O manicômio

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Um conto fictício baseado em fatos reais.

Dia 1 de setembro de 1970, menos de um mês depois da morte de minha mãe; Ana Paula entrou pela porta da frente ,com suas malas.
Eu , que estava na sala fazendo o dever escolar , fiquei sem reação ao vê-la subindo as escadas. Meu pai logo atrás, passou por mim e  disse:
_ A partir de hoje, a Ana Paula vai morar com a gente. E ela vai cuidar de você filha.
_Eu não gosto dela. Eu não quero que ela seja minha mãe... Só tem 3 semanas que que minha mãe se foi, e o senhor já coloca outra no lugar dela?- falei chorando e correndo para o meu quarto.

Eu queria ter ido embora para São Paulo ,com meus avós, quando eles vieram para o enterro de minha mãe. Minha tia por parte de mãe, também queria me levar com ela. Mas meu pai, não deixou. Disse que me amava demais para ficar longe assim. Eu amava o meu pai, e também não queria ficar longe. Mas se ele continuasse  com suas noitadas ,eu ficaria sozinha .
Ele me pediu perdão por tudo , prometeu não sair mais e que cuidaria de mim. Me protegeria de tudo e de todos.

Mas Ana Paula , agora era substituta de minha mãe. Não para mim, mas para o meu pai.  E novamente ,eu queria ir morar com meus avós.
Os meses foram passando ,e Ana Paula tentava se aproximar . Eu fazia pirraça, xingava ela.
_ Você não é minha mãe. Sua bruxa. Vai embora dessa casa.
Certo dia ela me pegou pelos cabelos e me agrediu. Eu ameacei de contar para todos, o que ela havia feito comigo anos atrás. E a acusei de ser amante do meu pai, enquanto minha mãe ainda era viva.
Depois disso, ela não olhava mais para mim. Foi até um alívio, porque eu também a ignorava. E ficava cada uma pro seu canto.
Um dia ,meu pai me chamou para uma conversa:
_Filha, eu tô te pedindo para dar uma chance para sua madrasta. Ela nunca irá substituir sua mãe; mas sua mãe se foi, e agora é ela quem está aqui. Ela cuidará de nós.
_ Ela me bateu. Eu não gosto dela e ela não gosta de mim.
_Ela errou e se arrependeu, você vive fazendo pirraça. Você não precisa gostar dela , apenas respeita-la . Você pode não acreditar, mas ela gosta sim de você.

Eu não fiz mais pirraça, e resolvi viver em paz com Ana Paula. Conversavamos apenas o necessário. Íamos os três a missa de domingo; eu segurava uma mão de meu pai e Ana Paula a outra.  Quando minha mãe era viva, e quando nossa família era feliz, eu sempre ia no meio dos dois. Como eu tinha saudades daquele tempo bom.


Dia 3 de fevereiro de 1971, meu pai precisou fazer uma viagem de trabalho. No domingo, fomos Ana Paula e eu para a missa. E quando acabou, ela disse que iriamos visitar uma amiga dos tempos em que trabalhava no hospital colônia. Não iríamos demorar.

Ao chegarmos, um fedor imenso surgiu em meu nariz. Urubus sobrevoavam o local.

Entramos na recepção e ela pediu que eu aguardasse sentada em uma das cadeiras alí. Ela saiu de minha vista.
Vieram duas enfermeiras e pediram que eu as acompanhasse. Eu não fui. Disse que esperaria minha madrasta alí mesmo.
Mas uma delas me agarrou, eu tentei me soltar , aí a outra Enfermeira também me agarrou. Logo estava sendo arrastada para dentro do hospital. E antes de virarmos um dos corredores, vi minha madrasta e gritei por socorro; mas ela apenas sorriu e se despediu com um aceno de mão.
Fui levada para uma sala, onde as enfermeiras pediram que eu tirasse minhas roupas e vestisse uma camisola do hospital.(manicômio) .Mas eu resisti e lutava para escapar Dalí. Fui arrastada para outra sala e amarrada em uma maca . Eu gritava por socorro, quando colocaram um pano na minha boca. Logo senti meu corpo convulsionar. Estava na sala de eletro choques.
Desmaiei, e quando acordei , estava com a camisola vestida em meu corpo.
A enfermeira me levou tranquilamente para um outro quarto. Dessa vez, cheio de outras crianças. Me empurrou para dentro e trancou a porta.

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