Capítulo Dois - Parte Dois

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O bar da Rô ainda está vazio quando entro e ela nem nota que tem alguém se aproximando. Ótimo, melhor ela se concentrar nas coxinhas que está fritando mesmo, porque eu estou com fome. E, obviamente, não tenho nada de comer em casa. Preciso parar com isso e organizar minha vida.

Me sento em um dos bancos altos e me apoio no balcão antes de olhar ao redor. É. Não tem mais ninguém aqui. Acho que cheguei cedo demais, até para o meu normal.

— Só um minuto... — Rô olha para trás e para. — Ah.

Rio quando ela dá de ombros e volta a prestar atenção nas cozinhas fritando. É tão normal eu estar aqui que ela já parou de se preocupar com toda aquela fala de dona de bar há muito tempo. Se eu não quiser ou não puder esperar, eu vou falar e ela sabe disso. E se não tiver motivo para ter pressa, não vou atrapalhar o trabalho dela.

— Vai entrar na cerveja hoje de novo? — Ela pergunta.

Balanço a cabeça, mesmo que Rô não esteja olhando para mim. Ontem já serviu para me mostrar que beber não vai me ajudar muito.

— De volta ao normal — falo.

O que quer dizer uma cerveja enquanto como alguma coisa, antes de ir para casa. E está cedo demais para eu pensar em voltar para casa. Se não fosse o comentário de Lena sobre os guardas, eu provavelmente teria feito hora na casa dela e vindo embora bem mais tarde. Mas, depois da conversa com a mãe dela no almoço...

Os guardas realmente estão piores que o normal – e estão atrás de rebeldes. Não faço a menor ideia do que isso quer dizer, nem Lena. Se tem uma pessoa aqui que é vista como uma líder informal, acima dos líderes das gangues, é ela. Então, se não estão atrás das gangues nem de Lena, não faço a menor ideia do que estão procurando. O fato é que os bairros mais afastados já estão tendo problemas há alguns dias, só agora que está piorando para o pessoal que mora nos megaprédios, como eu.

Será que essa história de os guardas estarem piores tem alguma coisa a ver com a doença da Domina? Mas não, está cedo demais. Se não tem nenhum boato sobre isso correndo pela cidade – e Lena teria me falado se houvesse alguma coisa – então ainda não é conhecimento comum entre os draconem, também. E ninguém teria autoridade para mudar as ordens dos guardas dos bairros altos.

Mas é coincidência demais que isso esteja acontecendo praticamente ao mesmo tempo. Deve ter alguma ligação, nem que seja...

Não. Não importa. Isso não é minha vida e ficar fazendo teorias sobre os problemas dos draconem não vai levar a lugar nenhum. Só preciso tomar cuidado com os guardas e mais nada. O que quer que aconteça na cidade central, não vai me afetar.

Eu deveria ter me mudado para outra cidade, ao invés de ficar em Raivenera. Aqui, todos os draconem conhecem a história da draco servum banida, que quebrou a maior lei que eles têm. Se tivesse ido para outra cidade, Augusto não teria conseguido me encontrar e eu não teria que me preocupar com a possibilidade de os guardas me reconhecerem. Mas, na época, eu não tinha dinheiro para ir para outro lugar. Na verdade, ainda não tenho.

E o que eu mais queria era parar de ficar voltando a pensar nos draconem o tempo todo.

— Rô, não sabe de ninguém que teria trabalho para mim, não?

Ela olha de relance para mim e estreita os olhos.

— Mas você não estava na oficina da Lena hoje?

Dou de ombros. Normalmente não pego nenhum trabalho depois de fazer alguma coisa para Lena, porque estou cansada demais. Mas a situação é diferente, agora.

— Estava, mas acho que uma maratona de trabalho vai me fazer bem.

— Certo... Eu acho que ouvi alguém falando que precisava de alguns consertos...

Marcas do Destino (Draconem 1) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora