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  Jimin acordou com a cabeça estourando. Lá estavam elas de novo, gritando e fazendo o dia de Park ir para o ralo.
  Caminhou até o banheiro com dificuldade, sua vontade era de voltar a dormir e tentar esquecer da bagunça na mente, entretanto, sabia que deveria tomar os medicamentos. Precisava melhorar, mas isso parecia impossível.
  Analisou com cuidado os comprimidos na mão e engoliu-os de uma vez, em seco, não estava com a mínima coragem de ir até a cozinha e pegar um copo de água. Fechou os olhos e encostou a cabeça na parede, respirando fundo. Queria se entender, queria entende-las, queria apenas entender. Já havia passado anos junto daquelas vozes convivendo dia após dia com si, algumas vezes durante esse tempo, tentava convencer-se de que iria melhorar, de que elas iriam embora algum dia. Em todas as tentativas, ele se frustrou.
  Depois de escovar os dentes, andou lentamente até a cama. Era sua folga, apenas queria dormir o dia inteiro e esquecer suas companheiras do cotidiano, na verdade, queria esquecer da existência do mundo, da vida e, principalmente, de si mesmo. Enterrou a cabeça no travesseiro e soltou um murmurio ao sentir a cama desconfortável abaixo de seu corpo, precisava de um colchão novo com urgência, se não sua coluna de um senhor de oitenta anos não aguentaria mais. O que possuía lhe dava a sensação de estar deitado numa tábua, na verdade, estava, pois o enchimento do objeto estava tão fino e desgastado que o moreno praticamente dormia sobre a tábua da cama. 
  Após vinte minutos, desistiu de voltar a adormecer, não conseguia mais. Revirou os olhos e esfregou as mãos pelo rosto, tentando aliviar a dor de cabeça causada pela incessante gritaria, um ou outro pedido aleatório de socorro e gritos agudos testavam sua paciência. Quis pegar a primeira coisa quebrável e jogar contra a parede para ver se a raiva misturada com agonia cessavam, mas sabia que a atitude falharia.
  -Por que eu continuo tentando? - disse em voz alta, debochando de si mesmo - Eu nunca consigo mesmo, sou um idiota.
  O barulho da campainha soou pelo apartamento em alto e bom som. Lá estava o motivo de sua nova tentativa falha. Jeon Jungkook.
  Levantou-se num pulo e procurou o celular, vendo as mensagens do namorado avisando que chegaria em pouco tempo. No dia anterior, haviam combinado de sair no dia de folga de Park, porém com toda a confusão mental, este havia esquecido totalmente do compromisso. Bateu a mão na testa ao lembrar do combinado com o maior.
 Saiu do quarto e andou rápido até a entrada, quase tropeçou no meio do caminho, mas pelo menos chegou logo. Destrancou a porta e sorriu amarelo para o mais novo, que o puxou para um beijo assim que viu o namorado. Tentou não demonstrar incômodo, não queria preocupar Jeon por algo momentâneo. Contudo, o estudante já conseguia reconhecer quando o mais baixo não estava bem.
Enquanto estavam deitados no sofá, procurando algo para assistir nos poucos canais da televisão do mais velho, Jungkook resolveu questionar o comportamento diferente do outro.
  - Jimin, o que aconteceu? - arqueou uma sobrancelha enquanto envolvia Park em seus braços.
  -Nada. - engoliu em seco. Não queria mentir, mas também não queria o preocupar.
  - Sei quando está mentindo. Estamos namorando há dois meses, mas lembre que nos "conhecemos" há quase um ano. - riu fraco - Sim, eu conto com as encaradas que eu te dava na Wonderland. - passou a mão pela bochecha do namorado - Nesse tempo, eu já consigo perceber que você está incomodado. Sei que está diferente de ontem, quando te liguei animado porque minhas provas haviam acabado e poderíamos passar o dia inteiro juntos, você parecia muito animado na ligação. Hoje, quando abriu a porta, parecia querer sumir do mundo.
  -Eu... - suspirou, tocando na mão de Jeon que passeava por seu rosto - É tão difícil. Eu só queria ser normal. - abraçou o corpo do maior e enterrou o rosto em seu pescoço.
-Mas você é normal. - franziu o cenho e o abraçou forte.
-Não sou. - suspirou - Estou tomando os remédios certinho desde um pouco antes da gente começar a namorar, fui novamente na psicóloga e nada.  Eu não consigo melhorar e isso me frusta muito. - uma lágrima solitária desceu por seu rosto, que foi limpada antes que o mais novo percebesse que estava chorando.
- Sei como é difícil. - murmurou Jeon, se lembrando da própria situação - Mas você está tentando.
-Estou tentando há mais de dez anos. - sua fala foi seca, não tinha a intenção de ser rude, mas se sentia mais do que frustrado. Sentia-se amargurado.
-Não sei o que dizer para te ajudar, tudo que tenho em mente parece extremamente clichê ou algo que já ouviu milhões de vezes e não adiantou de nada. - puxou mais ainda o corpo de Jimin para perto do seu, tentando o proteger de alguma forma - Porém, estou aqui pra te abraçar e tentar confortar. Eu amo você. - sem nem perceber, disse a tão temida e esperada frase. Não se importava de estar cedo ou não para admitir tal sentimento, apenas sabia que o sentia e não tinha vergonha nenhuma de assumir.
  - Eu... - agora Park definitivamente chorava - Eu amo você também. - disse entre soluços.
  Essa era a primeira vez que Jimin chorava em meses. Na maioria de suas crises ele não chorava, preferia guardar as lágrimas pra outro momento, mas este não havia chego até agora.
  Não sabia se o lágrimo de verdade havia vindo pelo "Eu amo você", pela sensação se ser realmente amado ou por amar o namorado de volta. Apenas sabia que dizer aquela frase era muito libertador.
Seu coração continha um misto de sensações e tudo que conseguia fazer era chorar, espernear e abraçar Jeon com toda a sua força.
  As lágrimas saiam de seus olhos como chafarizes e os soluços preenchiam o ambiente silencioso. A água que ia embora de seu corpo funcionava quase como uma faxina por dentro, limpando seu interior. Não estava se preocupando em parar, apenas queria que todo o sentimento ruim de amargura e frustração fossem embora junto das lágrimas salgadas que molhavam a blusa preta de Jungkook. Precisava que todo o sentimento que estava indo embora fosse substituído pelo carinho e amor do outro rapaz.
  Foi chorando nos braços do amado que, depois de muito tempo, sentiu todo o bolo sair de sua garganta, o aperto no peito afrouxar e o peso nas costas diminuir. Foi ali que se sentiu acolhido.

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Foi isso leiflores <3
 Espero que entendam a passagem de tempo, mas eu acho que foi necessário para que eles criassem uma intimidade como casal, sabe?
 Desculpa a demora, mas minhas aulas voltaram e eu oficialmente odeio o ensino médio de novo :))))))))) Está realmente dificil escrever, tanto pela falta de tempo, tanto pelo cansaço. Não posso prometer que as atts vão ser tão frequentes, mas irei tentar
 Espero que tenham gostado do cap.

Qualquer coisa, reclamações e comentários, pode falar nesse espaço.

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Até o próximo cap <3

Can you hear the silence? {pjm+jjk}Onde histórias criam vida. Descubra agora