Capítulo Três - Parte Dois

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Não quero me preocupar. Provavelmente é paranoia. Coisas demais acontecendo ao mesmo tempo, e estamos chegando a conclusões estranhas por causa disso. A morte da Domina não vai fazer a menor diferença para os bairros altos. Provavelmente nem para a maioria dos draconem, na verdade. Todo mundo vai continuar seguindo como sempre, sem nenhum tipo de mudança, sem nenhuma caçada nos bairros altos... Só uma mudança de poder sem maiores problemas.

Eu quero muito acreditar nisso. Pena que não consigo.

Encaro a tela do celular. treze aplicativos baixados. Eu cheguei aqui cinco e pouco e o bar já estava cheio – o que quer dizer que a internet está lenta. Nesse ritmo, vou acabar subindo para casa e deixar tudo baixando na internet no vizinho até amanhã de manhã. Não que eu ache que ela vai estar muito melhor.

Quando voltei para casa – com as costas doendo depois de ajudar Nai a levar as compras – já era quase meio dia e a notícia da morte da Domina tinha se espalhado. A única coisa que ouvi nas ruas e nas passarelas foram comentários sobre isso e especulações sobre o que vai acontecer e com quem o príncipe vai se casar, já que um draconem não pode governar sozinho. É sempre um par. E agora as pessoas no bar estão continuando no mesmo assunto.

Eu devia ter ficado em casa depois que arrumei meu celular de novo. Devia mesmo. Ficar aqui só vai servir para me deixar mais paranoica, porque a cada nome que alguém diz que vai assumir o lugar da Domina, mais eu penso que alguma coisa vai dar muito errada. Não existe nenhuma nobre com cargo alto o bastante entre as feiticeiras para assumir o controle delas. As pessoas em posições mais altas são as que vêm de famílias sem nome: com a magia dos draconem, e só. A mesma coisa entre os cavaleiros, de onde poderiam tirar alguém em último caso. O que quer dizer que vão ter que trazer alguém de outra região.

Estou enferrujada demais. Não faço nem ideia de como estão os rankings de poder. Nada disso importa para uma draconem banida. Mas, agora, eu bem queria ter prestado mais atenção.

Pego uma coxinha do prato de plástico na minha frente e olho ao redor por puro hábito. Não. Balanço a cabeça e paro encarando a mulher que está na porta do bar. Não. Estou vendo coisas. Não tem outra explicação. É alguém muito parecida...

Ela olha para trás. Um homem se aproxima. Não. Eu não estou vendo coisas. Uma pessoa muito parecida com Maira, até poderia ser. Agora, uma mulher parecida com Maira e um homem parecido com Augusto? Não importa que os dois estejam vestidos como civis e que o cabelo deles pareça castanho – provavelmente algum feitiço de Maira para esconder o que deixaria claro que são draconem. Não tem como ser coincidência.

O que eles estão fazendo aqui?

Cruzo os braços e continuo olhando para eles. Se foram loucos o bastante para virem aqui, tentar me esconder não vai adiantar nada. E dessa vez não adianta pensar que pode ser um acidente, coincidência ou o que quer que seja. Eles não teriam outro motivo para vir aqui, especificamente no bar da Rô.

Se o bar estivesse um pouco mais cheio, eu provavelmente conseguiria me esconder no meio das pessoas. Droga.

E a Domina morreu hoje. Olho para o relógio na parede. Sete e quinze. Cedo demais... Os ritos funerários dos draconem costumam começar por volta de seis e meia e são longos. Se os dois estão aqui a essa hora, quer dizer que não estavam lá para os ritos da Domina. Augusto não estava lá para a despedida da mãe.

Quando olho para a porta de novo, Maira está vindo na minha direção, com Augusto logo atrás dela. Nenhuma coincidência mesmo.

Me inclino para trás na cadeira e dou uma mordida na minha coxinha. Eu devia ter comprado uma cerveja, também. Se vou ter que conversar com eles agora...

Marcas do Destino (Draconem 1) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora