"Você nunca vai me esquecer."

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Eu sou péssima no boliche e isso todo mundo sabe, que terror. Depois de jogarmos e Bruna jogar na nossa cara o quanto ela é boa, nós fomos para um fast-food ao lado comer nossas besteiras favoritas.

"Você veio de carro?" perguntei pra Geovanna, já estávamos nos despedindo.

"Não."

"Então vamos, deixo você lá." ela assentiu, despedimos de Bruna, é tão difícil não poder ver uma a outra com tanta frequência como antes, mas a idade chega né, responsabilidades também, infelizmente.

Geovanna sentou ao meu lado colocando o cinto de segurança, dei meu celular pra ela escolher a música que logo colocou sertanejo.

"Corna." falei enquanto observava ela cantando.

"A playlist é sua, a corna é você."

"Eu nem namoro."

"Fica na sua." comecei a rir.

"Abaixa a cabeça pra descer do carro, se não o chifre não deixa passar."

"Cala a boca, Maria Júlia." falou me dando um tapa na perna "Mano, como assim, estava tocando Marília Mendonça agora e foi pra Plaqtudum?"

"Eu gosto de todo tipo de música, ué." falei dando de ombros.

"Você é muito aleatória, Maria Júlia, sério."

"Mas gente." falei rindo da cara que ela fez.

Fomos cantando aos berros enquanto Geovanna gravava e postava stories que fizemos no boliche e os da gente no carro.

"Só eu que atualizo esse Instagram viu."

"Você é à toa, ué."

"Mas você gosta de me irritar quando eu estou de tpm em."

"Eu te amo amor." falei rindo pra mesma que revirou os olhos.

"Tchau, obrigada pela carona, Maju."

"Por nada, vamos marcar mais vezes. Quando encontro com vocês minha semana melhora totalmente."

"Pior que melhora mesmo viu. Mas aí, da próxima vez chega no horário."

"Tchau Geovanna." falei revirando os olhos.

"Tchau, otária." disse rindo enquanto destrancava seu portão.

Arranquei o carro fazendo o retorno, a casa dela é caminho oposto da minha. Estava indo rumo ao condomínio até que decidi parar em um posto de conveniência pra comprar chocolate e algumas besteiras, provavelmente Thi deve ficar em casa hoje, nós podíamos fazer maratona de alguma série.

"Boa noite." disse pra moça que me deu um sorriso como resposta, peguei tudo que tinha que pegar, paguei e coloquei no carro.

"Ai, esqueci do fini." falei sozinha enquanto trancava o carro, quando estava me virando pra atravessar a rua novamente, senti algo, na verdade, alguém me puxando enquanto tampava minha boca, eu não conseguia gritar e nem fazer nada para que ele parasse, a pessoa estava me segurando muito forte, com certeza é maior que eu.

Eu que já estava desesperada, comecei a chorar de soluçar enquanto tentava me soltar.

"Fica quietinha ou vai ser pior." falou em meu ouvido, uma voz rouca, um bafo enorme de alguma bebida barata, eu sabia o que aconteceria mas não estava acreditando, por que comigo? Na verdade, por que isso acontece? Por que? Ninguém merece isso, NINGUÉM.

Quando abri meus olhos, eu estava em um beco escuro, eu não conseguia ver seu rosto, ele me pressionou contra a parede e roçou sua barba em meu pescoço.

"Por favor, não faz nada." sussurrei em meio a soluços.

"Cala a porra da boca." falou me dando um tapa na cara "Você vai ser comida como nunca foi na vida, você nunca vai me esquecer."

Ele começou a rasgar minha blusa, colocando suas mãos em meus peitos, eu não conseguia me soltar, eu só sabia chorar e suplicar com que ele não fizesse nada, ao invés de dó, parecia que ele sentia mais prazer a cada vez que pedia pra ele me soltar, a cada vez que eu chorava, a cada vez que eu soluçava.

"Você tem sorte, mocinha. Eu podia muito bem te fazer engravidar mas não quero foder sua vida, só quero te foder, te foder gostoso." soltou uma risada "Você é bem gostosinha." falou enquanto passava a mão em minha bunda e a apertava. "Bem apertadinha." falou enquanto passava seus dedos em minha vagina.

Ele colocava a camisinha enquanto assobiava, ele parecia estar feliz, como alguém se sente feliz vendo o desespero do outro, como?

"Vem, vou te mostrar o que é prazer de verdade." falou enquanto descia minha calcinha, ele segurou minha perna contra ele e adentrou minha vagina com toda força.

"Para." gritei enquanto chorava. Ele me deu um tapa se esquivando na mesma hora e tirando seu pênis de mim.

"Cala a boca, você quer morrer?" me deu um soco no peito me fazendo grunhir de dor, logo após, me dando um chute no estômago. Quando ele estava vindo em minha direção novamente, surgiu um som de sirene bem no fundo, parecia ser a polícia se aproximando "Hoje é seu dia de sorte, garotinha. Qualquer dia a gente se esbarra de novo." falou me penetrando com toda força novamente e me dando um último tapa. Ele largou a camisinha ali mesmo, vestiu sua bermuda e saiu correndo pelo beco, me deixando ali, sentada no chão chorando e me sentindo a pessoa mais imunda que existe.

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bom, eu sei o quão pesado foi pra umas, outras não. eu fiz esse capítulo em "homenagem", a cada mulher que já sofreu qualquer tipo de assédio, tanto verbal, quanto sexual. ontem, dia 08 de março, foi dia internacional das mulheres. muitos homens que desejam feliz dia das mulheres, dão flores e abraços, mas no dia seguinte, ou até mesmo no dia, espancam mulheres, agridem, tanto verbalmente, fisicamente ou sexualmente.
infelizmente, ainda hoje, muitas pessoas (mulheres também) fecham os olhos e ouvidos quando o assunto é tão complicado como estupro. muitas delas, são até machistas, enquanto eram para estar unidas falam "ah, mas a culpa é da roupa dela" "ela não devia ter saído a essa hora".
assédio/feminicidio é algo que mexe muito comigo, esse capítulo já havia sido feito mas ontem, na aula de história enquanto a professora conversava com a gente sobre o real significado do feriado, o que as mulheres sofreram, eu só soube chorar do início ao fim da aula ao saber que gente como a gente, morre todos os dias. sem motivos, sem escolha, gente, é sério, HOMENS NÃO SÃO IRRACIONAIS, parem de colaborar com isso, eles sabem sim o que fazem, o que dizem e o que pensam.
mano, para ter o dia 08 de março, o dia que de certa forma, marca toda nossa luta, mulheres sofreram e mulheres vieram sofrendo a muitos e muitos anos para que hoje, nós tivéssemos o direito que temos, da mesma forma que hoje, mulheres morrem para ajudar as do futuro. vamos ter compaixão, saber a hora de falar, do que falar, não passa pano pra machista, gente, por favor, nós temos que ser unidas.
quando ver a amiga ou alguém que você não conhece sofrendo qualquer tipo de assédio, interfira. finge ser amiga, chama a polícia discretamente, só não a deixe só, é desesperador.
fazer esse capítulo foi algo muito pensado por de certa forma, mudar bastante a história mas me senti obrigada a fazer, por cada mulher que sofreu e ainda sofre.
obrigada por lerem e um ótimo feliz dia das mulheres (atrasado). cada uma de vocês são incríveis e eu as admiro mesmo sem as conhecer, nós somos guerreiras só de estarmos vivas numa sociedade tão machista. vocês são fortes, vocês são fodas! eu amo cada uma de vocês. uma pela outra, sempre!! 

O Acaso - Leozin MCOnde histórias criam vida. Descubra agora