Narração Leonardo

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E desde aquele dia, aquele término, tudo mudou. Eu tentava ficar bem a cada dia, assim como ela. Não tivemos mais nenhum contato e eu achei que assim seria melhor (só achei, afinal, a saudade batia mais forte a cada dia que se passava).

Eu dormia com seu cheiro, eu acordava com seu cheiro, eu sentia seu cheiro a cada lugar que eu passava e automaticamente me lembrava de seu sorriso.

Você estava nos espaços, nos lugares públicos, nos lugares privados. No mercado, no açougue, nas repartições públicas.

Você estava no metrô da linha amarela e no trem da linha azul que ainda é chamado de metrô por todo mundo.

Você estava impregnada em mim.
sobretudo em mim
e em tudo que eu tocava,
via ou sentia.

Você estava entre minha memória e a maneira como eu respirava. E estava similarmente nos carnavais, blocos de rua e aquele bar da Augusta (onde tivemos nosso romance escondido).

Eu conseguia te enxergar nas latas de cerveja, no beijo que eu entregava a outras pessoas, na maneira ácida e crua com a qual eu me espalhava por outros corpos tentando te esquecer.
Tentando te esquecer eu estava.
E você estava em mim, comigo, nadando no sangue das minhas veias.

Você estava na evolução de mim mesmo tentando encontrar uma casa, um caminho, qualquer coisa que me dispensasse de pensar tanto em você.
Mas você permanecia em todos os lugares.

Você estava nas minhas conversas mais banais com amigos e estava na maneira singela com o qual eu abordava o fato de você ter entrado e saído da minha vida. 

Você havia ido embora de mim como aquelas chuvas de outono que começam e terminam no mesmo instante.

Você estava em tudo, em tudo.
Na música que chegava aos meus ouvidos tarde da noite. No cheiro da blusa que deixou comigo quando nos despedimos e dissemos palavras gentis e sinceras um ao outro. Do outro lado da calçada da minha rua onde seus pés pisaram por tanto tempo. Nas ruas adjacentes por onde meu carro te trazia da escola e te escondia do mundo. Nos restaurantes fast-food com suas comidas que dormiram semanas em nossos estômagos. Nas bactérias e vírus que entraram em mim através de você, sua línguas, suas feridas.

Até que em um dia qualquer, uma pessoa que eu odiei por tanto tempo, chegou em minha vida novamente de pouco a pouco e foi se tornando uma amiga incrível. Ela me ajudava a te esquecer, por poucos minutos mas ajudava, ela me fazia um bem, não como você me fazia, mas ela esteve comigo quando precisei. Nós fomos ficando novamente, até que decidi oficializar. Não, eu não a amei, mas ela me amava, ou ainda ama.
Posso ser julgado como egoísta mas o tempo inteiro foi por ela, Rafaella, a mesma menina que fez a gente terminar num passado não tão distante. Nós nos entendemos, ela sabe dos meus sentimentos pela Maju mas mesmo assim decidiu tentar.
A cada dia, parecia que o sentimento se esvaía, um pouco de cada vez, mas estava se esvaindo, esse é o importante. Antes da Maju ir, ela pediu pra eu não a esquecer, acho que estou levando esse pedido um pouco a sério pois vejo um pouco dela em todos os lugares onde vou, como se isso me perseguisse mas talvez, eu não queira a esquecer.

"Você fala para eu nunca te esquecer
Mas olha só pra você
Como me esquecer de você?"

  Eu e Rafaella estávamos indo bem, eu achava estar bem, na verdade. Minha amizade com Thiago continua a mesma assim como a dele com ela. As vezes eu sei de algo sobre ela, não por vontade própria, tenho tentado me esconder de tudo que tem o nome Maria Júlia. É difícil, bem difícil esquecer quem te fez aprender o que é amor, te fez sentir os primeiros sintomas e amar.

Hoje era mais um dia qualquer que iríamos a aldeia, estava tudo certo pra falar a verdade, eu estava com a Rafa e suas amigas, rindo de alguma besteira que seu amigo Igor disse até que escutei Refel.

"Maria Júlia?"

  E quando olhei, era ela. A pessoa que eu tentei esquecer por tanto tempo, a pessoa que eu nunca deixei de amar, a pessoa que esteve presente em cada sonho (os quais, eu ia dormir pra esquecer e acabava me lembrando mais). Eu imaginei por muito tempo como seria a volta dela mas de tantos pensamentos, em momento algum foi assim. Eu havia paralisado, Rafaella que não tinha percebido continuava rindo com seus amigos enquanto eu a olhava.
Como, como ela ainda usava a aliança depois de tanto tempo? Foi inevitável não olhar a sua mão imediatamente e ao mesmo tempo me veio uma esperança dela ainda me amar, será isso possível? Eu não devia estar pensando nisso, não mesmo, ainda mais que estou com Rafaella.
Falando nela, havia percebido meu transe.

"Você não tem jeito né Leonardo." falou com o olho cheio d'água "Você sempre deixou bem claro que nunca a tinha esquecido mas desde que estamos juntos, você mesmo disse estar superando mas aí você vê ela e fica assim? A verdade é que você só me usou pra mostrar estar bem quando não estava e eu boba acreditava." falou suspirando, ela saiu de meus braços e saiu andando acompanhada de seus amigos. Eu não soube o que falar, não tive reação, eu não sabia que ela ia chegar, eu não estava preparado pra a ver.

Quando me virei, lá estava ela, se preparando pra batalhar depois do Bob muito pedir e já sem aliança. Respirei fundo e fui pra perto dos moleques ficar conversando com eles. Depois de um bom tempo, lá estava ela, vindo em minha direção, não mais com aquele sorriso, ela estava nervosa, eu a conheço.

Provavelmente ela enxergou nos meus olhos a vontade de te arrastar para um canto longe de toda aquela multidão.
Eu sempre estive fascinado por você.

"Oi, Leonardo."

"Oi, Maria Júlia."

O Acaso - Leozin MCOnde histórias criam vida. Descubra agora