Capítulo Um - Parte Dois

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A cidade central, vista do alto, é uma grande área verde. Jardins, pequenas áreas com árvores frondosas e gramados enormes ocupam todo o espaço ao redor das casas e mansões. As propriedades dos draconem sempre são enormes, porque eles precisam de espaço para criar e treinar seus draconídeos.

Não falo nada enquanto sobrevoamos os gramados. Consigo ver as fazendas de criação e os draconídeos menores voando dentro de espaços controlados. Parece que nada mudou desde a última vez que passei por aqui, em um wyvern roubado. Na verdade, eu mudei, porque não me lembro mais de qual família mora em qual casa e dos nomes dos bairros e zonas de prestígio dentro da cidade central.

E eu tinha me esquecido como até a arquitetura aqui é um sinal de prestígio. As famílias com posições mais baixas na hierarquia têm suas mansões, que não são algo fora do normal. Mas quanto mais nos aproximamos do centro, mais as mansões mudam, se tornando palacetes e então castelos murados. E, no centro de tudo, o castelo de Raivenera, que é quase uma cidade pequena por si só, com muros altos ao redor da orla exterior e um fosso e outra muralha ao redor da área central, o castelo propriamente dito.

Faço um esforço para não reagir. Nem mesmo uma respiração diferente, porque não quero que Igor ou Maira percebam nada. Mas... Raivenera foi meu lar. Minha família tinha uma posição alta o bastante na hierarquia para morarmos dentro das muralhas do castelo e foi ali que eu cresci. Até que todos viraram as costas quando eu mais precisei e me baniram por tentar achar uma cura para minha mãe.

Às vezes, ainda me pergunto se não seria melhor terem me matado de uma vez.

Pousamos dentro da muralha interna de Raivenera. Sei que a maioria do pessoal nos bairros altos acha estranho a ideia de um castelo no centro da cidade, mas sou capaz de apostar que nenhum deles já veio aqui. Se tivessem vindo, teriam ouvido a lavagem cerebral dos draconem sobre como as grandes famílias sempre tiveram castelos, porque é o tipo de construção mais segura em caso de um ataque.

Besteira. Eles constroem castelos porque é uma forma fácil de intimidar os outros. Simples assim.

Salto do wyvern assim que tocamos o chão. Quanto mais depressa descobrir o que querem comigo, mais rápido vou poder dar o fora daqui.

Maira pula atrás de mim e dispensa o cavaleiro com um gesto. Sorri. Não é difícil ver que Igor odeia ter que aceitar ordens dela, mas ela está acima dele na hierarquia. Não que isso me surpreenda. Maira sempre foi uma das aprendizes mais poderosas, quando eu ainda morava aqui.

Não olho para trás enquanto atravessamos o gramado com passos rápidos e entramos no castelo por uma das portas laterais.

Respiro fundo assim que a porta se fecha atrás de nós e cruzo os braços. Tinha me esquecido do frio também. Dentro do castelo sempre está uns tantos graus abaixo da temperatura lá fora, por causa das pedras e da forma como ele foi construído. Isso aqui não fica quente nem mesmo no auge do verão.

Maira olha de relance para mim e começa a andar pelo corredor. A acompanho. Não tenho outra opção, de qualquer forma. Não queria estar aqui. Não queria ser forçada a voltar, mas fui. Nem mesmo depois de banida, os draconem me deixam em paz.

Pelo menos Maira está escolhendo o caminho onde tem menos chances de encontrarmos qualquer pessoa. Não faço ideia se isso é porque ela não quer ser vista com uma banida, mesmo que por ordens da domina, ou se é para me poupar de ouvir os comentários que tenho certeza que vão fazer se alguém me ver.

Não demora muito para entrarmos na ala da família real. Paro debaixo do arco de entrada. Só vim aqui duas vezes na minha vida. A primeira, quando fui oficialmente apresentada pelos Raivenera, quando fiz seis anos. A segunda, quando tive me entrada nos círculos das feiticeiras negada de forma definitiva.

Marcas do Destino (Draconem 1) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora