"Olha só
Moreno do cabelo enroladinho
Vê se olha com carinho pro nosso amor
Eu sei que é complicado amar tão devagarinho
E eu também tenho tanto medo
Eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando
Mas se a gente vai juntinho, vai bem
Eu não sei se você sabe, mas eu ando aqui tentando
E a gente tem o eterno amor de além"*
O evento no Facebook indicava o início da noite organizada pelo Kaká às 20h. Já passava das 19:45 e não tínhamos gelo formado nas formas. Colhi uma cesta transbordando limões e comecei a organizar as cachaças, copos, taças, açúcar refinado e tudo que me ajudaria a ser barman aquela noite. Enquanto Kaká organizava os equipamentos testava o som, olhava o microfone, o violão, as caixinhas de som, eu corria na cozinha cortando os limões na bancada, testando os sabores e experimentado minha principal especiaria na cozinha. Organizei os maracujás e laranjas pro suco daqueles que não quisessem se arriscar no meu drink alcoólico.
O tempo passou e as horas avançavam sem que eu pudesse notar. O relógio da sala indicava ser quase nove da noite, porém eu não escutava nenhum pio do lado de fora da casa. Cheguei até a porta e notei Kaká cabisbaixo, dedilhando as cordas do violão sem muita empolgação, enquanto olhava pro portão sem que a campainha não tocasse. Busquei dois copos de caipirinha para animar o garoto, que quando me viu saindo pela porta com as duas taças tentava me animar de volta com a canção que sabia que eu gostava
Se você quiser eu vou te dar um amor
Desses de cinema
Não vai te faltar carinho
Plano ou assunto ao longo do dia
Se você quiser eu largo tudo, vou pro mundo
Com você meu bem
Nessa nossa estrada só terá
Belas praias e cachoeiras** - cantava, vestindo a bermuda branca e a camiseta cinza clássicas.
Aqueles cachinhos negros voando e sendo desfeitos lentamente pelo vento, aquela letra sob voz e violão e todo aquele cenário me fizeram arrepiar. Por um segundo pensei "isso é pegadinha desse garoto, claro! Não tem show nenhum, não tem evento nenhum, ele não chamou ninguém! Tá me preparando um baita noite de declaração, de pedido de namoro! É isso!". Até que escutamos as primeiras batidas no portão. Kaká deixou o violão de lado e foi até lá receber as visitas. A cada centímetro aberto, via uma fila de carros que vinham em comitiva prestigiar o menino músico.
Eu achava que era impossível sentir tanta coisa ao mesmo tempo, mas aqueles poucos segundos me mostraram como tudo era possível dentro do coração e da mente humana. Sentia tristeza por perder uma potencial noite de declarações, de pedido de namoro, de romance a dois. Sentia culpa por ser egoísta, por desejar que ninguém mais viesse para que Kaká fosse apenas meu aquela noite. Sentia felicidade por ver como ele era querido, como era amado e como seus amigos se importavam com ele. Via que sua tristeza era nítida quando pensou que ninguém viria prestigiar sua estreia. Ao mesmo tempo eu o amava, o via feliz e ficava feliz, mas sentia vontade de ter uma noite que fosse apenas minha e dele.
Os amigos vieram juntos e iam cumprimentando Kaká um a um, com um abraço afetuoso, uma bagunçada no cabelo e gestos de carinho. Fiquei da varanda sem saber como entrar naquela cena, até que Kaká vinha me surpreender