"Fiquei por um bom tempo dentro de casa à espera de milagre. Não sei ao certo, mas passava pela minha cabeça que eu ouviria carros pararem em frente a casa e que soldados saíssem para derrubar os mortos que me atormentavam naquele momento. Digo, nos últimos meses."
Estou debruçado sobre o sofá, ouvindo os arranhões na porta. Talvez seja um ou dois... ou talvez cinco. Não me preocupei em averiguar. Na verdade, não me preocupo com nada agora. Não achei que ia me acostumar com as incansáveis visitas aqui em casa.
– Não tem ninguém! - gritou. Os grunhidos aumentaram.
Levantou e andou pelo corredor, o bater na porta ficava abafado conforme se distanciava.
Abriu a porta do último corredor, indo para o quintal.
Era uma casa isolada, ou seja, coberta pela floresta. Quando saía pelos fundos, dava de cara com o matagal, coisa que era assustadora durante a noite e agora com os mortos por aí, ficou mais ainda.
Com firmeza conseguiu retirar o machado cravado no pedaço de madeira.
Se esgueirou na parede. Atrás da cerca de madeira branca, viu os dois mortos-vivos debruçados na porta, a mesma rangia.
Um fazendeiro, com as vestes sujas de lama. E uma polícial, que estranhamente tinha algemas em seu pulso.
Bateu o objeto no cercado. Chamou a atenção dos dois que foram em sua direção assim que ouviram.
Andou de ré, adentrando a floresta. Chegou até uma estrada de barro, tudo era cercado pelo matagal. Lá no final havia um espaço maior, espaço esse que já era ocupado.
Ainda de ré, ele chegou ao local desejado. O fazendeiro se jogou contra ele, mas foi mais rápido e se esquivou. O andarilho caiu no buraco retangular, se juntando ao restante que ali já estavam.
A policial avançou em seguida. Ele a conteve com seu machado, impedindo que ela o agarrasse. Com força, a movimentou com o cabo do machado, derrubando ela no buraco.
Respirou fundo.
– Não devia ter espiado ontem. - se apoiou no cabo.
[...]
Aproveitou sua saída para dar uma busca na cidadezinha mais próxima. Passou em casa para pegar alguns pertences como sua mochila e o revólver calibre 22 - preto.
Com o machado apoiado no ombro, caminhou até seu destino com a casual tranquilidade. Muito antes do fim, a rodovia não era tão movimentada e a vinda dos mortos não mudou nada naquele quesito. Continuava tão vazia quanto.
Avistou a estrutura de tijolos ao longe. Em linha reta, um pequeno grupo de doentes caminhava pelas ruas sujas. Aldous foi pelos fundos da estrutura. Chegando lá, a porta dos fundos era sustenta por um bloco de cimento, evitando que fosse fechada.
Afastou o bloco e bateu o machado no vão. Esgueirou-se afim de ver algum deles saindo das sombras. Sem nenhum sinal de vida, ele entrou no local escuro.
O corredor despertava o medo em qualquer um que ali fosse. Embora Aldous já estivesse acostumado a encarar o percurso horripilante, todo cuidado era pouco. Sangue seco na parede, uma escrivaninha no canto de uma porta - que dava para o escritório-, e mais a frente, parava de trás do balcão da recepção.
Notou o manequim de vestes masculinas, no chão de trás do balcão. Franziu a testa, mas levantou o boneco, equilibrando-o para que não caísse de novo. Pulou o balcão e pegou a cestinha de compras perto da porta e então iniciou suas compras.
– "Enlatados" - leu.
Entrou no corredor de prateleiras vazias, compostos por teias e poeira. Agachou-se para pegar a lata de milho na última prateleira. Alcançou o objeto, já sentindo o pó dominar a lata circular. A mesma estava aberta, com larvas dominando o alimento no interior. Aldous fez cara feia e devolveu a lata para seu local de origem.
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O Outro Mundo
Science FictionDepois de um vírus se alastrar pelo mundo, Aldous viveu sozinho em sua casa pelo tempo que precisasse até tudo acabar. Era algo que ele pensava ter fim. Um derivado de Era Zumbi.