seven

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Três dias antes

— Oh, sim. Hoje é o dia que esse inferno ganha mais Demônios. — Jennie comentou enquanto cruzava os braços encarando todo o comprimento longo da mesa comprida dos novatos. Cheng parou de fazer seu dever e deu total atenção à amiga, posicionando o caderno e a caneta ao lado das louças de porcelana do café da manhã. — O que será que se passa na cabeça de Yokoyama agora que ela está observando todas essas almas puras prontinhas para serem corrompidas com tudo isso que eles chamam de "Caminho da Verdade"? — Indagou observando-a sorrir falsamente ao lado do diretor na mesa dos coordenadores.

— Está se tornando totalmente o oposto do que as freiras ensinam. Sabe que essas palavras são proibidas, Jennie. Não as fale, é incorreto e traz maldade. Não quero que as coisas ruins te atinjam. — Cheng articulou preocupada, falando sussurrado assim que o diretor pediu silencio para a oração de encerramento da primeira refeição.

— Coisas ruins já acontecem comigo, Cheng. Ao contrário do que elas dizem, a palavra não tem tanto poder assim. Se tivesse as coisas não seriam como são. — Jennie sorriu, afim de equilibrar o desanimo das palavras com um sorriso.

Jennie sempre detestou o jeito como contava piadas ou como fazia descaso em circunstâncias críticas, mas era tudo uma tentativa de se sentir melhor, tirar sarro da própria situação a ajudava a ficar no controle. Mas só funcionava por um curto período de tempo.

— Não segue esse caminho, Jennie, é perigoso.

E ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque o senhor está comigo. — Justificou mantendo seu sorriso. Cheng apenas negou com a cabeça, mas não conseguiu conter um sorriso descrente ao evidenciar o comportamento descontraído de Jennie.

— Peço que minha querida neta, Jennie Kim, faça as honras. Dando boas-vindas ao novo ano e às novas garotas que se juntarão a nós por meio das graças. — A voz branda de seu avô para os demais era apenas um pedido carinhoso e inofensivo, algo que Jennie deveria se orgulhar. Mas para Jennie soava mais como uma exigência.

Jennie empurrou sua cadeira com as costas das coxas e fechou suas mãos suadas, sem conseguir tirar os olhos de Yokoyama, que lhe encarava com desprezo. Desafiando-a e já pressupondo que Jennie falharia na tarefa obrigatória posta por ela.










— Concluímos mais um ano. Tivemos um tempo abençoado. Creio que seu comportamento melhorou bastante. Está perfeitamente do jeito que seu avô sempre quis e da maneira que me agrada e agradará os demais. Mas eu sei o que se passa na sua cabeça, criança. Mesmo com um comportamento exemplar, você continua pensando sujeiras. Por tanto, nosso tratamento irá prosseguir, até voltar à sua pureza.

Eu entendo, senhora Yokoyama. Declarou Jennie, de cabeça baixa, incapaz de encará-la por medo de seus olhos.

Vamos entrar em um estágio novo. E temos uma nova regra. Sei que você é proibida de me olhar nos olhos, mas agora, sempre que me ver precisa manter seus olhos nos meus. Nunca desvie.

Sim senhora. Jennie murmurou. Mas precisou de forças para se manter em pé quando escutou o estalo da palma da mão de Yokoyama em seu rosto e a ardência se espalhar de imediato pela extensão de sua bochecha.

É para começar agora. Sua voz saiu com força, como se estivesse se arrastando violentamente através dos dentes cerrados na tentativa de conter a raiva.

Então lutou para erguer o seu rosto. Seu coração parecia que queria correr o mais rápido possível da sua caixa torácica. Sentiu todo o seu corpo ficar tenso e, se fosse possível, o medo aparentava ter crescido mais ainda. Uma dor incômoda se instalou em baixo de seu queixo pelo fato de Jennie reprimir o choro que ameaçava vir.

betting everything [Game Over]Onde histórias criam vida. Descubra agora