Procuro provas e dou num caminho sem saída, e se for um cruzamento eu vou para a outra incógnita e… deuses, eu estou F-A-R-T-A!

 Respirei fundo.

 – Tu vais conseguir convence-lo a fazer a merda da autopsia, eu vou interrogar o amante da mãe e tudo vai correr bem… -disse confiante, o Duarte soltou um suspiro longo.

 – E se ele não prestar declarações? -a sua voz era preocupação e negativismo puro… ele estava pior que eu na parte da frustração.

 – Se ele não quiser conversar, eu vou bater com a cabeça dele contra a parede umas… hum, trinta vezes e quando ele estiver inconsciente vou amarra-lo a uma cadeira e obriga-lo a dizer tudo o que sabe.

 A minha voz soou ameaçadora e a Lena soltou uma risada…

 – Essa é a minha amiga… força nisso! -gritou de forma de apoio e o Duarte escondeu o sorriso que se formara na sua boca, idêntica á minha.

 A verdade, era que eu fazer ia isso… eu torturaria qualquer palerma que se atravessa-se no meu caminho. E era melhor que o ordinário desse todas as declarações necessárias ou o “bicho ia pegar”.

Razão De Viver (PARADA)Where stories live. Discover now