Acidente

212 7 2
                                    

Acordar na segunda de manhã foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz na vida, o despertador do celular tocava calmamente minha musica favorita enquanto eu simplesmente me afundava na cama querendo intimamente que se abrisse uma fenda enorme no chão e me engolisse para o infinito onde eu não precisasse passar por mais um primeiro dia de aula. 

   Minhas experiências anteriores neste tema eram as mais traumáticas possíveis, no jardim de infância eu fora a única que a mãe esqueceu na hora de ir embora, tive que ir com a diretora em seu carro para casa, ao chegar encontrei minha mãe fazendo o jantar, ela havia esquecido que eu tinha ido a escola e pensava que eu ainda estava brincando no quarto. Demorei meses para ir pra escola com calma novamente. 

   Já no primário no primeiro dia de aula enquanto passava pelo pátio que dava acesso ao refeitório um garoto do terceiro ano desastrado chutou a bola na minha cara e quebrou meu nariz. Não gosto de bolas até hoje e meu nariz sangra quando fico muito nervosa. 

   Ao lembrar esse triste fato, levei minha mão ao nariz inconsciente só pra me certificar se ele estava ainda no meio do meu rosto ou sangrando. 

   -esta acordada? - arrisquei a chamar Kitty, sabia que minha amiga estava na cama ao lado talvez com os mesmo sentimentos que eu. 

   -sim, tem certeza que é hoje? - sua voz saiu mais rouca do que o normal. 

   Para Kitty o primeiro dia de aula com certeza seria diferente do meu, para ela era uma questão de começar a caminhar no sonho de ser psicóloga, já pra mim talvez caminhar de encontro a algum destino, algo desconhecido novo ou caminhar pra lugar nenhum, de qualquer forma eu sabia que tinha que ir. 

  Dei mais uma espreguiçada pra garantir que minha cama era realmente confortável e me obriguei a ficar em pé, nosso apartamento era pequeno mas era o suficiente pra nos duas, não haviam paredes demarcando os cômodos, o mais distante da cozinha uns poucos passos ficavam as duas camas de ferro antigas, eram da Kitty e da sua irmã mais nova Sarah, quando ela ainda vivia com os pais, quando saiu de casa Kitty levou consigo as camas e a mãe dela comprou uma nova pra sua irmã com uma espécie de gaveta embaixo que servia como outra cama, para quando ela fosse dormir na casa dos pais. 

Cada uma de nós tinha duas portas do grande guarda roupas que minha avó nos deu e servia de parede para a sala, eu havia pintado atrás dele de tinta branca e colado adesivos que imitavam uma arvore desfolhando o que fez com que parecesse verdadeiramente uma parede se olhado da sala, as portas do meio ficaram para casacos de frio e travesseiros e cobertores, duas escrivaninhas ficavam onde chamávamos de sala, lá também ficava um pequeno móvel branco com uma tv menor ainda, com um sofá de tecido muito macio cor de creme a sua frete, o tapete nos duas compramos depois de muito brigar quanto à cor Kitty queria vermelho e eu queria preto, em fim decidimos por marrom. 

   A área da cozinha não ganhou praticamente atenção nenhuma já que os móveis já estavam ali quando alugamos uma pia antiga pequena com um balcão para panelas embaixo e gavetas na lateral, na parede oposta ficava um armário que ia do chão quase ao teto.  

    O banheiro ficava no ultimo quadrante e fazia divisa com o quarto ele também não fora modificado continuava com o horrendo azulejo verde antigo e a banheira embaixo do chuveiro.  

   Fui primeiro tomar banho, pois eu já havia deixado a roupa que usaria separada ontem à noite, enquanto isso Kitty se descabelava sem saber o que vestir. Tomei um banho rápido só pra acordar a agua quente foi um melhor despertador do que eu pensava pude senti-la levando todo o medo consigo. Como tinha lavado os cabelos no dia anterior não vi necessidade de fazê-lo novamente. Sai do banho e parei em frente ao espelho da pia. 

LUX MEA o renascimentoWhere stories live. Discover now