o manicômio

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Ficção histórica

Autora Eli Souza

Naquele dia , não me deixaram mais ver minha filha. Disseram que eu precisava de repouso; e que eu estava, também , sendo castigada pelo mal comportamento. Eu já estava muito abalada, e não poder ver minha filha, era estarrecedor. Mas fiquei quieta o dia todo. Não podia dar mais motivos , não queria continuar afastada da minha bebê.
De noite, na hora de dormir; uma irmã que sempre me tratava bem, disse que eu não me preocupasse , que minha filha estava bem. Não consegui dormir, estava um misto de emoções em minha cabeça.
Na manhã seguinte, as irmãs não queriam me deixar sair do quarto. Fiquei apreensiva, queria estar com minha filha nos braços o mais rápido possível. Então eu teria que me comportar, e esperar as irmãs permitirem eu sair. Estava demorando, e cada segundo parecia a eternidade.
Quando me deixaram sair, já era quase meio dia. Estava ansiosa, aflita. Corri para o berçário . Tinha algumas crianças, mas nenhuma delas era a minha filha.
_Onde está Maria de Lourdes? - perguntei
_ Não tem nenhuma criança com esse nome aqui. - falou a irmã.
_Como não? Ela nasceu ontem de manhã. Tem que estar aqui.- falei chorosa.
Outra irmã entrou, e disse que minha bebê tinha ido para um orfanato junto com outras crianças.
_ Não era pra ter levado a minha filha. Eu não autorizei. Eu quero ela de volta! Trás ela de volta!-eu gritei.
_ Você está muito alterada . Se controle. Sua filha vai ser adotada por uma família que possa dar uma boa vida pra ela. Dê graças a Deus ,por alguém querer cuidar dela.
_ Eu quero a minha filha! Trás ela de volta ou me mande pra junto dela. Agora!- Eu gritava descontroladamente.
_ Você vai aprender a me respeitar. Você não tem autoridade pra falar assim comigo. -falou me segurando pela gola da camisola.
_ Vamos dar um choque nela, pra ela aprender o seu lugar.
Fui arrastada por enfermeiros enquanto eu gritava. Me amarraram  em uma maca , colocaram uma bucha em minha boca, e me deram o choque. Em seguida ,fui levada para uma cela separada.

No dia 15 de novembro de 1976 eu ganhei a minha filha, e no mesmo dia , arrancaram ela de mim.

Naquela pequena cela, não tinha água, cama e nem um banheiro. Fiquei dias alí. E alguns deles, passei fome e sede.
Este hospital, era o inferno na terra.

Eu entrei lúcida naquele lugar, mas sairia louca de lá.

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