Capítulo 30

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Luanda caminhava sorrateiramente pelas ruas secundárias da cidade McCloud, esgueirando-se pelas paredes, fazendo o possível para não ser detectada. Ela tinha estado na cidade muito brevemente e tentava da melhor maneira possível voltar sobre seus passos, para tentar encontrar o lugar no qual ela sabia que mantinham Bronson como prisioneiro. Ela passou por um cavalo amarrado a um poste e por um momento, ela se virou e olhou para o horizonte, para o pôr do sol, para os campos. Ela queria mais do que qualquer coisa tomar o punhal em suas mãos e cortar a corda do cavalo, montá-lo e cavalgar para longe dali, para bem longe, muito longe. Ela queria cavalgar de volta para as Highlands e para a segurança de casa.

Mas ela sabia que não podia fazer isso; ela tinha um trabalho a fazer. Por mais que a família de Bronson fosse desprezível, ela ainda o amava e tinha de salvá-lo. Ela não poderia viver em paz consigo mesma se não fizesse isso.

Luanda mordeu o lábio e seguiu em frente. Ela traçou seu caminho através da multidão, enquanto descia as ruas sinuosas e estreitas, através de praças, passando por tavernas, prostíbulos e ruas cheias de lama e lixo, nas quais os cães corriam por todas as partes. Um rato passou correndo sobre seu pé descalço, ela chutou-o e reteve o grito no último segundo. Ela tinha de ser forte. Ela só rezava para que seu marido ainda estivesse vivo e para que ela pudesse encontrar uma maneira de sair dali para sempre.

Antes de ter sido arrastada para a masmorra, Luanda tinha visto Bronson ser amarrado, por ordem de seu próprio pai, na praça da cidade, para servir de exemplo público e ao mesmo tempo ser objeto de burla de todos; ela supunha que ele ainda estaria ali e corria por uma rua após outra, tentando se lembrar do caminho, desejando que estivesse indo na direção certa, enquanto seguia a multidão espessa. Luanda descobriu que as multidões sempre se reuniam em torno de um espetáculo de tortura e miséria humana.

Ouviu-se um grito animado de uma multidão distante e Luanda supôs que ela estava se aproximando do centro da cidade. Logo o grito se tornou mais audível e estridente, então ela sabia que estava chegando perto.

Ela caminhou rapidamente, tentando manter a cabeça baixa, esperando que ninguém reparasse nela. Ela passou pelo estande de uma velha, o qual exibia roupas variadas e quando a mulher virou-se para cuidar de seu cão, Luanda meteu a mão e pegou uma longa capa marrom.

Ela virou a esquina e rapidamente colocou a capa, cobrindo seu corpo frio e cobrindo o rosto.

Ela olhou para todos os lados, viu que ninguém tinha presenciado sua jogada e então se sentiu melhor. Ela enfiou o punhal que tinha roubado em sua cintura e seguiu em frente, esgueirando-se entre a multidão, sentindo que estava correndo contra o relógio. Era só uma questão de tempo até que eles descobrissem que ela tinha escapado e quando o isso acontecesse, todos os homens de McCloud estariam à procura dela.

Luanda dobrou mais uma rua, os gritos eram vez mais altos, logo, para seu alívio, ela viu a praça da cidade. Uma enorme multidão se apinhava ali, pululando ao redor do centro da praça; todos olhavam para cima, ela seguiu o olhar deles e ficou horrorizada ao ver, em cima de um cadafalso, o marido atado, com as pernas e os braços amarrados em uma enorme cruz. Se via que uma das mãos dele estava faltando. No lugar onde seu pai tinha cortado, havia agora apenas um toco carbonizado.

Bronson estava ali, com a cabeça baixa, seu corpo estava lânguido, a multidão atirava legumes podres nele e ele não podia fazer nada enquanto sofria todo o tipo de vexações.

Luanda corou de raiva ao ver o tratamento que ele recebia e se apressou para chegar à frente, desesperada para chegar mais perto e ver se ele ainda estava vivo. Do lugar onde ela estava não era possível saber.

Quando Luanda se aproximou, ela percebeu que ele levantou ligeiramente a cabeça, fazendo um movimento quase imperceptível na direção dela, como se talvez uma parte dele soubesse que ela estava ali. Seu coração disparou com alívio ao saber que ele ainda estava vivo. Havia esperança.

Um Grito de HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora