Four

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• Park Jimin •

E em mais uma tentativa meu corpo pousava em desequilíbrio, seguindo com os passos em tempos errados, em completa desarmonia com a melodia de fundo. Eu já sentia a fadiga em cada um dos meus músculos. Era uma guerra entre meu corpo derrotado e minha mente que gritava por vitória.

Me sento sob minhas pernas, recuperando o ar que me era escasso, meu peito subia e descia totalmente dessincronizado, eu havia perdido para o meu corpo e agora só me restava a culpa que minha mente gritava.

Era uma luta contra mim mesmo, e como se não bastasse aqueles espelhos estavam ali, refletindo quem eu era e cada um dos meus erros, fazendo questão de ressalta-los em meus olhos. Tudo o que eu amava e sempre sonhei, parecia se destruir, por algo que vem do meu interior, dentro dos meus pensamentos. Não importa o que eu faça, não era o suficiente.

Me levanto, evitando olhar para os lados e me deparar com a minha figura deplorável. Já eram quase oito horas da noite, e eu ao menos me lembro que horas pisei aqui, apenas que o sol ainda raiava em seu ápice.

Pego meu casaco e o visto, em busca de proteger meu corpo quente do choque térmico com o ar frio que habitava fora da sala. Ao lado de fora as luzes iluminavam as ruas de Seul, e as pessoas andavam ao final de mais um dia.

Traço meu caminho de volta para casa, mas minha mente prende meu corpo, o estacionando em frente a um dos bares que se localizava em meio ao meu trajeto. Era uma luta entre seguir sóbrio, e me dar por alguns minutos o breve prazer de esquecer meus erros.

E mesmo sabendo que seria passageiro, meus pés se dirigem para dentro do local, esquecendo completamente o trajeto que eu deveria seguir. Me sento em frente a bancada de mármore do local, solicitando uma garrafa de Soju e enviando uma mensagem para minha mãe, dizendo que eu voltaria tarde e que não deveria se preocupar.

E aquela garrafa é a entrada para as lamentações que viriam pelo o resto da noite, um caminho retrógrado feito em minha mente com as memórias. O pequeno garoto, que observava as danças de rua, e tentava imitar seus passos, e que acabou sendo colocado por seus pais na aula de street, porém ninguém imaginava que a academia poderia lhe abrir um caminho extenso e desafiador. E que ele também se apaixonaria pelo ballet contemporâneo, não imaginava que passaria anos ouvindo que ballet era dança de menina.

Que teria que agarrar um sonho para se proteger do mundo e ao mesmo tempo apanhar dele. Ele tinha todo o amor dos seus pais, e isso parecia único para ele e suficiente, estava tão acostumado com tanta ternura, que o primeiro tapa que o universo lhe deu pareceu uma verdadeira surra.

E logo em seguida vieram outros, seu corpo não era o padrão, ele estava longe dos outros, e uma nova luta se atribuiu. Chegando aqui depois de vários tombos, ele descobriu o quão frágil era, e como doía fazer parte do universo. E então o isolamento foi uma das soluções.

Não apenas feito de memórias tristes, mas das que eu sacrifiquei para me estabelecer, as coisas bonitas que existiam fora do meu quarto e que eu raramente as via agora, meus amigos. As lembranças dos bons momentos juntos, das nossas bagunças. De quando estiveram ali para mim.

Uma lembrança de Taehyung, que em um dos meus piores dias simplesmente invadiu meu quarto, dizendo que não o deixaria enquanto eu não levantasse daquela cama e o seguisse. Eu o agradeço por isso, aquela foi simplismente uma das melhores memórias que se criou. Durante muitos momentos Tae esteve ali por mim, eu espero um dia também estar por ele.

Eu estava sentindo o gosto amargo, não apenas do álcool, mas dos sacrifícios que toda minha insegurança impregnada me trazia. Não importa o que eu faça, não era o suficiente.

Após a quinta garrafa de saquê eu me rendi, abaixo minha cabeça passando meus dedos entre meus fios, sentido o peso das lágrimas que se acumulavam em meus olhos, que eu recusava em deixar sair. Respiro fundo trazendo uma grande quantia de ar ao meu pulmão, enquanto aperto meus olhos.

Tiro a carteira do meu bolso, pagando pelas lembranças que me foram recuperadas. Me levanto seguindo até a porta, e na rua meus pés tomam rumo contrário. Eu acabo por ceder a minha mente, já não havia mais  insistência para lutar contra o que ela me impulsionava.

E então eu me vejo novamente preso aquela sala, os espelhos refletindo minha figura falha, fraca e frágil. Meu corpo se move, retornando a sequência de passos que eu não havia concluído como deveria. Lutando em mostrar que eu seria capaz, que não me deixaria até que conseguisse.

E ali estava eu, tomado pelo suor, e mesmo depois de conseguir executar cada passo, continuava em busca de nunca mais me permitir tal erro. Até que meu corpo se rende ao cansaço, caindo no chão, fazendo com que minhas costas sintam o piso frio, não havia forças nas minhas pernas para me fazer levantar. E ali eu venço, rendido.

Quando meus olhos se despertam havia uma a luz além a da sala, a que entrava pelas janelas, indicava que mais um dia se iniciava. Me levanto sentindo as fadigas dos meus músculos, e o latejar em minha cabeça, eram quase oito horas da manhã, logo chegaria a primeira turma.

Haviam dezenas de ligações perdidas da minha omma, não queria preocupa-la, mas acabava por arrasta-la junto aos meus problemas. Eu só queria ser para ela o filho que merecia, e lhe conceder um momento sem preocupações.

E antes que eu voltasse para casa, eu me obrigo a entrar naquela cafeteria, em busca de cessar parte da dor de cabeça que me tomava. Peço um café, e quando me viro meus olhos caem direto na figura distraída no livro a sua frente. Ela usava uma blusa xadrez em predominância o azul, seus cabelos chegavam na altura do seu ombro, com um lado preso atrás de sua orelha, enquanto o outro caiam tampando parte do seu rosto.

Minha mente me ordena a sair fora daquele local, e involuntariamente eu me pego puxando a cadeira a sua frente, recebendo seu olhar surpreso. ChinMae sorri, mostrando suas gengivas, e então por segundos eu observo as constelações presentes em seu rosto, as pequenas sardas.

Eu deveria ir embora, mas ChinMae me transmitia uma boa sensação, completamente nova e diferente, como se me levasse a um novo planeta, fora das minhas órbitas.

Att:

        Olá meus anjinhos, como estão?

Para quem ainda não sabe eu criei um Instagram para postar coisas relacionadas as fanfics! Como explicações e algumas novidades! Então segue lá: @/darkgwtt!

Eu particularmente me senti bem tocado ao escrever esse capítulo, e o mais triste é que esses sentimentos do Jimin são comuns em muitas pessoas.

Aaaa chegamos a 1K aqui! Eu estou realmente grata por todo carinho que estão dando a Serendipity!

Até a próxima att! XxNanda

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