Um mês havia passado após a descoberta de Aldous e Walter sobre as comunidades estabelecidas pelo governo. A partir daí eles seguiram caminho para o estado da Geórgia, pois se quisessem mesmo encontrar por Léo, é dali que teriam seu ponto de referência.
A viagem até o estado não foi fácil, e a chegada do inverno só dificultou o trajeto dos viajantes. Certamente era a pior estação para o fim do mundo, sem ninguém para retirar a neve da calçada ou das ruas. Asfalto escorregadio e afins, era tudo mais complicado no frio.
O estabelecimento que ficaram por uma semana era o máximo que podiam cuidar para melhor estádia. Uma fábrica de sapatos composta por pilhas de caixas, máquinas enferrujadas e depósitos.
Walter usou a cabine do instrutor como base para comunicação. Ali, ele implantou os comunicadores que havia encontrado ao decorrer da viagem. A cabine era o ponto alto da fábrica, dali se via toda a enorme área repleta de prateleiras ocupadas. Sendo assim, o sinal poderia fluir melhor dali.
– Vamos. - ajeitou a antena sobre o rádio. Pressionou o botão do microfone. – Se alguém estiver na escuta, por favor, responda... Precisamos de ajuda. Eu... - soltou o botão. Respirou fundo, quase desistindo. Pressionou novamente. – Estamos com pouca comida. A neve bloqueou as estradas e tudo que temos são caixas com calçados. O inverno tem sido rigoroso, bem mais do que o do ano passado, e eu duvido que possamos sobreviver se formos tão longe. Só precisamos de um sinal... - esperou por alguma recepção na transmissão. Soltou o botão.
Pegou o lápis e riscou os quatro traços feitos no papel do lado. Já haviam sido quatro tentativas em três semanas.
Levantou da cadeira. Assim ele viu toda a área da fábrica. Bem no meio, entre todas as caixas e prateleiras, ele e Aldous preencheram o centro com móveis do lixão mais próximo. Um sofá, um coxão e escrivaninha. Entre os móveis havia uma fogueira apagada.
Walter faltou a presença de Aldous ali no meio. Notou que a direita era iluminada pela luz natural. Assim que virou o rosto pôde ver as portas abertas.
– Mas o quê?
[...]
Walter passou pela porta, chegando no pátio da fábrica. Na escada a sua esquerda estava Aldous despejando sal nos degraus.
– O que tá fazendo? - aproximou-se dele.
– Evitando um possível acidente. - despejou mais uma mão de sal. – Eu tava saindo e quase dei um mortal no último degrau. - passou o pé sobre o degrau, testando. – Algum sinal? - percebeu a carência de Walter.
– Não. - coçou os olhos.
– A gente consegue. - colocou o pacote sobre o corrimão. Botou as luvas de volta. Suas vestes não eram tão diferentes de Walter, ambos usavam um casaco, botas e com a diferença de Aldous estar usando uma touca e um moletom preto. – O sinal virá uma hora ou outra. Estamos mais próximos do que antes.
– Disse isso anteontem.
· É porque eu sei que vai funcionar. - pegou o sal. – Pode continuar? Tenho que verificar uns caminhões.
Walter pegou o pacote.
Aldous foi até os fundos da fábrica. Grande parte das enormes janelas foram cobertas pela neve, sendo impossível visualizar o interior do local dali de fora e vice-versa. Chegou no estacionamento onde haviam dois caminhões e um carro. Um dos caminhões tinha seu capô aberto.
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O Outro Mundo
Ficção CientíficaDepois de um vírus se alastrar pelo mundo, Aldous viveu sozinho em sua casa pelo tempo que precisasse até tudo acabar. Era algo que ele pensava ter fim. Um derivado de Era Zumbi.