Pesadoo.
Autora Eli Souza
"Toc toc"
Eu estava aflita, ansiosa. Não tinha certeza se meu pai estaria em casa. Afinal, Ana Paula havia dito que ele tinha voltado às noitadas.
Se meu pai estivesse em casa, eu iria desmascarar Ana Paula. Ele iria colocar ela pra fora de casa, ou talvez até internar ela naquele maldito lugar. Mas assim, meu pai se transformaria naquilo que ela era , um monstro. Eu não queria jogar esse peso nas costas dele. Mas se ele estivesse lá, era isso que teria acontecido.4 dias após a morte do meu amado, eu voltaria pra minha casa. Ainda estava triste , mas a cada passo que eu dava em direção a ela, a tristeza ia se transformando em ódio. Eu torcia para que meu pai estivesse lá. Mas ao mesmo tempo eu torcia para que não estivesse. E ele não estava. Mas deveria estar.
"Toc toc"_ Já vou. Isso são horas de chamar na porta dos outros? Já estou indo.- falou Ana Paula colocando a cabeça para fora da janela do quarto e olhando para baixo.
Do alto e na pouca luz, ela não me reconheceu. Acredito que não tinha sido informada da minha fuga do hospital. Com certeza ela saberia que era eu.
Enquanto esperava ela descer para me atender, eu observei que meu pai não mudou nada na casa, a mesma pintura, já descascada. O muro pela metade e sem portão. Todo o bairro estava diferente, mas a casa tinha parado no tempo. Era como se o tempo não tivesse passado, e eu nunca saído Dalí.Ana Paula abriu a porta.
_pois não?- olhou e não me reconheceu.
Eu estava com roupas de uma mulher normal, estava limpa, cabelos arrumados. Diferente de quando me viu no hospício; cabelos embaraçados, o uniforme azul desbotado e sujo. Eu fedia.
Mas no minuto seguinte, ela me reconheceu.
_ Você?! - perguntou com os olhos arregalados.
Tentou fechar a porta na minha cara, mas eu travei com o braço. Ela forçava de lá ,e eu forçava de cá. Eu consegui empurrar a porta.
Entrei, ela ficou atrás do sofá.
_ Como você conseguiu sair? -perguntou assustada.
_Eu recebi alta. Não te avisaram? -falei com ironia.
_Isso é mentira. Eu não autorizei você sair.
_aah maldita. -Eu a olhava fixamente.
Ela fez menção de ir pra cozinha, queria escapar pelos fundos. Mas eu bloqueei a passagem com meu corpo antes. Ela pulou pra trás.
_ Onde está meu pai? Precisamos fazer uma reunião de família.
_Seu pai não dorme mais em casa. Eu te falei.
_Ah, é verdade. Você engravidou , achando que ia fazer ele mudar... Falando nisso, onde está o meu irmãozinho?
_ Você não vai se apaixonar do meu bebê. Por favor Beatriz, vá embora. Você pode ir pra longe daqui. Eu te dou dinheiro, você vai pra onde você quiser. Seu pai já se conformou com a sua morte.
_ Mas eu não morri. Morri? Acho que ainda estou viva. Olha eu aqui.
Ela fez menção de correr para a porta da sala. Mais uma vez corri e bloqueei a passagem. Ele se afastou.
Eu que já estava com ódio no olhar, minha feição piorava. Eu tinha vontade de fazê-la sangrar. Naquele momento eu estava louca, queria me vingar. Ela se tremeu com o meu olhar ,e correu escada acima ,se trancou no quarto e começou a rezar.
Foi em vão. No escritório do meu pai, tinha um molho de chaves cópias, de todas as portas da casa. Quando eu era criança, me tranquei no quarto e não consegui destrancar. Então meu pai tirou cópias e guardou pra quando precisar.
Peguei as chaves na gaveta de sua escrivaninha. E na parede, aquele brilho intenso , me fez parar. A espada que eu sempre tive fascínio parecia me chamar.
A peguei , e meus olhos brilhavam. Seu corte era afiado, sua ponta , mais ainda.
Fui andando em direção ao quarto, com a ponta da espada raspando no chão.
Bati na porta quarto.
_Ana Paulaa. Abre a porta pra gente conversar.
_ Aquele que habita no esconderijo do altíssimo...
_Ta rezando Ana Paula? Não precisa ter medo não. Eu só quero conversar.
Coloquei a chave na fechadura, e quando abri, ela tinha um bebê no colo.
_Por favor não nos faça mal.
Eu recuei, não faria mal a uma criança inocente.
_Eu não vou fazer mal ao seu filho. E nem a você, como eu disse ,eu só quero conversar.
_E essa espada?
_Isso? Ah não, foi só pra te assustar. Vamos negociar. Você me dá um bom dinheiro e eu vou pra longe. Não precisa se preocupar.Coloquei a espada devagar sobre a cama.
_Viu? Desarmada.
_Eu vou te dar todo o dinheiro que tenho aqui ,e você some.
_Ta bom. Trato feito.
É claro que eu não tinha a intenção , tava fingindo entrar no seu jogo.
Jogou uma caixa em cima da cama.
_ Aí está. Pegue e vá embora.A criança em seus braços, estava coberta, mas ao jogar a caixa; o braço do bebê saiu da cobertura. Tinha a mesma mancha de Maria de Lourdes. Fingi não perceber. Peguei a caixa e saí.
Ela trancou todas as portas. Mas acabou se esquecendo que eu estava com as cópias das chaves.
Do lado de fora, o ódio sucumbia a minha alma.
_Minha filha. A desgraçada tirou ela de mim.Esperei por uma hora. Com cuidado destranquei a porta. Subi lentamente, me certifiquei do bebê estar no berço. Eu , naquele momento não senti nada pela minha filha. Fui ao quarto de Ana Paula, a espada ainda estava no mesmo lugar. Ela estava tomando banho. Quando ela saiu, a ponta da espada apontava para sua barriga.
_Vai morreeer. -Eu disse enquanto sorria.O que? Eu avisei que o hospício não sairia de mim. Eu entrei lúcida naquele lugar, mas eu saí louca de lá. Então...
Enfiei a espada nas suas entranhas. Suas pupilas ficaram dilatadas e seu olhar era de terror. Saiu sangue pela sua boca. Com toda minha força, fui subindo a espada cortando os seus órgãos , até chegar o meio dos peitos. O peso do seu corpo, ajudou.
Soltei a espada e seu corpo caiu.Entrei no banheiro despreocupada, e tomei um banho. Saí, me cequei , escolhi uma roupa de Ana Paula. E fui para o quarto de milha filha. Ela dormia . Me deitei na minha antiga cama, encostei minha mão no berço e adormeci.

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O manicômio
Historical FictionUma historia baseada em fatos reais, baseado no documentário Holocausto brasileiro . A história se passa Em Barbacena Minas Gerais nas décadas de 60 e 70 , no maior e mais cruel hospício do Brasil .