Prólogo

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Quando meu assistente me avisou, uma semana antes, que eu daria uma palestra naquela cidade, um turbilhão de lembranças me rondou. Não consegui mais me concentrar nas minhas tarefas. Agora passo o dia inteiro olhando a sua página no Facebook.

Reservada, como sempre. Quase não tem fotos publicadas. O cabelo agora é castanho-escuro novamente, em um corte Chanel que não combinava com ela. Seus olhos azuis me deixam arrepiado, e o rosto não envelheceu nenhum pouco. O sorriso ainda o mesmo.

Professora de literatura. Filadélfia, Estados Unidos.

Apenas mais duas fotos de perfil mudada ao longo dos anos.

Apenas isso contém seu perfil. Provavelmente é privado para quem não está na sua lista de amigos, e a última coisa que eu faria seria mandar uma solicitação - certamente, ela me bloquearia. Eu havia criado alguns perfis falsos para enviar solicitação, mas ela recusou todos. Eu já devia suspeitar, desconfiada do jeito que ela era.

Criou até um site para divulgar seu trabalho, mas também não tinha as informações que eu buscava. Suas informações pessoais.

Desço o botão de rolar do mouse, em busca de alguma informação pessoal. Não ouço falar de dela há anos. Há um breve texto no final do site, bem escrito em sua língua que hoje já entendo.

Então agora ela gosta de gatos e seu hobby preferido, depois de escrever, é passear pela Old City com os gatos. Só isso. Reservada até demais. Eu preciso de mais informações sobre ela.

Anoto o endereço dessa Old City no celular e volto para a galeria de fotos no Facebook. A primeira postada é dela recebendo algum prêmio e dá para ver seu corpo pelo vestido preto, justo, que está vestida. Seu corpo sempre foi escultural, nem o tempo mudou isso. O decote do vestido evidenciou seus seios. Não consigo evitar de sentir coisas que há muito tempo não sentia, mas, por incrível que pareça, a sensação é a mesma. Meu peito aperta um pouco. Ela continua linda, como sempre. Meu desejo por ela também não mudou e meu amigo aqui embaixo já começou a dar seus sinais.

Olho ao redor, apesar de estar sozinho em meu escritório. Olho novamente para seus lábios e lembro do que eles faziam comigo e não consigo me conter. Preciso encontrá-la. Abro o zíper da calça e simplesmente não consigo parar de imaginar o que faria se realmente conseguisse vê-la.

De repente, o telefone em cima da minha mesa toca e eu dou um pulo. Felizmente não era ninguém abrindo a porta e me pegando no flagra. Olho novamente para a foto na tela do computador, sabendo que arranjaria um jeito de terminar com isso mais tarde. Sinto-me adolescente outra vez e sorrio.

Quando atendo, escuto a voz de Caleb, meu assistente, do outro lado da linha:

- Raphael, nós precisamos sair em trinta minutos. Ah, e o seu pai me ligou pedindo para você transferir dinheiro para a conta dele. De novo.

Eu mal podia esperar para embarcar logo naquele avião, e nem meu pai alcoólatra iria apagar meu dia.

- Espere-me com o carro no estacionamento - digo. - Diga a ele que faço a transferência ainda hoje.

- Certo. Não se atrase.

Eu só preciso fazer uma coisa antes, penso e desligo. Perco-me novamente nos delírios dos pensamentos.

Minha história não pode ser resumida em duas ou três páginas. Quer dizer, até antes de eu completar 17 anos, podia. Era apenas festas, garotas e bebida. Eu nunca havia presenciado o que era passar por problemas de verdade na vida. Meus pais eram ricos e eu tinha tudo o que queria. Nunca precisei de algo, muito menos de alguém.

Se você gosta de clichês, esta é a típica história de um garoto que conheceu alguém que o fez repensar no que valia ou não a pena e que também ensinou que as pessoas podem realmente mudar. Minha história é basicamente sobre um adolescente que encontrou o amor da sua vida, mas o final dessa história é bem mais complicado do que parece.

Deixe-me entrar, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora