Abandonado

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Os prédios deixavam a cidade tão obscura quanto a própria noite.

O velho ranzinza caminhava pela escuridão instigante com seus passos leves e suaves. Seus sapatos de couro marrom tão confortáveis aliviavam as dores nos calcanhares que surgiam devido às suas grandes caminhadas. Os dedos das mãos ainda eram suas partes mais firmes.

As casas de Londres tinham suas peculiaridades, mas não lhe faziam esquecer do seu país natal. Os Estados Unidos era uma memoria que vagava longínqua no espaço da sua mente. Havia sofrido muito no tempo que passou lá.

Sempre andava com suas armas impostas na bainha, nos bolsos e também dentro do sapato do pé esquerdo. Nunca andava despreparado. Não havia como saber o momento que um Noturno tentaria ataca-lo.

O seu bairro era pacífico, e ele agradecia já que era isso que esteve procurando quando saiu da América. A vizinha com seus cabelos grisalhos esvoaçando em seu rosto estava sentada em uma cadeira de frente para a janela de sua casa. Estava sempre ali, observando o velho que tanto temia. Ele sabia que a velha desconfiava de quem ou do que ele era. Ela não era burra. Mas os outros vizinhos achavam que era.

Se aproximou da porta de sua casa e estendeu a mão para abrir. Foi então que sentiu um sopro em seu pescoço, um ar quente invadindo sua pele o fazendo estremecer. Se virou rapidamente enquanto agarrava a faca do bolso dianteiro e deixou empunhada. A sua frente haviam três figuras, eram todos praticamente do mesmo tamanho. Mas seus rostos não estavam a vista já que estavam usando capuzes pretos. Um deles trazia um saco preto curioso nas mãos, o segurava firmemente como se sua vida depende -se disso . O velho podia ter atacado de antemão , dando o primeiro golpe, mas não se sentiu ameaçado. Sabia que não eram perigosos. Ainda.

- Quem são vocês? - perguntou

Com um olhar de esguelha percebeu que a velha ainda encarava curiosa para a frente de sua casa. Seus olhos possuíam a destreza de um predador de olho na sua caça. As figuras a sua frente continuaram imóveis por um breve momento, e depois, com mãos cautelosas retiraram seus capuzes.

Duas garotas e um garoto. Cada qual possuíam características distintas, incluindo as roupas, mas o olhar…

Aqueles olhares estavam cheios de fúria e de sede, sede de sangue. Almas carregadas de perdas e dor.

O garoto então jogou o saco no chão, bem diante dos pés do velho que não desviou o olhar. O baque era como uma bola de carne batendo nas pedras. Ele já imaginava o que havia ali dentro, só não sabia quem havia sido agora.

O velho se abaixou e abriu o saco preto. Sua feição não mudou quando encontrou uma cabeça humana decepada ali dentro. O sangue ainda fresco. Era um conhecido seu, um homem cujo proposito sempre fora humilha-lo por ser um homem solitário e sozinho. E cujo um dia tentou rouba -lo em uma das estalagens que visitava.

O homem levantou os olhos e encarou o garoto que continuava encarando-o , mas agora seu olhar era pesaroso, como se precisasse que o velho acreditasse em si.

- Meu nome é Henry - disse o garoto com a voz estridente - e aqui está sua oferenda. Precisamos da sua ajuda.

Um ano antes

A carruagem sempre dava solavancos, e a bunda de Henry doía sem parar. Mas isso não lhe tirava da cabeça a luta que haviam deixado para trás. Fugiram da batalha como ratos fogem no momento que os gatos aparecem. Todo aquele sangue derramado no chão em meio a corpos e a pessoas lutando com bravura.

Welber

Ele havia ficado para trás. Henry sentia seu corpo tremer toda vez que pensava no garoto sozinho coordenando uma batalha de amigos contra amigos. Marcus havia jogado sua carta chave quando enviou aquele exercito. Será que a batalha havia acabado? Será que todos estavam mortos?

As Jóias Negras - Destinos (3° Livro)Onde histórias criam vida. Descubra agora