o manicômio

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Autora Eli Souza

Logo eu fiquei grávida, e temia que ,ao nascer ,meu bebê fosse levado embora. Os bebês que eram nascidos alí, eram arrancados de suas mães; só permaneciam ,os que tinham algum problema.

Eu estava de 3 meses , quando eu fui chamada na sala de visitas. Sim, um ou outro recebia visitas ; um ou outro , recebia alta. Dependia se suas famílias , os quisessem de volta. Os que eram mandados por policiais , outras autoridades  ,ou os que a família não se importavam , morreram dentro daqueles muros.

Na sala de visitas, estava Ana Paula. Eu a agarrei , e lhe dei uns bons tabefes ; mas as guardas me agrediram, ameaçaram de me castigar. Me comportei melhor.
Ana Paula estava abatida, triste. Mas ainda era linda, com aqueles cabelos cacheados e sua pele marron . Só não estava mais com a sua arrogância de sempre.
Me sentei , e ela também. Uma mesa, separava nós duas. Eu queria socar aquela desgraçada; mas as guardas, estavam praticamente em cima de mim.

_Beatriz, eu vim aqui te pedir perdão.
_ Perdão?? Você veio me pedir perdão??- fiz cara de deboche.
_ Eu me arrependo Beatriz. Eu cometi o maior erro da minha vida.
_ Você vai me tirar daqui?
Ela ficou em silêncio por alguns minutos.
_ Você vai me tirar daqui? - gritei dando um murro na mesa. As guardas me conteram.
_ Quando você desapareceu...
_Quando eu o quê?? Sua cara de pau! Você me jogou aqui dentro ,sua puta.
_Enfim... Seu pai não foi mais o mesmo. Eu pensei que logo ele se acostumaria. Mas não.
_ Que bom que meu pai não foi cúmplice disso. Por que aqui, muitos foram abandonados pelos pais.
_ Não. Seu pai não sabe que você está aqui. Ele até procurou aqui uma vez, mas seu nome não consta nos cadastros. Eu garanti que você sumisse dos registros.
_ Sua vagabunda. Falsa. Eu vou te arrebentar.- falei me levantando. Mais uma vez fui contida pelas guardas.
_ Seu pai, não dorme mais em casa. Às vezes, fica dias fora de casa. Ele me pediu o divórcio, mas eu não quero me separar. Eu amo o seu pai.
_ É mesmo? Então quer dizer que seu antigo posto foi preenchido?! -falei com deboche.
_Eu vim aqui pedir o seu perdão. Eu sei que você não vai me perdoar.
_ Exatamente. Agora pode ir embora.
_ Eu vim te falar que , eu fiquei sabendo que você está grávida... Eu também estou; e me compadeço de sua situação. Não posso tirar você daqui, mas posso fazer com que você tenha uma vida melhor aqui dentro. Você e essa criança que você carrega.
_ Não pode me tirar daqui? Foi você que me trouxe pra cá. Puta! Você pode me tirar daqui.
_ Seu pai nunca me perdoaria . Ele achou que você fugiu , e como nunca mais teve notícias suas, agora pensa que está morta. Não posso tirar você daqui, mas posso te proporcionar uma vida melhor.
_ Vá embora daqui! Puta desgraçada... Vá logo, ou eu juro que essas guardas, não vão conseguir me conter. - falei me levantando da cadeira.
Ana Paula foi saindo assustada , e antes de fechar a porta disse mais uma vez:
_ Perdão Beatriz?!

A partir daquele dia, não me deixaram mais ir ao pátio, não dormi mais junto com os outros. Dormia no quarto das freiras, as irmãs vicentinas; numa cama com colchão e cobertas limpas . Tinha 4 refeições por dia  e banho todos os dias.
Eu ajudava na limpeza e na cozinha. Ajudava também a servir as refeições. Esse era o momento de maior tensão, pois a comida nem sempre dava pra todo mundo. E virava tumulto. Tinha dias que era preciso sair correndo, pois os internos queriam agredir.

Muitos , morreraram de fome, de frio e de doenças. E teve aqueles que morreram tomando choque, que morreram sendo espancados ou propositalmente assassinados.

Como eu ajudava na cozinha, eu separava escondido uma sacolinha  com comida , e levava para o quarto onde mãe Lurdinha e Antônio dormiam. Deixava escondido num buraco, no chão atrás da porta.

Todos os dias eu conversava com Antônio e mãe Lurdinha, pela grade. As irmãs, não me deixavam passar para o pátio. Diziam que quando o bebê nascesse e já estivesse grandinho, nós poderíamos ir no pátio.

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