Capítulo 17

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Assim que ela abriu a porta, sem esperar que ela falasse algo, eu disse:

– Desculpe-me por ontem. Eu não conheço sua história e foi muita idiotice da minha parte falar o que não devia. Eu só... fico muito confuso e nervoso quando estou perto de você. Dê-me uma chance para me redimir. Eu trouxe as atividades que você perdeu na escola esta semana que faltou. – Discurso este que criei minutos antes de bater na porta.

Ela esfregou os olhos.

– São nove horas da manhã.

– Desculpe-me – eu disse novamente.

Alice olhou para a mochila em minha costa, depois para mim e, por fim, esboçou um sorriso estonteante.

– Entre.

Ela pediu para eu esperar enquanto tomava banho. Coloquei as coisas em cima do sofá e lá fiquei esperando, perguntando-me quantas vezes eu já havia feito aquilo por uma menina – eu sabia que aquela era a única. Estaria eu sendo muito bajulador? Àquela altura eu não me importava – apenas queria estar perto dela.

Enquanto Alice estava ausente, vasculhei o apartamento em busca de algo que provasse que ela era realmente estranha. Eu não sabia bem o que estava procurando, mas acabei não encontrando nada. Só encontrei coisas comuns. Na geladeira, uma garrafa de água, algumas frutas, ovos e resto de comidas em depósitos. Na sala, apenas uma mesa com jarros de flores e um sofá de veludo. Tudo aparentemente normal.

Tratei de não demorar em minha busca, pois, se Alice me visse, eu estaria ferrado e toda aquela tentativa de me redimir seria em vão. Quando ela apareceu, meu queixo caiu.

Alice usava um short jeans de cintura alta, exibindo mais uma vez suas lindas pernas, e uma blusa de cetim branca. O cabelo loiro estava solto em camadas e percebi que ela havia passado um pouco de batom nos lábios. Aquilo tudo era para mim ou ela ficava habitualmente assim em casa? De qualquer forma, eu amei vê-la daquele jeito. Todo o meu sangue concentrou-se entre minhas pernas. Coloquei a mão em cima para disfarçar.

– Você está linda – Minha voz não passou de um sussurro e a frase saiu sem querer.

– Obrigada, Raphael – ela disse com um sorriso.

Foi a primeira vez que vi Alice agradecer alguém. Mais uma primeira vez comigo.

Sentamo-nos na mesa da sala para que ela anotasse tudo o que havia perdido. Ela tinha dificuldade em matérias de exatas, e eu ajudei-a bastante. Não pude deixar de notar que ela estava à vontade com minha presença. Passamos a manhã inteira estudando e ela me garantiu que iria amanhã para a escola, pois havia perdido muito conteúdo. Felizmente, tirei todas as suas dúvidas.

Alice disse mais uma vez que ninguém gostava dela e que ela queria mudar isso. Eu disse que a ajudaria, no entanto, ela também tinha que colaborar. Quando perguntei por que ela havia mudado de ideia, ela deu de ombros e disse:

– É a única forma de as pessoas pararem de achar que sou estranha.

Naquele dia, não a interroguei. Deixei-a livre para falar quando quisesse.

Depois dos estudos, ela me perguntou como eu a ajudaria e eu meio que comecei uma aula de bons modos. Foi estranho, porque parecia que eu estava educando uma criança. Disse a ela que devia dar bom dia quando chegasse à sala e passar a sorrir mais para as pessoas. O fato de ela estar disposta a mudar me animou, pois no fundo eu sabia que tudo isso se devia à minha insistência. Eu sempre soube que, por trás de toda aquela armadura, havia uma menina doce e feliz.

Já era quase uma hora da tarde quando eu disse que tinha que ir embora. Minha mãe devia estar desesperada procurando por mim. Esperei que Alice me convidasse para almoçar com ela, apesar de eu não saber bem o que iria comer (restos de comida da geladeira?), mas ela apenas disse:

Deixe-me entrar, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora