thirty five

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Point Of View: Lalisa Manoban

Cansada, sobrecarregada, assustada, preocupada. Mas eu sabia o quanto de inseguranças e aflições se acoplavam na mente confusa e triste de Jennie, não podia demonstrar e correr o risco de vê-la canalizar tudo isso para si mesma e vir a adoecer. Agora que a conquistei tenho o dever de fazê-la sentir-se bem e despreocupada na medida do possível. Por isso fiz a escolha de me manter conveniente, por causa dela. Mas enquanto andávamos cuidadosamente pelos corredores, não consegui pensar em nada que não fosse o sonho e as frases enigmáticas que ela deixou escapar. Os olhos cheios de suspense e o irrefutável medo da mínima possibilidade de voltar a pôr os pés no colégio interno. Sinto que existe um medo que nem ela mesma já viu. Possui medo do que não sabe, ou do que aparenta não lembrar.

Até que subitamente um barulho repetitivo, semelhante ao zumbido de um inseto, me despertou e finalmente me fizera perceber que meus companheiros de crime haviam parado de decorrer o corredor da ala 3, em silêncio, e inconscientemente eu também repetira seus comportamentos. Do ângulo em que minha cabeça se encontrava somente pude ver o chão da escola com o grande círculo iluminado que vinha da lanterna de Jisoo. Franzi o cenho. Ergui a cabeça. No mesmo instante identifiquei o motivo da pausa sentindo todos os pelos da nuca se eriçando ao perceber que o som do inseto era possivelmente a trilha sonora que acompanhava o zoom de uma câmera. Tremi.

Pensei que aqui não tivesse câmeras, Jackson. — Digo, baixo, cautelosa. Jennie segura firme em minha mão.

E não tem. — Responde ele, no mesmo tom. — Nunca teve. — Mas todos tinham escutado, todos tinham paralisado pelo mesmo motivo e todos tinham certeza. — Quantas vezes já entramos aqui anteriormente e nunca fomos pegos?

De repente, o longínquo som de click de uma câmera fotográfica, aparentando estar mais distante que o chirriado do zoom que nos fizera parar.

Eu não podia estar delirando. O incomodo nas costas ao saber que sou observada me consumia. A dúvida que corria em mente era se eram câmeras instaladas ou se havia mais alguém conosco.

Devemos ir. — Jackson sugere.

— Não. — Jisoo fala, assumindo o controle. — Aconteça o que acontecer, acho que podemos dar um jeito depois. Jackson pode acessar as imagens da câmera e apagar qualquer uma que nos comprometa, temos acesso a isso, seria fácil. — Assegura, e se vira, a primeira a se mexer, e eu me assusto com seu movimento porque tinha me dado conta que não éramos estátuas e podíamos nos mover, como se estivéssemos presos numa barreira imaginária e ela fosse a primeira a se libertar. Jisoo não tinha medo. — Devemos pegar Park Chaeyoung de uma vez e ir embora. Tenho certeza que mais ninguém está aqui.

E ninguém conhece a escola melhor que Kim Jisoo. Por isso seguimos com ela, mesmo que nossos instintos primitivos estivessem apelando rigorosamente, fazendo nossa respiração se acelerar e o coração aumentar os batimentos, era medo, vontade de correr para longe do possível perigo que se escondia no escuro sufocante dos armários escolares que pareciam não acabar mais, já que era tudo o que a luz da lanterna nos revelava. Mas era uma grande bobagem, afinal, não existem bichos grandes, peludos e com garras no escuro. Não há de haver absolutamente nada no escuro, mas mesmo assim odiara o fato de os geradores da escola serem totalmente desligados sempre às 19:00, que era quando as atividades diárias encerravam oficialmente, e agora eram mais de meia-noite e eu estava — quase, bem quase mesmo. — me borrando.

Subo a mão para afastar a franja dos olhos e aproveito para passá-la na nuca, esfregando a pele do pescoço afim de espantar os calafrios e deixá-la lisa novamente. Suava de tanto tentar conter o nervosismo, alternadamente com calor e com frio. Jennie não havia dado sinal de que reparara na minha palma da mão suada presa a sua, ou do meu aperto demasiadamente intenso, porque talvez também estivesse sentindo o calor e o frio, penso eu, que também estivesse tão amedrontada quanto eu e também apertava os meus dedos assim como eu aos seus.

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