thirty six

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Point Of View: Lalisa Manoban

Minhas preces não foram atendidas, o prédio escolar parecia se alongar em direção ao céu e nós estávamos praticamente estáticos enquanto corríamos, numa esteira infernal. Numa hora tínhamos todos começado a bater os dentes, sem saber se era de frio ou de medo. Paramos com as lanternas clareando os rostos.

— Não pode ser. Não dá pra ignorar mais do que isso, essa merda não acaba. — Digo, vendo todos assentirem, com exceção de Park Chaeyoung que ainda continua me encarando com ódio assassino, os braços segurados firmemente por Jackson. Demoro, mas descolo meus olhos dos seus para Jennie. — Vem cá. — A chamo, subitamente tendo uma ideia pouco inovadora. Ela me segue até a extremidade, embaixo das aberturas no topo da parede, provavelmente construída dessa forma para circulação de ar ambiente por causa da ausência de um aquecedor ou ar condicionado no verão. — Ponha a cabeça ali, conte quantos andares até o térreo.

Faço-lhe um estribo com as mãos para ajudá-la a subir. Jennie agarra meus ombros como apoio e posiciona o pé direito em minhas mãos, impulsiona logo na primeira tentativa, alcançando a borda com sucesso. Elevo a mão afim de deixar mais alto o seu corpo. Com cuidado insere a cabeça e olha sobre a passagem. Poucos segundos de tensão se passam até que ela volte e me dê sinal para abaixá-la.

Com olhos preocupados e rosto ansioso, hesita, quase desiste de falar, mas diz:

— E-Estamos no 9° andar.

Todos chocados. Jisoo e Jackson parecem prestes a desmaiar de mal-estar. Então qual a lógica que precisamos entender para escapar? Penso em algo, mas o raciocínio é tão simples que quase não considero. Porém com toda a falta de ideias resolvo falar.

Vamos subir. — Digo, lembrando instantaneamente do que Park tinha dito momentos atrás, me preparando para explicar assim que recebo os olhares de perplexidade dos envolvidos que não entendem a princípio onde eu quero chegar. — É meio bobo, acho eu. — Confesso. Então olho para trás, onde nada consigo enxergar além de um escuro quase impenetrável. Respiro, o ar era denso. Eu tinha medo de retroceder, subir ao invés de descer. Pelo menos descer as escadas chegava a me entregar um sentimento sutil de escape e liberdade, onde eu sabia que não demorando muito alcançaria lá fora. Correr para a saída era mais confortável e menos aterrorizante do que precisar entrar de corpo inteiro numa direção que mentalmente só lhe levaria para mais longe. Talvez fosse essa a pegadinha. Ir contra o psicológico era o sentido da coisa.

— Se subirmos vamos causar o efeito contrário, desse jeito chegaremos no fim. Se descer está nos levando pra longe, vamos subir. — Jisoo deduz. Baixo os ombros, estava estranhamente medrosa, mas nunca demonstraria, assinto de modo frenético. Sinto como se houvesse substituído a água do corpo por energético porque o medo chega em grande escala. Minha pele se torna dura quase como uma crosta com a arrepiada que sinto ao que damos o primeiro passo em direção contrária.

Lembro de como quando precariamente tenho pesadelos e acordo no calmo noturno do quarto, em como o escuro parece tão ameaçador nesses momentos, como o cobertor é uma arma consolável para isso. E por conseguinte também venho a pensar em como no dia posterior o sentimento de assombro que recorda ter tido na noite parece tão bobo. O que estava sentindo agora nada se comparava, a dosagem era muito maior, o pânico brotava em gotas de suor como uma pia mal fechada que deixa escapar resquícios de água da extremidade; se juntando, crescendo, então inchando, ficando pesadas e enfim caído. Plin. Sem parar. Até formar uma poça. Porque enquanto estivéssemos ali era muito fácil deslizar por uma fissura e cair no erro. De repente estávamos sujeitos a acontecimentos inevitáveis e sem sentido que claramente podiam nos matar. E um, de vários outros que posso citar, é o vulto em forma de assobio que passa rapidamente entre nós, trazendo um vento de fazer as pernas bambearem de susto e eu jogo o braço para trás e alcanço Jennie, onde trago para perto de mim e volto a agarrar a mão. Qualquer coisa poderia estar esperando no início de cada corredor e ainda tínhamos mais 8 em frente, o que nas circunstâncias atuais em que meu cérebro mecanizava todos os possíveis acontecimentos com grande pessimismo significavam certeiramente: morte de crianças enfiadas onde não deveriam. Bem feito.

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