Prefácio

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Sobre escrever:

Não há um propósito ou uma explicação cabível para as palavras que saem pelos meus dedos, seja no papel ou no bloco de notas. Drummond disse uma vez, ao ser perguntado qual seria a função prioritária de um poeta: "Necessariamente ele não tem a missão de corrigir o mundo, não creio que seja essa a missão do poeta. Será uma ilusão supor que a poesia pode contribuir para o direcionamento do mundo num sentido mais justo. Eu acho que a função do poeta é produzir emoção, é despertar no próximo um sentimento de beleza, de alegria, de tristeza - mas sobretudo um sentimento de comunhão com a vida."
Ah, Drummond! Sempre sabia do que falava. Não é que é isso mesmo? Escrever vai muito além de um propósito, de um objetivo. Para aquele que não escreve, por exemplo, é muito fácil dizer que vida rima com ferida, ou mesmo com despedida. Mas pra quem escreve, vai muito além disso: vida rima com tristeza, mas também com alegria. Rima com lágrimas, mas também com sorrisos. Rima com tudo, mas às vezes não rima com nada. Pra quem escreve, as palavras não precisam ter um sentido definido - elas só precisam fazer sentir.
Não diria que tudo que escrevo é sobre mim, mas diria sim que há pelo menos um pouco de mim em cada coisa que escrevo. Não me importa quantos lêem ou deixam de ler. Me importa que quem leu, sinta. Não me importa se eu vou perder meu tempo produzindo palavras - pra mim, não é perda de tempo. Me importa que produzir tais palavras tenha um impacto em quem leu e, principalmente, em mim. Pois essa é a verdade: não escrevo por você, escrevo por mim. Escrevo porque em cada pedaço do meu ser há algo que precisa ser dito, mas que pessoas talvez não entenderiam. Mas o papel - ou o bloco de notas -, sim.
Se vale a pena cada minuto dedicado a palavras que talvez ninguém leia? Bom, como disse Fernando Pessoa em Mar Português: "tudo vale a pena se a alma não é pequena"

Tempestade PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora