"Me dói não saber como me desvencilhar minha vontade de você."

941 64 13
                                    

  Depois daquele cumprimento, não olhei para Léo em momento algum, já ele, não parecia se importar em me encarar a cada segundo. Os meninos decidiram ir todos para casa de Thiago e fazer uma comemoração como fazíamos antes, eu iria né. Coloquei minhas malas no carro de Thiago e entrei no mesmo com ele. A maioria dos meninos já estão com seus próprios carros, não tem mais a confusão de antes pra dividir quem iria com quem, em breve seria eu, com meu amado carro que papai deixou antes de morrer, que saudade dele. Respirei fundo e tentei não focar nisso, Thiago sorria à toa enquanto dirigia cantando uma música qualquer que tocava no rádio. Eu observava aquela cidade que tanto me fez falta, cada rua que esteve em minha mente como se eu nunca tivesse saído daqui.
Chegando no condomínio, toda aquela saudade que me apertou durante tanto tempo, se esvaiu de uma só vez sendo trocada por felicidade, a mais pura felicidade. Eu passei momentos incríveis lá, realizei sonhos maravilhosos mas não tem preço ficar onde amo e com quem amo.
Peguei minhas malas e desci, entrando na casa de Thiago onde passei tanto tempo. Levei minhas malas pro seu quarto e desci indo para a área da piscina onde todos estavam. Alguns meninos saíram pra comprar as coisas e fiquei lá conversando com todo mundo e matando aquela saudade imensa.

"Os rolês não foram os mesmos sem você." falou Geovanna.

"Eu via as fotos e os vlogs quase chorando, sério. Lá tinha muito rolê mas era totalmente sem graça sem ter vocês pra zoar comigo."

Ficamos assim, contando da vida um do outro durante um bom tempo apesar de eu saber de tudo mesmo que de longe. Só que dessa vez, estávamos conversando sobre isso pessoalmente o que era muito melhor.
Logo aquela área foi preenchida pelos meninos que saíram, inclusive ele. Ligamos uma música enquanto comiamos e riamos, eu senti tanta falta disso.
A noite foi caindo, com isso alguns quase todos foram embora ficando apenas os de sempre, eu, Leonardo, Krawk e Thiago, obviamente.
Ajudei Thiago a ajeitar tudo e subi pra tomar um banho, peguei minhas coisas e deixei minha mala aberta entrando pro banheiro tomando um banho calmo.

                  Narração Thiago

Minha felicidade por ter Maju, minha irmã, comigo novamente era de se ver de longe. Nunca estive tão feliz assim desde que ela foi embora, uma grande parte de mim foi junto dela, nós éramos inseparáveis e aquilo me doeu bastante. Nada mudou entre nós apesar de tanto tempo, estava com tanta saudade que minha vontade era simplesmente a abraçar e não soltar mais. Ela havia subido pra tomar banho, subi um pouco depois entrando em meu quarto onde estava sua mala aberta, sorri em ver o meu moletom vermelho que ela roubou um tempinho antes de ir para o Canadá. Quando cheguei perto da mala para pegar no moletom, vi uma carta em meio a bolsinha dela e quando a abri:

  escrevendo sozinha porque você não vai ler. seus olhos não alcançam o que é denso e clama imersão.
gostei de você. do cheiro, do toque, da maneira como você me deixou de quatro de todos os sentidos - dei uma leve risada assim que li isso, é a cara da Maju escrever isso.

mas você não vai ler, isso se torna comum e banal, mais um, de tantos outros textos que fiz.

você não pode me tocar de maneira mais profunda e, se o fizer, que não saiba.

não por mim.

você nunca descobrirá a endorfina que sambou no meu peito assim que desliguei aquela ligação. nem que chorei de raiva, tristeza, agonia, solitude e amor.

amor áquilo que construíra e foi despejado no instante em que você falou o que eu sempre soube, eu emergi no próprio pensamento uma centena de traumas até então escondidos e colocados pra baixo do tapete.

você não saberá, não pela minha boca, que gostei mais de você do que dos outros caras. que em mim você ardia mais do que ardiam os piores dias aos quais sobrevivi. que você encaixou seu corpo no meu, mas o que eu esperava mesmo era que toda a fala, o verbo e a língua estivessem na frequência cardíaca e humana.

estou escrevendo, sozinha, para não enlouquecer e não ir até você agora pra gritar que você mexeu comigo como nenhuma outra pessoa seria capaz. que meu peito foi esmurrado pela sua gentileza de me tornar sua como um bicho domesticado que não tem mais certeza de que viverá o mesmo dali pra frente.

eu sei que não serei a mesma depois de você espirrar em mim seu nome, o sorriso, os pelos, as pálpebras, as opiniões sobre música, os desejos de sair do país, os vídeos e os planos áudio visuais.

a gente nunca é o mesmo depois que alguém apresenta uma visão de mundo que desperta a vontade de querer ser maior e não te perdoo por implantar isso, que é tão grande e vasto, em mim.

escrevo, sozinha, pra não te mandar à merda.

pra outra cidade, longe.

pra onde meus olhos não queiram esquadrinhar seus passos e minha visão não alcance seus pés, pulmões, precipícios.

pra não te falar que sonhei todos esses dias que você me beijava a boca e me oferecia aconchego, ternura, amor.

   você não me deseja igual como te desejo. porque deseja outras enquanto eu espero por você. espero por ti, mesmo de longe, com nossa aliança de amor.

     porque vai passar por mim transeunte e eu queria que você fosse como um cheiro que impregna no canto do cômodo e fica lá aguardando alguém inesperado pra fazer morada.

     porque me dói
     não saber como
    me desvencilhar minha vontade
    de você

     e

    da relação morna que,
    de agora em diante,
    teremos.

   você me conquistou e hoje,
   eu sou toda sua, mesmo com todo         
   esse tempo que passou.

O Acaso - Leozin MCOnde histórias criam vida. Descubra agora