Capítulo 18

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Já havia se passado pouco mais de um mês que as aulas haviam começado, e Alice ainda não tinha tido muito contato com ninguém da escola. Eu estava me sentindo muito feliz por ser o primeiro a conseguir isso.

Eu passei a noite inteira pensando em como meus amigos reagiriam a isso. No primeiro dia que chegamos juntos à escola, fomos motivo de fofoca o dia inteiro. Ela, indiferente como sempre, pareceu nem se importar; já eu, tive que dizer não estou dormindo com ela várias vezes a várias pessoas.

Ninguém gostava de Alice, então eu não sabia como iriam me tratar quando vissem que eu estava andando com ela. Naquela época, eu me importava muito com minha reputação. Eu era amigo de todos – dificilmente não conhecia alguém.

Com esse nervosismo todo, acordei mais cedo que o previsto na segunda-feira. Nem minha mãe havia acordado ainda. Tomei apenas alguns goles do suco que tinha na geladeira, fiz minha higiene e estava saindo quando ela acordou. Coçando os olhos e com o cabelo desgrenhado, ela disse:

– Eu já ia acordar você – Desnorteada ainda pelo sono, esfregou os olhos mais uma vez e, ao me ver de mochila nas costas prestes a sair pela porta, perguntou: – O que houve?

Eu tinha que sair dali o mais rápido possível para evitar perguntas.

– Marquei de me encontrar lá embaixo com Alice – Ao ouvir minha resposta, o sono dela se foi. Sua boca se contorceu em uma linha de reprovação e eu tratei de dizer: – Tchau, mãe! Amo você! – E saí pela porta.

Estava trinta minutos adiantado. Esperei Alice sentado na área de lazer do prédio. O suor já começava a pingar na minha testa. Marcamos às 6:50h, e ela foi extremamente pontual. Estava devidamente uniformizada, o cabelo preso em seu coque habitual e, pela primeira vez, sorriu ao me ver. Sorri de volta, feliz por notar sua mudança, e ela abaixou a cabeça, envergonhada.

– Você está sorrindo – fui o primeiro a falar, surpreso.

Ela levantou o rosto e percebi que seus olhos brilhavam.

– Digamos que você serve para alguma coisa.

– Minhas aulas não foram tão ruins assim, afinal?

Ela continuou sorrindo, embora ainda estivesse tímida. Não era um sorriso forçado. Era... espontâneo e ela ficava irradiante. Sem maquiagem alguma e ainda com cara de sono, não pude deixar de notar o quão perfeita ela era. Sua beleza era natural e pura. A maioria das garotas da escola iam cheias de maquiagem, mas Alice não precisava disso.

Enquanto ela me olhava, foi impossível não perceber que seus olhos – aqueles gloriosos olhos azuis – possuíam alguma coisa hipnotizante. Era quase como uma droga – a tentação de observá-los era tremenda. Eu sabia que, no fundo, havia uma história esquecida, um passado disposto a ficar para trás.

Alice desviou o olhar, o rosto enrubescendo.

– Vamos? – perguntei, apontando em direção à rua.

Ela pigarreou.

– Vamos – respondeu, seguindo-me em direção a porta. – Espero que seus amigos me tratem bem.

Eu também estava preocupado com isso, mas não deixei ela saber.

– Eles vão – Era o que eu esperava. – Eles são legais.

Seguimos para o metrô sem conversar muito, mas eu estava apreciando cada momento ao seu lado. Como ela dissera, nunca havia feito isso. Não consegui pensar em nada para dizer – outra coisa que eu odiava quando estava perto dela –, então foi um trajeto silencioso.

Andar com Alice em direção a escola foi atordoante; todo mundo olhava. Leandro iria me matar.

– Todos estão olhando – sussurrou ela, enquanto andávamos pelo pátio.

Deixe-me entrar, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora