Capítulo Quatro - Parte Um

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Coço o ponto incômodo nas minhas costas. Ele começou a coçar quando eu ainda estava no mercado com Nai, ontem, mas estava tão distraída que não percebi o que era: o lugar onde o ryu me marcou quando fui atrás dele. Por que, não faço ideia, mas tenho certeza de que não é uma coincidência.

Agora, o que eu não entendo é porque justo hoje tudo está quebrando na minha mão. Merda. Encaro a peça de madeira na minha mão. Ela é – era – um dos suportes da barraca de pipoca, mas a madeira rachou ao meio. Sem chances de salvar isso aqui. Pelo menos madeira é uma coisa que não falta por aqui, mesmo que eu quase nunca ache peças como queria.

— Ana? — Lena chama.

Jogo o pedaço de madeira na parede atrás da barraca. Não adianta de nada, mas pelo menos serve para eu gastar um pouco da minha raiva.

— Mais uma peça de madeira, então... Mike vai no depósito daqui a pouco, se já quiser fazer a lista — ela fala.

Fecho os olhos e respiro fundo. Ninguém aqui tem conta com o meu mau humor.

— Juro que não estou quebrando as coisas de propósito.

Lena revira os olhos.

— Claro que não. Só arremessando mesmo. Um dia desses vou te arrumar uma daquelas bolas anti-estresse.

E às vezes eu até queria que ela estivesse falando isso a sério. Ter alguma coisa para descontar minha raiva seria uma ótima ideia agora. Se bem que... Não é exatamente raiva. Não sei explicar.

Quando acordei, Maira e Augusto estavam sentados na cozinha, conversando em voz baixa. Não perguntei o que era: não faço a menor questão de me envolver mais do que já me envolvi. Quatro anos construindo uma vida longe dos draconem, para eles chegarem assim, ameaçando destruir tudo o que fiz aqui.

O fato é que avisei que precisava trabalhar, que tinha comida na geladeira e que se um deles pensasse em sair do meu apartamento enquanto eu estava fora, deixasse alguém entrar ou usasse magia de qualquer forma, eles iam estar por conta própria. Pela expressão de Maira quando concordou, não acho que preciso me preocupar, mas mesmo assim...

— Ana? Mais alguma coisa do depósito?

Balanço a cabeça, me forçando a prestar atenção no que está acontecendo agora. Pelo menos é raro eu ter tanta coisa para consertar nas arenas improvisadas. Normalmente Lena só me chama depois dos dias em que as lutas lotam demais, como quando Natasha concorda em lutar – o que aconteceu anteontem.

— Vocês ainda têm as medidas das coisas das barracas? — Pergunto e espero ela assentir. — Preciso de mais dois suportes como esse aqui e três painéis frontais.

Lena faz uma careta.

— Pensei que fosse ser só um painel. Pelo menos só vi um deles quebrados.

Porque aparentemente alguém achou uma boa ideia chutar a frente da barraca. Não que isso seja uma surpresa. Pessoas reunidas para assistir lutas, bebendo. É óbvio que uma hora ou outra isso vai acontecer. E, nas palavras de Lena, enquanto estão chutando as barracas, tudo bem. Estão pagando para entrar, justamente para cobrir esse tipo de custo.

— Só uma está quebrada, mas as outras não vão aguentar muita coisa. Melhor trocar de uma vez — aviso.

— Você que sabe.

Encaro as costas de Lena enquanto ela se afasta, antes de olhar ao redor. Estamos em um galpão subterrâneo enorme, com paredes e teto de concreto e luzes fortes presas em suportes de metal que passam por todo o teto e também servem para dividir as áreas do evento. Não tem muita gente aqui, agora, só eu e o pessoal que está buscando as coisas no depósito da gangue que está patrocinando as lutas esse mês, além de Lena. Todo tipo de manutenção nas arenas é feito aos poucos, para evitar chamar a atenção dos guardas com pessoas demais indo para um lugar abandonado.

Marcas do Destino (Draconem 1) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora