15 - Feliz Natal, princesa.

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Estávamos todos na casa da minha mãe, apesar de não ter concordado com isso desde o começo. Mas ela tinha os truques dela, conseguiu convencer, não só meu pai, como minha tia – sua irmã –, e os pais do Dylan. Sobrou até para Mick e os pais dela, que também já estavam ali.

-Você não está nem olhando para a cara da sua mãe. – sussurrou Mick, quando passava por mim.

Havíamos sido encarregadas para arrumar a mesa, colocando tudo em seu lugar e enfeitando a mesma. As mulheres mais velhas – Anne, mãe de Dylan, Lily, irmã da minha mãe, Carrie, mãe da Mick e a minha, Jacqueline – cuidavam da cozinha. Os "maridos" ficaram para ajeitar a sala, junto com os mais novos.

-Eles já acabaram com a sala! – digo olhando para os garotos, Dylan e Benjamin, conversando em um canto.

-Você tem que conversar com ela, Emilly! – termino de ajeitar os pratos e olho para a menina. – Você não pode ser fria assim, ela quer se aproximar de você.

-Ela deveria ter pensado nisso antes de sair da minha vida. – digo e dou as costas para a ruiva e começo a caminhar pela casa, indo em direção a porta, saindo da mesma e seguindo para a parte dos fundos da casa.

Estava extremamente frio lá fora, por conta da emoção, me esqueci completamente que nevava, mas não voltaria. Fico olhando para as estrelas, sentindo como se elas pudessem me acolher e abraçar meu corpo, que no momento eu mesma me abraçava.

Sinto um casaco recair sobre meus ombros e eu olho rapidamente, vendo a mulher de minha altura, com seus cabelos negros soltos, infelizmente eu havia puxado muito ela, éramos um tanto parecidas, tirando meus olhos azuis, que puxei do meu pai.

-Ainda não tivemos tempo de conversar, desde que afirmei que era sua mãe. – a mulher diz baixo, ela parecia arrependida de algo, mas isso não torna as atitudes dela menores. – Sei que não quer saber de mim, não quer nem saber o motivo de ter ido embora, seu pai me falou que tentou conversar com você.

-O que você fez não tem perdão! – digo me exaltando, não queria ouvir aquelas histórias idiotas.

-Só me escuta, não vou pedir para me abraçar, pra esquecer o que eu fiz. Eu sei que errei, errei muito com você, com o seu pai... Com toda a minha família, mas, principalmente, com a minha pequena Ellen... – ela disse me olhando, mas desviei, olhando novamente para o céu. -Sua gravidez não foi fácil sabia? Eu tive que ficar em repouso absoluto depois dos seis meses, tive que abandonar tudo e viver sendo cuidada pela sua tia, que já tinha Benjamin.

Ela parou e me olhou, eu já havia cedido a história e prestava atenção nela, que deu um sorriso enquanto me olhava, como se tivesse feliz de ter minha atenção.

-Pouco tempo depois que você nasceu, mais ou menos uma semana, eu perdi meus pais... Eles estavam vindo para vê-la. – ela suspira fundo. – Eu nunca havia me sentido sua mãe, eu era uma estranha. Você me machucava, estar perto de você me machucava. Seu choro foi minha tortura por meses, mas, mesmo deixando você chorando por horas, por não conseguir te olhar, a primeira palavra que você disse foi "mama". – ela deu um sorriso, limpando as lágrimas. – Na época eu não sabia o que era, tive que largar minha faculdade, literalmente parar minha vida, para me dedicar a somente você. Eu tive depressão pós-parto, eu não aguentava olhar para você... Nossa, como eu te odiava.

Sei que não é algo que esperamos ouvir de nossa mãe, mas eu sentia a dor que ela tentava disfarçar, como se passasse por tudo aquilo de novo.

-Seu pai, depois do seu primeiro aniversário, resolveu te afastar de mim. Foi a melhor coisa, pois ele sabia que eu não tinha capacidade de cuidar de você... Principalmente depois que comecei a beber. – ela me olhou. – Não foi fácil, se passou anos. Tudo o que sentia ia se multiplicando, assim como as garrafas jogadas pela casa... Um dia, depois que você chegou da escola em seu primeiro dia, animada, queria sua mãe ao seu lado, mas eu te bati... Eu não queria você perto de mim... Quase fui presa naquele dia, mas seu pai chegou e acalmou tudo, logo depois eu fui embora... Não falei nada, mas observei seu pai acolhendo você nos braços e te ninando, eu vi você assustada quando se referia a mim... Eu não queria aquilo, não queria que você me odiasse... Eu me lembrava de tantos sonhos quando eu e Jhosy ainda namorávamos, de ter nossa princesinha... Eu nunca servi para ser sua mãe, quase um ano depois eu voltei, já tinham se mudado. – ela tinha um olhar perdido entre as árvores do fundo do quintal. – Nesse tempo eu descobri sobre minha doença e me tratei, dizem que depressão não tem cura... Mas, depois de um tempo, eu estava pronta para voltar para vocês, cheguei a ir para os Estados Unidos, procurei vocês... Mas procurei no Texas, onde seu pai morava. E não foi para lá que ele te levou... Eu procurei tanto, quis tanto te encontrar minha menina... Só queria pedir desculpas por todos meus erros...

Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora