O Acaso - Leozin MC

"Você preferiu pôr o fim."

Depois do parabéns, comi meus doces de lei, bom que não fico bêbada. Fui indo para o banheiro enquanto batia de leve na minha roupa, a quenga da Geovanna me sujou toda.

"Ai, desculpa." falei depois de trombar em alguém.

"Suave." falou aquela voz rouca.

"E a história se repete." falei enquanto revirava meus olhos e entrava no banheiro feminino me limpando da enorme sujeira que Geovanna causou.

Depois de anos luz naquele banheiro, peguei uma cerveja e fui para mesa. Léo, olhava cada movimento meu. Minha vontade era pegar um microfone e mandar ele tomar no centro do cu de tanta raiva que eu tô nela.

Senti uma mão me puxando pra área de fora do bar e me pressionando na parede.

"Gomes, Gomes."

"Shii." colocou seu rosto em meu pescoço "Tu causa um efeito surreal em mim."

"Sério?" falei num tom de ironia fazendo o mesmo rir. Passei minha unha o arranhando por debaixo da blusa e o dei um beijo, em seguida, sai deixando ele ali.

Voltei rindo pois eu sempre faço o mesmo com ele, é legal provocar os outros. A mesa já não estava tão cheia, Mares foi embora e pelo jeito, Rafaella também, mas isso não importa, não mais.

Me sentei com os meninos enquanto comia os salgados, eu estava realmente com muita fome.

"Eu acho que vou acabar parando de falar com ela." falou Krawk enquanto conversava com os meninos.

"É injusto você sair da vida dela do nada, mano." falou Léo. Eu comecei a rir, rir muito, rir muito mesmo, estavam todos me olhando e eu só conseguia rir.

"Hipocrisia reina." falei em pausas me recuperando das risadas que soltei. Limpei as lágrimas ainda rindo.

"Não começa vocês dois." falou Thiago.

"Não vou começar mas é palhaçada ele falar uma coisa dessas." peguei salgado e me levantei indo pro bar. Acabei de comer e saí virando as doses, uma atrás da outra assim saindo do salão e me sentando no chão da rua.

Provavelmente iria acabar a festa dentre de algumas horas, já era tarde e iria fechar. Eu suspirei enquanto olhava pra aquele céu cheio de estrelas. Quando eu era pequena e perdi meu avô, eu procurava a estrela mais bonita do céu pra o representar e assim, quando eu precisava, eu o procurava, me sentia tranquila. Como eu já tinha costume de imaginar isso, sempre que eu olhava pro céu tinha três estrelas também que eu, que sempre fui de imaginar coisas, via como um rosto. E assim, fiz aquilo como se fosse Deus. Todas as vezes em que eu estava no carro e olhava pro céu, era como se ele tivesse me acompanhando, e eu sei que está. As estrelas é só uma maneira de o representar já que não o vejo. Sempre que eu sentia medo, eu olhava pro céu. Quando não encontrava as estrelas, pode parecer besteira, mas eu me desesperava pensando que Deus e meu avô, tinham me deixado e quando eu os achava naquele enorme céu, era como um calmante, onde todo meu medo, todo desespero, se cessava vindo uma calmaria no lugar. Passou anos e bom, as estrelas continuam tendo um grande significado pra mim.

Sentada, pensando em tantas coisas, procurava as estrelas afim de me acalmar, e lá estavam elas, brilhando e me trazendo a paz que todo esse caos tira.

"Maria Júlia."

"O que você quer?"

"Vai ficar na defensiva?" começou a chover novamente, bem pouquinho mas estava.

"Tem outra maneira? Ou você quer que eu abra um espaço e deixe você entrar na minha vida novamente, me fazer acreditar que finalmente nos resolvemos pra você simplesmente me mostrar uma nova personalidade, de tantas outras que você tem e falar que é melhor ficarmos separados. Eu já vi essa história acontecer algumas vezes e sinceramente, eu não quero que repita."

“Sinta-se livre pra achar que esse é o fim.” citou a música do Dudu.

"Se hoje eu acho que é o fim, saiba que a culpa é sua."

"Eu sei disso. E me arrependo."

"Como das outras vezes?"

"Você vai ficar remoendo o passado?" disse se sentando.

"Quando ele pode causar efeito no futuro, sim, vou ficar remoendo."

"O futuro a Deus pertence."

"Para com essas frases." falei já impaciente.

"Eu sou um tremendo de um idiota. Não o culpo se não me quiser mais."

"E eu não quero."

"Tem certeza? Então por que está sentada até agora comigo debaixo de chuva, ainda por cima, conversando sobre algo que você não quer?"

"Eu já estava aqui, não vou sair porque você chegou."

"Tá bom, Maria Júlia. Só que, eu percebi que não importa aonde esteja, ou o que esteja fazendo, ou com quem esteja. Eu vou sempre, verdadeiramente, completamente, amar você. Eu sou luz quando brilho com você, digo coisas que eu não sei dizer." suspira "Você pode fechar os olhos para as coisas que não quer ver, mas não pode fechar o coração para as coisas que não quer sentir. Eu volto pra te buscar amor, e ainda prometo você no meu mundo." encara suas mãos respirando fundo "Esquece as neuroses que já passou, escute as vozes que gritam no escuro que nascemos pra viver, segura minha mão, eu te amo, eu juro. Mas o que cê quer de mim? Noites e noites sem morrer o assunto, todo tempo do mundo ainda é curto ou não..."

"Eu quis uma continuação, você preferiu pôr o fim." completei a música fazendo o Léo me olhar na hora. "Não adianta o que você fale, eu só acredito em você quando você largar ela. Eu sei que enquanto vocês estiverem juntos, uma hora ou outra você vai me deixar e eu não sou um brinquedo abandonado onde você acha em meio a tantos outros, pega pra matar a saudade e em seguida o abandona de novo. Eu não sou assim, eu nunca fui assim. Ou você me quer perto, ou me quer longe. Ou me quer agora, ou não me quer nunca mais. A escolha é sua."

Me levantei indo para dentro do salão saindo da chuva, enquanto limpava a lágrima que escapou assim que me virei.

Amar ao ponto de querer que o outro seja feliz, mesmo que você não esteja incluído no pacote, é lindo de morrer ou apenas uma morte?