Capítulo Três - Parte Três

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Não falo nada enquanto Maira e Augusto entram no meu apartamento. Quem diria... Uma feiticeira e o príncipe dos draconem, aqui por vontade própria. Respiro fundo e tranco as quatro fechaduras da porta. Não quero imaginar o que estão pensando do meu apartamento. Isso aqui é completamente diferente de qualquer coisa na cidade central. É quase outro mundo, se for comparar com o que os dois estão acostumados – com o que eu estava acostumada antes de vir para cá. Sofás velhos, uma mesa pequena que ganhei de um primo de Nai, cortinas encardidas que já estavam aqui antes de eu me mudar... Pelo menos eu dei uma ajeitada na casa enquanto esperava meu celular formatar, hoje mais cedo.

E nada disso deveria importar. Pena que não consigo fazer meu cérebro me obedecer.

Maira e Augusto não ficaram nem para os ritos fúnebres da Domina e querem um lugar para se esconder. E eu não quero ser arrastada para o meio do que quer que esteja acontecendo, mas...

Respiro fundo e levanto minhas proteções ao redor do apartamento. Não é muita coisa, mas é melhor que nada.

— Eu posso fazer isso — Maira fala.

Balanço a cabeça, ainda encarando a porta.

— A assinatura da minha magia é velha. Está aqui desde que me mudei. Se alguém vier atrás de vocês...

— Vão reconhecer uma assinatura recente — ela completa.

Ela não discordou de mim. Merda.

E não posso continuar encarando a porta pelo resto da noite. Se quisesse mesmo ignorar os dois, devia ter mandado eles embora antes.

Eu realmente devia ter mandado eles embora.

Passo direto por eles e vou para a cozinha. Comi no bar, pelo menos, e tenho algumas cervejas na geladeira. Algo me diz que vou precisar delas para ouvir o que os dois estão fazendo aqui. Na verdade, acho que seria bom se tivesse alguma coisa mais forte.

Pego uma cerveja, abro e tomo um gole direto da garrafa. Certo. Vamos lá.

Os dois ainda estão parados no meio da sala quando volto e me jogo em um dos sofás. Pego meu celular e confiro se ainda está baixando os aplicativos. Ritmo de tartaruga bêbada, como imaginei. Acho que o vizinho não pagou a internet ainda.

— E então? O que vocês estão fazendo aqui? — Pergunto.

Augusto cruza os braços e dá um passo na minha direção.

— Você...

Maira coloca um braço na frente dele. Esperta, porque só quero uma desculpa para mandar eles embora antes de ser arrastada para o meio de um problema dos draconem. Eles me baniram, não foi? Qual a dificuldade em serem coerentes e esquecerem que eu existo?

Maira suspira e balança a cabeça.

— Eu não tenho certeza do que está acontecendo, mas tem alguma coisa errada.

Reviro os olhos enquanto cancelo o download de alguns aplicativos. Se o celular vai continuar dando problema, vou baixar só o mínimo necessário mesmo.

— Tem várias coisas erradas e não preciso nem estar na cidade central pra saber disso.

— Você não vai facilitar, não é? — Maira pergunta.

Olho para ela e levanto as sobrancelhas. Maira suspira e empurra Augusto para o outro sofá. Não preciso ser um gênio para reparar que ela está fazendo questão de mantê-lo na outra ponta, o mais longe possível de mim. Ao menos ela entendeu qual é o problema aqui.

— A Domina não é a única pessoa que adoeceu.

Meu celular cai no meu colo. Maira me encara, séria. Então eu não ouvi errado. Ela realmente falou isso. Mas...

Marcas do Destino (Draconem 1) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora